O novo filme de Martin Scorsese estreou-se esta sexta-feira, dia 23 de dezembro, nos Estados Unidos. Há 26 anos que o realizador tem trabalhado neste drama, baseado no romance de Shusake Endo (1966). A estreia em Portugal acontece a 19 de janeiro.

“Silence” conta a história de dois padres jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), que partem em missão para o Japão para procurar o seu mentor, o padre Cristóvão Ferreira (Liam Neeson), que terá renunciado à sua fé. O filme retrata a perseguição e tortura de que os cristãos eram vítimas no século XVII, no Japão.

[veja aqui o trailer oficial do filme:]

E foi a propósito da estreia em sala que surgiram as primeiras críticas de algumas das principais publicações americanas. Reunimos seis e fica o aviso — não há consenso:

The New York Times

Na crítica assinada por Manohla Dargis, há sempre uma sentimento duplo. Por um lado, de admiração face ao trabalho de Scorsese, por outro alguma desilusão: “A solenidade do filme é sedutora — tal como é a arte de Scorsese — especialmente à luz da trivialidade e do carácter primitivo de muitos filmes, mesmo que os momentos de grandeza acabem por revelar as fraquezas do filme de forma mais pronunciada.” A mesma ideia passa por aspectos mais particulares do filme: “‘Silence’ apresenta argumentos contra a ortodoxia, mas a sua mensagem revela-se pálida. Não tanto por culpa de Andrew Garfield mas mas pela conceção da personagem “Rodrigues” feita por Scorsese”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Forbes

A crítica da revista Forbes, assinada por Scott Mendelson, diz que “‘Silence’ depressa se transforma numa odisseia, onde a fé é testada”. “O realizador Scorsese e o co-autor Jay Cocks fizeram um filme sobre o porquê daqueles que estão no poder banirem uma religião do seu território, utilizando ações desumanas”, aponta o mesmo texto. Mas há algumas dúvidas: “‘Silence’ é um filme bem feito e bem interpretado pelos atores. No entanto, tenho de admitir que se torna um pouco monótono, especialmente para um agnóstico como eu, que não sente os dilemas espirituais nos ossos. O filme acaba muito bem, sendo que a cena final provoca um debate interno, o que se torna um sucesso em termos de objetivos específicos.”

Rolling Stone

Ainda o dilema da fé e da religião. A crítica da revista a “Silence” começa com “Deus está morto — e se não está, porque é que parece que é surdo e cego quando confrontado com o sofrimento humano? ‘Silence’ é o filme que oferece poucas respostas mas faz as perguntas certas”. E continua: “A dúvida é o tema que suporta o filme. Contudo, em duas horas e quarenta minutos de desafio da espiritualidade não será fácil de vender a uma audiência popular. Scorsese está diretamente a desafiar-nos a examinar os nossos próprios sentimentos sobre a fé e redenção.” E conclui com uma dúvida e uma certeza, ao que parece temos mesmo de ver este filme: “O destino deste filme irá depender daquilo em que cada um acredita. Mas ninguém que tenha fé nos mistérios do mundo e do cinema irá pensar em perder ‘Silence’.”

New York Magazine

O texto tem afirmações curtas e decididas, como “o filme é impressionante!”. Mas também deixa questões no ar: “É na segunda parte do filme que as coisas ficam estranhas.” E depois há avisos: “Muitos terão problemas com a última parte do filme [e não vamos aqui desenvolver, deixemos os spoilers bem longe]. O filme irá gerar uma grande quantidade de controvérsia. O que é excelente!”

Variety

“’Silence’ marca o culminar de quase 30 anos de uma jornada para adaptar o livro do japonês. Contudo, não é um grande filme, apesar de ter um realizador com um grande nível de maturidade. É longo e frequentemente aborrecido. Aqueles que põe a sua fé em Scorsese podem achar este filme um desafio”. É assim que a Variety fica de fora dos que tecem todos os elogios à nova obra do cineasta americano.

Ainda assim, a mesma publicação aborda um outro ponto de vista: “No entanto, ao ver o filme pelo prisma da fé, ‘Silence’ é um filme excecional que fala sobre as grandes questões do Cristianismo. Considerando o papel dominante da religião na vida de tantos, é surpreendente, e até escandaloso, que poucos filmes falem sobre estas questões.”

Slate

Aqui, a crítica faz-se de deslumbramento e encanto. “O filme de Scorsese parece ter chegado de outro universo”, diz Dana Stevens. E continua: “Apesar de conter várias cenas de sofrimento prolongado e alguns momentos de grande violência, ‘Silence’ reflete momentos de tranquilidade a qualquer coração. As questões espirituais continuam a ser de grande importância para o diretor de 74 anos. Se existe um Deus, porque é que o mundo está cheio de crueldade e sofrimento? Será que existe forma de traçar uma linha entre o que nós próprios esperamos de nós e o que somos capazes de dar, sem trair as nossas convicções? Será que é verdade que as nossas preces desaparecem perante um Deus silencioso, será possível que o ato de rezar ainda funcione? […] Religioso ou não, se conseguir descontrair o suficiente para entrar num tempo e lugar diferentes, “Silence” abre espaço para a contemplação, é como entrar na escuridão mas numa catedral cinematográfica.”