Mark Zuckerberg parece cada vez mais perto de uma carreira política. Depois de resolver correr os Estados Unidos com a mulher, Priscilla Chan, em tudo semelhante a um périplo de campanha, Zuckerberg contratou David Plouffe, o cérebro por trás da campanha para a eleição de Barack Obama em 2008 e ex-membro da direção da Uber, para chefiar a secção de estratégia política da Chen and Zuckerberg Iniciative, o projeto filantrópico do casal.

Mas há mais nomes com peso político: Kenneth Mehlman, que liderou a campanha de reeleição de George Bush, em 2004, é o novo conselheiro-chefe de um novo comité criado para analisar as políticas prioritárias da empresa e a pasta da educação passa para James H. Shelton III, ex-secretário de estado do Departamento de Educação.

Se isto tudo são manobras em direção a uma carreira política, Zuckerberg não confirma mas também não desmente. Mark Zuckerberg e Priscilla Chan são conhecidos não só pela sua fortuna mas por terem prometido, em dezembro de 2015, doá-la quase na totalidade (99% das suas ações no Facebook) para projetos de ajuda humanitária. São mais de 40 milhões de euros que deverão ser investidos principalmente na “cura de doenças”, na “educação personalizada das crianças-” e na “criação de comunidades mais coesas”.

As preocupações que Zuckerberg vai expressando na sua página de Facebook deixam transparecer uma atenção especial aos problemas sociais e ao futuro dos Estados Unidos, e começam a defini-lo como alguém que quer mudar as coisas de dentro do sistema. “Podes conseguir uma mudança para que seja sustentável tens que conseguir criar um movimento à volta disso. Não há quantidade de investigação privada nem de ajuda humanitária que possa mudar isso. No fim do dia, o governo terá sempre muito mqais recursos para mudar as coisas do que qualquer instituição individual”, disse Zuckerberg em entrevista.

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Na mensagem de Ano Novo, Zuckerberg tocou no tema da globalização, cujas ramificações muitos analistas culpam pela disparidade social nos Estados Unidos que terá, por sua vez, contribuido para a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais, e da qual empresas como o Facebook beneficiaram imenso.

“Durante décadas, a tecnologia e a globalização tornaram-nos mais produtivos e mais ligados uns aos outros. Há claras vantagens mas para muita gente a vida tornou-se muito mais difícil com desafios muito maiores. Isto contribuiu para um atmosfera de divisão social como eu nunca vi ao longo da minha vida. É preciso que a globalização funcione para toda a gente”, disse ainda o empresário.

Em 2013, Zuckerberg já tinha testado as águas da política quando lançou o grupo de pressão Fwd.us, cujo objetivo era promover uma mudança nas leis de imigração nos Estados Unidos e expandir a atribuição dos chamados “H1B”, um tipo de visto que é dado aos imigrantes altamente qualificados, uma mão-de-obra essencial para as empresas de Silicon Valley.

Como escreveu o Observador na altura, o multimilionário revelou num comentário ao seu post de Boas Festas que já não era ateu, que tinha sido educado enquanto judeu e que, apesar de ter vivido um período em que se questionou, que agora acreditava que a religião era importante. As convicções religiosas são uma das “maiores responsabilidades que um candidato presidencial” pode ter – mais uma barreira eliminada.

Mas também há críticas: a estrutura organizacional da empresa, que é uma empresa “responsabilidade limitada” e não uma organização filantrópica como uma Organização Não-Governamental. Isto faz com que a família Zuckerberg posso investir em empresas, conceder empréstimos a outras de cariz social ou criar grupos de pressão para influenciar legislação e promover o debate político, coisa que as instituições de assistência social não podem fazer.