O Governo italiano deverá reunir-se ao final da tarde para discutir o plano para os resgates aos bancos do país, entre elas a mais que esperada nacionalização do histórico banco Monte dei Paschi di Siena, que na quarta-feira falhou o aumento de capital no mercado.

O processo de recapitalização dos bancos italianos tem vindo a arrastar-se, de forma mais pronunciada nos últimos meses, em parte devido á dificuldades dos governantes italianos em convencerem a Comissão Europeia a não considerarem um eventual apoio do Estado como ajuda de Estado, ou seja, com impacto no défice orçamental.

No entanto, o resultado da operação no mercado do Monte dei Paschi di Siena, que tentava por via privada aumentar o seu capital, precipitou uma solução, cujo desenho deverá começar a ser mais evidente depois da noite de hoje.

Segundo a imprensa internacional, que cita um responsável italiano não identificado, o governo italiano deverá reunir-se em Conselho de Ministros ao final da tarde, pelas 19h30, já depois de fechados os mercados, para discutir um decreto-lei com a forma como será feita a intervenção nos bancos.

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O decreto-lei em causa deverá criar um fundo com 20 mil milhões de euros para apoiar os bancos italianos que não consigam os investidores privados a investirem o capital necessário para que estes bancos cumpram os rácios mínimos de capital exigidos pela regulação europeia. O governo já pode fazer uso deste dinheiro porque o Parlamento italiano aprovou esta quarta-feira um aumento exatamente em 20 mil milhões de euros do endividamento do Estado para apoiar os bancos italianos.

O governo não quer isolar nenhum banco ou virar os holofotes para aqueles em maiores dificuldades, criando assim mais problemas, e por essa razão não irá colocar na lei o nome de nenhum banco em particular, nem do Monte dei Paschi di Siena.

O decreto-lei deve prever ainda a intervenção em quatro bancos que foram alvo de resolução no ano passado, a transformação em créditos fiscais dos ativos por impostos diferidos e deverá aplicar-se às caixas económicas, mas apenas por um período de seis meses.

O mesmo responsável adiantou ainda que a União Europeia já terá aprovado a solução que o governo irá discutir esta tarde.

Banco mais antigo do mundo em risco de colapso

Depois de meses de vai-vem sobre o que seria a solução para o problema da banca italiana, o Monte dei Paschi di Siena precipitou a solução. O banco tinha até ao final do ano para aumentar o seu capital, mas pediu ao Banco Central Europeu mais três semanas para montar uma operação de aumento de capital com recurso exclusivamente a investidores privados.

O BCE, entendendo que mais três semanas não trariam qualquer diferença material à situação do banco, rejeitou o pedido, obrigando o banco a ir ao mercado numa operação que falhou espetacularmente. O banco precisava de cinco mil milhões e de um investidor de referência, mas conseguiu menos de 2,5 mil milhões de euros (melhor até que o esperado), mas falhou no objetivo chave de conseguir um investidor de referência.

Depois de sofrer uma fuga de depósitos massiva desde o início do ano, o Monte dei Paschi di Siena deixou de ter liquidez para aguentar 11 meses num cenário adverso, para apenas quatro meses, deixando as autoridades preocupadas com a solidez do banco.

O resultado que espera em Itália é o resgate do mais antigo dos bancos do mundo, que opera desde o século XV sem interrupções, mas que também já tinha recebido apoio do Estado italiano em 2013.

O governo italiano decidiu injetar 4,1 mil milhões de euros no Monte dei Paschi di Siena, numa altura em que o banco era investigado pela compra de um banco mais pequeno e pelo uso de vários produtos derivados para esconder perdas (um processo que vinha de 2008), e em que era acusado de mentir aos reguladores.