O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, afirmou esta sexta-feira que a crise que Angola vive pode agravar-se em 2017, em função das condições sociais e de vida de grande parte da população angolana. “As minhas perspetivas não são boas, o que significa que a crise política e social pode ainda se aprofundar, mas vamos manter o otimismo e procurar encorajar aqueles que têm poder para influenciar o país na busca de soluções concretas e viáveis”, disse, em declarações à Lusa.

O líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, sustenta mesmo que as suas perspetivas para os próximos tempos “não são boas” por entender que as ” soluções retóricas” atuais não resolvem os problemas. “O país não pode continuar na situação em que está e infelizmente as minhas perspetivas para os próximos tempos não são boas, porque na realidade, ao invés de ver soluções e medidas concretas para se resolver os problemas que temos hoje, constato que há uma certa indiferença retórica, dando impressão que há medidas para resolver os problemas que existem, mas na pratica não vejo medidas funcionais”, lamentou.

Angola enfrenta desde finais de 2014 uma profunda crise financeira, económica e cambial, decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, situação que tem reflexos acentuados na vida dos cidadãos do país, defende Samakuva, a começar por uma inflação a um ano acima dos 40%.

“A crise que inicialmente parecia ser financeira, apenas evolui para uma crise económica e social que se transformou numa crise política, numa crise global e de facto é isso mesmo que nós sentimos à luz do comportamento das pessoas e das afirmações que nós escutamos e da situação que verificamos quando viajamos pelo país”, realçou.

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Apesar das soluções gizadas pelo Governo angolano, que passam pelo aumento da despesa pública para manter o investimento e as grandes obras, “essas medidas não inverteram o cenário e a situação piorou”, afirma o líder do maior partido da oposição. “Há soluções cambiais e medidas que se anunciam, mas chegado o mês de dezembro vejo que a situação piorou, vou ao banco tentar levantar algum dinheiro, se no passado diziam que não há dinheiro agora me dizem que não há liquidez”, enfatizou.

“A diversificação da economia não pode ser com macro projetos e implementados pelo Governo, mas sim pelo cidadão comum na sua aldeia ou comunidade. Se ao invés de liberalizar procurámos centralizar os projetos agrícolas através do Governo, acabaremos por agravar a crise”, concluiu.

Julgamento de atentado contra PR angolano é montagem contra UNITA

O presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) considerou também o julgamento dos 37 alegados ex-militares acusados de atentado contra o Presidente da República como uma montagem para atingir o maior partido da oposição. Isaías Samakuva afirmou que este caso, cujo julgamento arrancou em dezembro, em Luanda, foi denunciado pela própria UNITA, incluindo as “cenas macabras” que diz terem sido desenvolvidas pelos serviços secretos angolanos com o propósito de “criar embaraços” ao partido.

“Nós estamos atentos a acompanhar o evoluir da situação para vermos qual é a real acusação e quem sairá como o principal acusado desta cena toda, que é uma montagem que tem as mãos escondidas de forças que são bastante conhecidas”, apontou.

Samakuva garante perentoriamente que o partido não teve qualquer intervenção neste caso: “Nós não tivemos mão nenhuma. A UNITA denunciou apenas que os serviços secretos do Estado estavam a urdir algumas cenas bastante macabras, nós apenas quisemos a alertar a opinião pública, denunciar pelo facto de constatarmos que essa iniciativa não era dos ex-militares da UNITA”, disse.

Em causa um julgamento que teve início a 02 de dezembro, na sala dos crimes comuns do Tribunal Provincial de Luanda, e envolve alegados ex-militares, desmobilizados, das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), o braço armado da UNITA durante a guerra civil em Angola, que terminou em 2002. De acordo ainda com o líder do maior partido da oposição, tudo aponta para que “havia de facto a intenção da parte dos serviços secretos” de levar a cabo uma “cena” de “conspiração” que “visava essencialmente criar embaraços e problemas bastante sérios à UNITA”. Isaías Samakuva reclama pela imparcialidade do tribunal, para que seja “aprofundada a verdade” sobre os reais culpados dessa ação.

A acusação promovida pelo Ministério Público sustenta que o grupo de acusados “era bastante organizado militarmente e que recrutavam os ex-militares das FALA com o objetivo de atentarem contra o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e tomarem o poder a força com recurso a armas de fogo, catanas e ainda de métodos feiticistas”. São acusados de associação de malfeitores, posse ilegal de armas e atentado contra o presidente da república, na forma frustrada, previsto para a madrugada de 31 de janeiro de 2016. Acusações que são refutadas pela defesa, que refere que a única mobilização que os acusados fizeram foi para uma manifestação pacífica para reclamar a não-inserção na Caixa Social das Forças Armadas Angolanas, “e não atentar contra o presidente da república”.

A polícia apreendeu igualmente na posse dos acusados armas de fogo e catanas. Dois dos 37 arguidos encontram-se foragidos e os restantes em prisão preventiva, desde a sua detenção, a 30 de janeiro de 2016.