“O Partido Socialista acaba de sofrer a maior das perdas imagináveis, a sua maior referência, o fundador e militante nº1, figura maior e indelével do socialismo democrático português e europeu, Mário Alberto Nobre Lopes Soares. O nosso muito querido camarada Mário Soares”. É assim que o PS reage à morte de Mário Soares, num comunicado publicado no site do partido e lido, com voz embargada, esta tarde pela secretária-geral-adjunta Ana Catarina Mendes.

Com o cabeçalho e o logótipo a negro no site do partido, os socialistas lamentam a perda do “pai da Liberdade e da Democracia, a personalidade e o rosto que os portugueses mais identificam com o regime nascido a 25 de Abril de 1974, ‘O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio’, de que falava a sua amiga Sophia e pelo qual tanto se bateu Mário Soares ao longo de toda a sua vida. Combate que o moveu até ao fim”.

Para o PS, a morte do histórico fundador socialista é “um momento de profunda dor”, sendo que, sublinham, “Mário Soares continuará a ser uma referência incontornável, um exemplo e um motivo de orgulho para todos nós” pelo papel que desempenhou na “resistência à ditadura e a todas as tentativas totalitárias, antes e depois do 25 de abril”.

Com uma cronologia detalhada dos vários momentos marcantes da vida de Mário Soares, antes de depois da revolução de abril, o PS recorda o seu papel na “defesa de presos políticos nos tristemente célebres tribunais plenários”, o seu papel enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros do I Governo Provisório, as vitórias do PS para a Assembleia Constituinte assim como para as primeiras eleições legislativas de 1976, passando depois pelo seu papel como primeiro-ministro nos dois primeiros governos constitucionais e mais à frente em 1983.

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“É a Mário Soares que se deve também a afirmação da vocação europeia de Portugal. Foi dele o impulso para o pedido de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia, formalizado em 1977, e viria a ser ele a assinar a adesão na manhã do dia 12 de Julho de 1985, numa cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa”, continua a ler-se no comunicado.

Os socialistas destacam ainda a sua atuação presidencial, que lhe valeu “os mais altos índices de popularidade e reconhecimento”. Foi, disse Ana Catarina Mendes, o seu exercício do cargo de Presidente da República e a leitura que fez dos poderes presidenciais e daquilo que designou como “magistratura de influência”, que mudou “de forma irreversível” a forma como os portugueses passaram a olhar para a Presidência da República.

“Mas se muitos pensavam que com o final do seu segundo mandato presidencial terminaria a sua carreira política, esse facto viria a ser desmentido pela natureza indomável de puro “animal político” que sempre o caracterizou. Em 1999, voltaria a ganhar umas eleições, como cabeça de lista do PS às eleições europeias desse ano, tendo exercido o seu mandato como deputado europeu. Em 2005, com 80 anos, Mário Soares voltaria a ser candidato à Presidência da República, não tendo conseguido a eleição. Mas continuou a manter uma permanente atenção e reflexão sobre a política portuguesa e mundial, traduzida em tomadas de posição e em várias ações, que lhe valeram ainda em 2013 ser considerado pela Associação da Imprensa Estrangeira radicada no nosso país a personalidade do ano em Portugal”, continua a ler-se.

A terminar e já com a voz embargada, a secretária-geral-adjunta do PS sublinha que Soares foi uma “figura ímpar e inesquecível da História de Portugal”, direcionando as suas palavras para a família, “em particular os filhos João e Isabel e os netos”, e para todos “os seus muitos amigos e camaradas”.

“Soares é fixe! Até sempre, Mário Soares”, rematou Ana Catarina Mendes numa alusão ao slogan da campanha presidencial de 1986.