O diário britânico Financial Times publicou esta segunda-feira um artigo onde destaca o primeiro ano de Governo de António Costa. Lembrando as dúvidas que acompanharam a formação do Executivo socialista, dependente que está dos “radicais do Bloco de Esquerda e do rígido Partido Comunista”, o Financial Times admite que “Costa tem indubitavelmente registado um desempenho que superou as previsões iniciais para o seu governo de minoria socialista”.

Para o Financial Times [link para assinantes], apesar de todo o ceticismo da oposição, dos credores internacionais, dos mercados e das agências de rating em “torno do modesto crescimento económico” e do “frágil setor financeiro” português, António Costa conseguiu surpreender tudo e todos. “Tão altas eram as expectativas de que esta parceria improvável ia falhar que o primeiro-ministro já desafiou a maioria dos críticos apenas e só por sobreviver para um segundo ano no cargo”.

O influente diário económico britânico lembra, de resto, que António Costa já viu dois orçamentos aprovados em Bruxelas e evitou as sanções da Comissão. Além disso, deverá apresentar um défice claramente abaixo de 3%, “o mais baixo em 42 anos de democracia” e “um dos melhores resultados do Sul da Europa”, como o próprio primeiro-ministro tem insistindo em sublinhar.

O Financial Times recorda ainda a queda no desemprego — de 12,6% para 10% — e a criação de 90 mil empregos como trunfos que têm jogado a favor de António Costa. E mesmo apoiado por dois partidos de extrema-esquerda que exigem a reestruturação da dívida pública e de estar a introduzir maior rigidez no mercado laboral, o Governo de Costa tem conseguido não afastar grandes empresas, como a Volkswagen, Continental ou a Bosch, que aumentaram o investimento em Portugal ou vão fazê-lo num futuro próximo, lembra a mesma publicação.

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O diário britânico não deixa, no entanto, de citar o economista chefe da Berenberg, Holger Schmieding, que sugere que António Costa tem gozado de uma política menos rigorosa de Bruxelas. “Dadas as incertezas políticas existentes em muitos países, a Europa escolheu colocar menos ênfase na política de austeridade do que antes”, defende o especialista.

O economista vai ainda mais longe. Para Schmieding, a devolução dos salários no setor público, a redução das horas laborais, a reposição dos feriados e das pensões, assim como a contra-reforma laboral em curso é um caminho errado. “Infelizmente, esta é a forma errada para atrair investimento suficiente para colocar a economia a crescer a um ritmo próximo de Espanha”, defende o alemão.

O mesmo jornal nota, em jeito de conclusão, que instituições como a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional consideram que a capacidade demonstrada por Lisboa para cumprir as metas de contenção orçamental se deve em grande medida ao congelamento de despesas em áreas como Saúde e Educação.

De qualquer forma, escreve o Financial Times, “um ano depois” de ter tomado posse, “Costa goza de uma opinião pública que outros líderes europeus de centro-esquerda apenas podem sonhar”.