Se compararmos a programação de teatro e dança de 2017 com as propostas que tivemos no fim do verão de 2016, salta à vista uma conclusão: no próximo trimestre há mais novidades de criadores portugueses, incluindo estreias absolutas.

O novo ano ficará marcado pela iniciativa Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura 2017, que começa já em janeiro, e pela BoCA – Bienal de Artes Contemporâneas, de 17 de março a 30 de abril em Lisboa e no Porto (cuja programação completa será divulgada a 6 de fevereiro no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa). Eis uma seleção de propostas, organizadas de Norte para Sul e por data de apresentação.

Guimarães

Centro Cultural Vila Flor – “Prelúdio: A Mulher Selvagem” – 14 de janeiro

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vila flor

“Um grito interior, visceral mesmo, que aponta diretamente à natureza selvagem das mulheres”. Descrita como “performance poética”, a peça é do Teatro da Didascália e tem encenação de Bruno Martins e interpretação de Catarina Gomes, Cláudia Berkeley e Daniela Marques. “O ser selvagem primitivo das mulheres é, nesta peça, libertado na forma de um poema cantado e contado.”

Famalicão

Casa das Artes – “A Vida de Galileu”, 21 de janeiro

O clássico de Bertolt Brecht, que começou a ser escrito em 1937, aqui na versão do japonês Kuniaki Ida (Teatro do Bolhão). Versa os temas da verdade da ciência face à verdade da fé. “É talvez a peça mais brilhante da dramaturgia ocidental, já que a exposição de ambos os pontos de vista é feita com clareza, inteligência e vigor”, descrevem os criadores.

[excertos de “A Vida de Galileu”]

Porto

Teatro do Campo Alegre – “Nem a Própria Ruína”, 28 de janeiro

Criação, interpretação, figurino, texto e desenho de luz de Francisco Pinho, João Dinis Pinho e Dinis Santos, com música de José Cid. Espetáculo de dança, “redenção pós-apocalíptica” baseada no álbum de rock progressivo 10.000 Anos Depois Entre Vénus e Marte, que Cid publicou em 1978. Estreia.

Teatro do Campo Alegre – “Stabat Mater – Oratória para Uma Voz”, 10 e 11 de fevereiro

Cruzamento de teatro e práticas de movimento, procura a “tradução máxima da significação da figura materna” numa “ode quase de homenagem à figura de Maria no momento da crucificação de Cristo”. Texto de Jean-Pierre Siméon e encenação de Ana Rocha, em cocriação com Sara Barbosa, que interpreta.

Teatro Rivoli – “La nuit tous les chats sont gris”, 17 de fevereiro

todo os gatos sao pardos m,ichel cavalca

Direção de Laurence Yadi e Nicolas Cantillon, produção da Companhia Instável, mais uma estreia absoluta de dança. “Procura reinventar a perceção e interpretação do movimento coreográfico numa quase penumbra. Este projeto visa criar uma multitude de sensações perante um ato coreográfico sem narrativa explícita”, descrevem os autores. Estará em fevereiro, dias 24 e 25, na Culturgest, em Lisboa.

Teatro Nacional São João – “Os Veraneantes”, 9 a 18 de março

“Uma imensa tapeçaria de desejo e frustração que autopsia, então e agora, a nossa impotência perante o desenrolar da vida, a caminho de um futuro assustador e frio para lá do presente estival”, descreve a sinopse. Texto de Máximo Gorki, do início do século XX, encenado por Nuno Cardoso (Ao Cabo Teatro), em estreia. Vai passar pelo Mosteiro de São Francisco, em Coimbra, a 22 de março.

Teatro Carlos Alberto – “Confissões”, 17 a 26 de março

Mais uma estreia absoluta no Porto, com encenação de Rogério de Carvalho, a partir de Santo Agostinho. “O espetáculo concentrar-se-á naquelas questões em que o Padre da Igreja tem algo a dizer-nos (a nós, espectadores) enquanto seres humanos, independentemente da posição confessional (católico, ortodoxo, muçulmano, agnóstico ou ateu).”

Mosteiro de São Bento da Vitória – “Júlio César – Peças Soltas”, 30 e 31 de março

Regresso a Portugal do dramaturgo e encenador italiano Romeo Castellucci, no âmbito da BoCA – Bienal de Artes Contemporâneas. Trata-se de uma “intervenção dramática” sobre a tragédia de Shakespeare. “Castellucci afirma respeitar os textos, e a sua veneração impele-o a talhar continuamente – no duplo sentido de golpear e de esculpir – os monumentos do património dramático universal”, resume a sinopse.

Coimbra

Teatro Académico de Gil Vicente – “Sócrates tem de Morrer”, 12 e 13 de janeiro

Óbvia ponte para a atualidade portuguesa e internacional, esta criação de Mickaël de Oliveira, do Colectivo 84, em estreia absoluta, é inspirada em Fédon de Platão e junta a figura reinventada de Sócrates (Albano Jerónimo) e dos também reinventados seguidores Paulo (Paulo Pinto), Pedro (Pedro Lacerda), Maria (Maria Leite) e Ana (Ana Bustorff). “O espetáculo conta os últimos três dias de Sócrates na prisão, na qual permaneceu durante um mês, período em que as festas da cidade proibiam qualquer execução capital.” Trata-se da primeira parte do espetáculo, estando prevista a apresentação da segunda parte no início de 2018 no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.

Ainda no Teatro Académico de Gil Vicente, serão apresentados em breve mais três espetáculos:

18 de janeiro: “Hiatus”, do coletivo Demos, performance em estreia absoluta, com Cheila Pereira, Cláudio Vidal, Margarida Cabral e Paula Rita Lourenço.

27 de janeiro: “Diário de um Louco”, de Nikolai Gógol, com encenação de Américo Rodrigues (Teatro do CalaFrio);

31 de janeiro: “Não Quero Morrer”, de Elmano Sancho e Juanita Barrera, em torno da perda de memória da atriz francesa Annie Girardot (1931-2011).

Lisboa

Teatro Nacional D. Maria II– “Os Últimos dias da Humanidade”, 12 a 22 de janeiro

Estreada em outubro no Teatro Nacional de São João, agora em Lisboa, é uma peça de Nuno Carinhas e Nuno M. Cardoso sobre a obra máxima do escritor austríaco Karl Kraus. “Do monumental edifício original, extraímos uma dramaturgia que respeita a progressão cronológica do drama: do assassínio do arquiduque Franz Ferdinand ao colapso das Potências Centrais”, descrevem. É uma proposta ambiciosa, com 21 atores, dividida em três partes.

Teatro Thalia – “Fogo”, 19 a 29 de janeiro

Estreia absoluta de um espectáculo de performance e instalação (perfinst) criado por Luís Castro e Vel Z (colectivo Karnart), com interpretações de Bibi Perestrelo, Xana Lagusi, Ivone Fernandes-Jesus, Marco Patrocínio e Fernando Grilo. O Teatro Thalia situa-se na Estrada das Laranjeiras, 211.

Teatro Municipal São Luiz – “A Noite da Iguana”, 19 de janeiro a 5 de fevereiro

a noite da iguana_foto Jorge Gonçalves

“Um ex-pastor no limiar de um colapso nervoso. Uma viúva, Maxine, é quem se ocupa do hotel. E surge uma pintora amadora que tenta vender os seus quadros, enquanto passeia o seu avô moribundo de hotel em hotel, sem dinheiro. E uma iguana presa que se vai soltar naquela noite.” Sinopse, pelos Artistas Unidos, de “A Noite da Iguana”, de Tennessee Williams, original de 1961. Encenação de Jorge Silva Melo e elenco de grandes conhecidos: Nuno Lopes, Maria João Luís, Isabel Muñoz Cardoso, Joana Bárcia, Pedro Carraca, Tiago Matias, João Meireles, Vânia Rodrigues, Pedro Gabriel Marques, Catarina Wallenstein, Américo Silva, João Delgado, Bruno Xavier, Ana Amaral. O espetáculo será depois apresentado no Teatro Nacional de São João, no Porto, entre 9 e 26 de fevereiro.

Culturgest – “Climas”, 20 e 21 de janeiro

Dança, teatro, som e vídeo com direção de André Braga e dramaturgia de Cláudia Figueiredo (Circolando). “Improvisa-se uma espécie de hipersensibilidade climática e explora-se a força e imprevisibilidade de nos deixarmos atravessar pelas mais variadas forças naturais.” Estreou-se no início de dezembro no Teatro Nacional São João, no Porto, e vai estar a 3 de fevereiro no Teatro Aveirense.

Culturgest – “Pangeia”, 21 e 22 de janeiro

pangeia

É descrito como uma viagem sonora e visual pelo universo dos irmãos Grimm (que no início do século XX se dedicaram a recolher e a fixar histórias infantis). “O palco transforma-se num museu imaginário de objetos curiosos, através de sons escutados com auscultadores.” Espetáculo juvenil de Tiago Cadete, com interpretações de Leonor Cabral e Bernardo Almeida.

Teatro Municipal Maria Matos – “Arde Brilhante nos Bosques da Noite”, 21 e 22 de janeiro

Faz parte da programação de Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017, é a nova criação do dramaturgo e encenador argentino Mariano Pensotti. Revisita a figura de Alexandra Kollontai, revolucionária soviética e feminista. “Partindo das suas preocupações em torno das políticas do corpo, da sexualidade e da identidade feminina, vai à procura das ressonâncias da Revolução Russa na América Latina de hoje”, resumem os programadores. Na mesma sala, e no âmbito do mesmo ciclo de programação, será apresentada entre 15 e 17 de fevereiro a peça “Mateluma”, do chileno Guillermo Calderón (Chile).

Teatro Municipal Maria Matos – “Glimpse – 5 Room Puzzle”, 26 de janeiro

Coreografia de Tânia Carvalho para três bailarinos: Luís Guerra, Marta Cerqueira e a própria criadora. Variações sobre duas sequências de movimento distintas: “harmonia contida” e “harmonia disparatada”. Teve estreia nacional em novembro no Teatro Viriato, em Viseu. Agora em Lisboa.

[excerto de “Glimpse – 5 Room Puzzle”]

Teatro Municipal São Luiz – “Paris> Sarah> Lisboa”, 2 a 11 de fevereiro

Uma estreia. O encenador Miguel Loureiro propõe um “itinerário pela memória de uma atriz, de um teatro, de um fantasma de teatro.” Sarah Bernhardt por Beatriz Batarda.

Teatro Nacional D. Maria II– “O Duelo”, 2 a 19 de fevereiro

Visão do encenador Miguel Moreira (Útero) sobre uma obra de Bernardo Santareno. “Neste duelo, não há receio em acentuar os elementos rurais que, hoje, julgamos terem desaparecido. Permanecem traços de um outro tempo. Um tempo onde corpos, cheios de instintos primários, tentam sonhar outra vida.” Francisco Camacho e Romeu Runa são dois dos intérpretes e cocriadores.

Centro Cultural de Belém – “Rain”, 22 e 23 de fevereiro

Estreado em 2001 em Bruxelas, é descrito como o “espetáculo seminal” de Anne Teresa de Keersmaeker, o primeiro da coreógrafa belga a integrar o reportório do ballet da Ópera de Paris. Estreia portuguesa. Em torno da obra Music for 18 Musicians de Steve Reich, dez bailarinos executam “formas matemáticas, repetição exaustiva, ocupação geométrica do espaço” – aspetos que se tornaram centrais no trabalho da criadora.

[excerto de “Rain”]

https://www.youtube.com/watch?v=pf_cL9y0Uh4

Centro Cultural de Belém – “Despertar da Primavera, uma Tragédia de Juventude”, 24 a 27 de fevereiro

Texto de Frank Wedekind, escrito em 1891, sobre um grupo de adolescentes face a uma sociedade conservadora. O coletivo Teatro Praga propõe-se “inscrever num texto canónico o lugar dos que não estão incluídos no sistema representativo”.

Almada

Teatro Municipal Joaquim Benite – “Noite da Liberdade”, 13 a 29 de janeiro

Encenação de Rodrigo Francisco, “Noite da Liberdade” é uma das novas criações da temporada na Companhia de Teatro de Almada. Texto de Ödön Von Horváth, baseado nos confrontos ocorridos em 1930 na cidade de Murnau, na Baviera, entre nazis e defensores da República alem.

[vídeo de promoção de “Noite da Liberdade”]

Faro

Teatro das Figuras – “O Terrorista Elegante”, 5 de janeiro

Apresentado em Lisboa há poucos dias, “O Terrorista Elegante” é acolhido em Faro, em apresentação única. Texto de Mia Couto e José Eduardo Agualusa, com adaptação e encenação de João Mota (Comuna) e interpretações de Miguel Sermão, Virgílio Castelo, Ana Lúcia Palminha e Rita Cruz. “Um homem está preso acusado de ligações a uma organização terrorista. As polícias e os serviços secretos investigam. Há indícios inquietantes. Charles Poitier Bentinho, o homem, angolano negro de 45 anos é culpado ou inocente?”

[vídeo de promoção de “O Terrorista Elegante”]

Ponta Delgada, Açores

Teatro Micaelense – “Adalberto Silva Silva – Um Espetáculo de Realidade”, 11 de fevereiro

Adalberto Silva Silva

A alma da personagem Adalberto Silva Silva em formato televisivo é a proposta deste espetáculo de Jacinto Lucas Pires e Ivo Alexandre, que em 2013 esteve no Teatro Joaquim Benite em Almada. “Adalberto é o célebre desconhecido, o triste homem comum, um tipo que de tão normalzinho se apalhaça dos modos mais surpreendentes. Um cidadão que, neste país pobre e maravilhoso, quer juntar-se a uma cidadã para se descobrir por inteiro.” Uma comédia portuguesa.

Funchal, Madeira

Teatro Municipal Baltazar Dias – “Variações, de António”, 8 a 12 de fevereiro

Depois do êxito alcançado em Lisboa, onde se estreou em junho de 2016, o monólogo sobre o cantor António Variações continua em digressão e em Fevereiro tem acolhimento na Madeira. Texto de Vicente Alves do Ó, interpretado por Sérgio Praia, contém elementos biográficos recriados, fazendo uma “interpretação emocional e artística” da vida de Variações, no dizer do encenador.

[vídeo de promoção da peça, quando da estreia em Lisboa]