A Sérvia pediu, esta quinta-feira, a Paris que atue “em conformidade com o Estado de direito” e extradite para Belgrado o antigo primeiro-ministro do Kosovo Ramush Haradinaj, detido na quarta-feira em França.

Ramush Haradinaj, deputado e líder da Aliança para o futuro do Kosovo (AAK) foi detido na quarta-feira no aeroporto de Bâle-Mulhouse (leste da França) devido a um mandado de captura internacional emitido pela justiça sérvia em 2004, por ser alegadamente responsável por crimes de guerra contra civis durante a “guerra do Kosovo” (1998-1999). Haradinaj foi ilibado das acusações em 2012 pelo Tribunal penal internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ).

Seria muito ilógico, mesmo que não o exclua, que a França, um Estado sério, um Estado de direito, não atuasse em conformidade com o direito, mas em conformidade com as suas posições políticas”, considerou o primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vucic.

“Nesse caso, também nos seria colocada a questão sobre a forma como atuaríamos numa situação recíproca”, assinalou, acrescentando que seria nefasto “chegar a uma situação em França onde a política estaria acima do direito”.

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Os nossos procuradores recolheram numerosos dados, numerosas provas que o põe em causa [Ramush Haradinaj]”, assegurou ainda Vucic.

A justiça francesa estava a examinar o pedido de extradição da Sérvia, que emitiu 108 atas de acusação contra o atual político albanês kosovar, desde “terrorismo” ao massacre de civis, evocando a sua responsabilidade direita na morte de 60 pessoas.

Em 2015 Ramush Haradinaj foi detido durante 48 horas na Eslovénia em circunstâncias semelhantes, antes de ser libertado. O Governo do Kosovo pediu a França a libertação imediata do líder do AKK enquanto o porta-voz deste partido, Avni Arifi, definia a detenção como “o único resultado concreto do diálogo com Belgrado”.

Antigo comandante da zona operacional de Dukagjin, Haradinaj foi um dos mais altos responsáveis do Exército de Libertação do Kosovo (UÇK), a organização separatista armada albanesa que combateu as forças de Belgrado. Foi alvo de dois processos sucessivos no TPIJ. No final do segundo processo, em 29 de novembro de 2012, foi ilibado de todas as acusações.

A “guerra do Kosovo” teve como desfecho a separação desta antiga província do sul da Sérvia, com larga maioria de população albanesa, após uma campanha de bombardeamentos aéreos da NATO contra o país balcânico.

O Kosovo declarou a independência em 2008 e é atualmente reconhecido por 110 países representados na ONU (57%). A Sérvia, Rússia, China, Índia, Brasil entre outros, incluindo cinco Estados-membros da União Europeia (Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre), recusaram legitimar a independência kosovar.