Há ideias tão simples, tão simples, que a primeira vez que temos contacto com elas, é impossível escapar ao pensamento: como é que ninguém pensou nisto antes? Foi o que nos aconteceu ainda em pleno Lisboa Games Week, quando nos foi apresentado o WonderCover, uma ideia bem portuguesa da Magnética, uma startup sediada em Leiria.

O “problema” que deu origem ao WonderCover é simples (bem avisámos que o era): em jogos de festa que requerem esconder informação dos restantes jogadores (como quando jogamos às cartas), como é que o podemos fazer a partir de um tablet partilhado por todos? Como é que depois de um piquenique no campo e, à falta de cartas, podemos usar o nosso iPad para jogar a algo tão corriqueiro como o jogo da Sueca?

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Para perguntas simples, normalmente respostas simples são suficientes e, perante a inexistência de jogos clássicos traduzidos para videojogo, como o “Peixinho” e o “Kemps”, a equipa da Magnética encontrou uma solução (simples): criar uns escudos/balizas universais para tablets Android ou iPad que permitam a um jogador esconder as cartas que tem na “mão”.

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WonderCover é, acima de tudo, uma solução familiar para a realidade contemporânea. É verdade que a solução mais básica para este caso seria jogar com o baralho de cartas propriamente dito, mas reconhecemos que nos dias de hoje é muito mais provável uma família deslocar-se para férias com um iPad do que com um baralho na mala. Circunstâncias da evolução social, que o WonderCover veio reconhecer como uma oportunidade de negócio e de reinvenção dos jogos clássicos.

Para quem tem filhos pequenos em casa sabe o quão irrealista é, nos dias de hoje, pegar num baralho de cartas e ensinar jogos simples como o “Peixinho”, esse verdadeiro sifão de tempo que nos preencheu tardes infindáveis nas férias de verão. É difícil não só pela resistência das gerações nascidas em plena era digital, que vão tendo ainda algum apelo com a complexidade e diversidade de um jogo de tabuleiro, mas a quem o fator quase elementar dos baralhos de cartas dificilmente vai conquistar.

O “problema” não é apenas a falta de apetência dos mais novos em pegar num baralho, há uma gigantesca quota parte de “culpa” de várias gerações de adultos. Estamos cada vez mais embrenhados nas linguagens digitais, a simplicidade do baralho de cartas francês já pouco ou nada apela.

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Os diversos jogos clássicos de download gratuitos para serem jogados com o WonderCover vêm trazer essa janela de oportunidade de manter viva a “Sueca”, as “Copas”, o “Presidente” e o “Peixinho”, entre outras adaptações que a Magnética vai trazendo para as lojas de apps. Com um visual colorido e animações divertidas e apelativas para os mais pequenos, o WonderCover apresenta-se como uma das melhores possibilidades de sentar a família em torno de um tablet, dos mais pequenos (a partir dos 3 anos de idade) aos pais e avós.

O WonderCover é uma ideia quase “básica”, assente em memórias de dias de diversão com jogos também eles, lá está, simples. Mas a grande virtude da Magnética foi ter construído um ponto de encontro em torno de um objeto que não foi concebido a priori para a partilha: o tablet. É, sem dúvida, uma boa prenda para a família, para carregar no bolso (de tão pequeno que é) e para unir a família e amigos a jogar os jogos de sempre, mas de uma forma diferente.

Ricardo Correia, Rubber Chicken