O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reconheceu este domingo ter “subestimado” o impacto da pirataria informática nas democracias atuais, dias depois de os serviços secretos americanos terem revelado ingerências da Rússia nas eleições presidenciais ganhas por Donald Trump.

Numa entrevista à cadeia de televisão ABC, o presidente cessante (Donald Trump toma posse a 20 de janeiro) rejeitou, no entanto, ter subestimado o seu homólogo russo, Vladimir Putin.

Segundo os serviços de informações norte-americanos foi Putin quem orquestrou a campanha de ataques informáticos e de manipulação dos media para favorecer a eleição de Donald Trump em detrimento de Hillary Clinton.

O Kremlin desmente qualquer envolvimento na campanha de pirataria informática descrita pelos serviços de espionagem norte-americanos.

“Mas penso que subestimei a forma como é possível, nesta nova era da informação, desinformar, estes ataques informáticos terem um impacto nas nossas sociedades abertas, insinuando-se nas nossas práticas democráticas”, declarou Barack Obama.

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Obama, que na terça-feira profere em Chicago o seu discurso de despedida da Casa Branca, realçou que vários países aliados dos Estados Unidos no âmbito da NATO – entre os quais a França – vão realizar eleições dentro de poucos meses.

“Devemos todos estar vigilantes”, alertou o chefe de Estado norte-americano.

Um relatório publicado na sexta-feira pelos serviços de informação norte-americanos indicou que o objetivo da campanha russa de desinformação e de pirataria (que incluiu os e-mails de elementos da campanha democrata) seria o de minar o processo democrático norte-americano, fragilizar Hillary Clinton caso chegasse a presidente e aumentar as hipóteses de vitória do milionário Donald Trump.

A publicação no Wikileaks de milhares de e-mails roubados ao mais próximo conselheiro de Hillary afetou a sua candidatura durante semanas. Segundo Washington, os serviços secretos russos foram a fonte do Wikileaks, algo que o fundador do portal, Julian Assange, negou.

“Não necessitamos do Wikileaks para convencer os americanos que eles não gostavam dela (Hillary Clinton), que não confiavam nela ou que não achavam que ela era honesta”, insistiu hoje Kellyanne Conway, antiga chefe de campanha e conselheira do presidente eleito.

Sobre a sua relação com Trump, Barack Obama disse hoje que as reuniões recentes com o milionário foram “cordiais”.

“Ele mostrou-se aberto a ouvir sugestões”, disse Obama sobre Trump, descrevendo-o como “muito charmoso e sociável”.

Ainda assim, o 44.º presidente dos Estados Unidos advertiu o seu sucessor de que há diferenças entre conduzir uma campanha presidencial e governar e que este “não poderá gerir a presidência da mesma forma como gere uma empresa familiar”.

Barack Obama referiu ainda que Donald Trump “não dedicou muito tempo a divulgar os detalhes” sobre as suas políticas, algo que é ao mesmo tempo “uma força e uma fraqueza”.