O apêndice pode não ser um órgão vestigial nos seres humanos, sugere um estudo da universidade norte-americana de Midwestern. Depois de estudarem a evolução do apêndice na anatomia de 533 espécies de mamíferos nos últimos 11 milhões de anos, os cientistas descobriram que este órgão desenvolveu-se pelo menos 29 vezes, mas que apenas desapareceu definitivamente em 12 dessas ocasiões. Sempre que um mamífero desenvolve um apêndice em algum momento da sua evolução, raramente o perde. E se o perde, o órgão muitas vezes volta à anatomia dos animais por pressão evolucionária, explica o comunicado da universidade. Isso pode significar que, ao contrário do que nos têm ensinado na escola, a função do apêndice pode ser mais importante do que julgávamos até hoje.

Até à publicação deste estudo no jornal científico francês Comptes Rendus Palevol, a comunidade científica acreditava que o apêndice estava no mesmo grupo que os dentes do siso ou alguns músculos das orelhas: eram úteis para os nossos ancestrais há milhões de anos, mas o nosso estilo de vida tornou-os dispensáveis para o ser humano moderno. E embora essa teoria ainda não possa ser definitivamente descartada, “há provas estatísticas fortes de que o surgimento do apêndice seja significativamente mais provável que a sua perda, o que sugere um valor seletivo para esta estrutura”. Isso significa que, tendo em conta a Teoria da Seleção Natural de Darwin, o apêndice pode desenrolar um papel essencial para a sobrevivência de uma espécie, que se torna mais apta se tiverem esse órgão.

Mas que função é essa, afinal? Tudo indica que o apêndice é um reservatório de bactérias úteis para impedir o desenvolvimento de certas infeções no sistema digestivo. Uma investigação feita há cinco anos sugere isto mesmo ao concluir que as pessoas sem apêndice têm quatro vezes mais hipótese de contrair colite pseudomembranosa, uma inflamação no cólon provocada pela bactéria Clostridium difficile. Em casos de infeção em hospitais, a recorrência em pessoas com o apêndice era de 11 indivíduos em cada 100. Esse número subia para 48 pessoas em cada 100 em indivíduos sem apêndice.

Outra função que parece estar associada ao apêndice é a imunitária. Este órgão parece ter uma grande concentração de tecido linfático, sugerindo que pode ser parte integral no sistema imunitário. Esses tecidos linfáticos estimulam o crescimento de bactérias intestinais importantes para manter os órgãos a funcionar de modo saudável. Embora a equipa precise de mais dados para tirar conclusões definitivas sobre estas descobertas, querem também entender se a remoção do apêndice pode ou não retirar qualidade de vida ao ser humano a longo prazo.

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