Algumas centenas de pessoas estão concentradas em frente do Consulado de Espanha, em Lisboa, em protesto contra a central nuclear espanhola de Almaraz.

Fechar Almaraz já” é uma das palavras de ordem mais ouvidas, entre outras que também fazem referência às centrais nucleares de Fukushima (Japão) e de Chernobyl (Ucrânia) onde aconteceram acidentes.

A manifestação foi convocada pelo movimento ibérico anti-nuclear e nela participam, entre outros, a dirigente do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, e o secretário-geral do partido espanhol Podemos da Extremadura, Alvaro Jaen.

A funcionar desde o início da década de 1980, a central nuclear espanhola está situada junto ao Tejo e faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.

A central nuclear de Almaraz tem dois reatores, cada um com uma “piscina” para guardar o lixo nuclear, prevendo-se que a do “reator 1” alcance o limite da sua capacidade em 2018.

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Espanha solicitou em 2015 autorização para construir um armazém de resíduos nucleares, que o Governo português contesta.

Portugal anunciou esta quinta-feira que vai apresentar queixa em Bruxelas contra Espanha devido ao diferendo.

“Portugal vai solicitar a intervenção de Bruxelas neste caso. […] Havendo aqui um diferendo […] ele tem de ser resolvido” pela Comissão Europeia, disse o ministro do Ambiente português, João Matos Fernandes, à saída de uma reunião com a sua homóloga espanhola, Isabel García Tejerina, e com o ministro da Energia, Álvaro Nadal.

O Governo português defende que no projeto de um aterro de resíduos junto à central nuclear de Almaraz “não foram avaliados os impactos transfronteiriços”, o que está contra as regras europeias.

Movimento antinuclear condena inércia de Governo português

O Movimento Ibérico Antinuclear (MIA) condenou a atitude do Governo de Portugal em relação à central nuclear espanhola de Almaraz e o dirigente António Eloy defendeu mesmo a substituição do ministro do Ambiente por outro “mais firme”.

Isso era o que devia ser feito, era sancionar esta inação do ministro do Ambiente e colocar um ministro que seja firme e que seja ousado em relação a esta agressão a Portugal, mas também aos espanhóis”, disse o representante do MIA à Lusa, no decorrer da ação de protesto junto do consulado espanhol em Lisboa.

Portugueses, mas também espanhóis, protestaram contra a anunciada intenção de construir um aterro nuclear junto da central de Almaraz, que fica perto da fronteira com Portugal. Os ambientalistas congregados no MIA consideram que construir esse armazém de resíduos só se explica com a intenção de prolongar a vida da central, que devia ser encerrada em 2020.

Ao fim da tarde alguma centenas de pessoas empunharam cartazes como “Energia nuclear não obrigado”, “Cerrar Almaraz”, “De 2020 ´almará´ no passara” ou “Fechar Almaraz, descanse em paz”, gritando palavras de ordem como “Fechar Almaraz” ou “Não queremos mais a central de Almaraz”.

Estiveram presentes a dirigente do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, mas também o secretário-geral do PODEMOS, na Extremadura espanhola, Alvaro Jaen, como outros dirigentes partidários e de organizações ambientalistas (como a Quercus ou a Zero, entre outras).

Uma “ação simbólica” para mostrar ao Governo espanhol a insatisfação pela decisão de construir o aterro, que segundo o MIA começou há um ano e que o ministro do Ambiente de Portugal preferiu ignorar.

À Lusa, Eloy citou também os muitos “incidentes e acidentes” ocorridos na central, alguns muito graves, disse que a central tem de fechar em 2020 e que o Governo português passou 2016 a “dizer que estava muito bem informado” e que chega a janeiro a dizer que não sabia de nada.

O ministro português, João Matos Fernandes, reuniu-se esta quinta-feira com a sua homóloga espanhola, Isabel García Tejerina, e disse depois da reunião que Portugal iria apresentar em Bruxelas uma queixa contra Espanha.

“Poderá haver alteração da posição espanhola devido ao recurso do MIA nos tribunais espanhóis contra a forma como foi feito o estudo de impacto ambiental”, mas “é mais provável que o ministro do ambiente português seja demitido pela sua inação durante um ano em relação a Almaraz do que Bruxelas vir a tomar uma decisão em tempo útil sobre este recurso”, disse o António Eloy à Lusa.

Afirmando que Portugal está “indefeso” porque não tem programa de emergência nem de evacuação perante um acidente em Almaraz, pedindo para que seja divulgado um possível estudo sobre a matéria, o mesmo responsável prometeu mais ações como a desta quinta-feira, uma em Madrid em breve.

E além de a 4 de fevereiro se realizar em Lisboa uma “grande conferência” sobre energia nuclear, o MIA está “a diligenciar” junto do parlamento espanhol para tentar levar o Governo a tomar uma resolução no que respeita à calendarização do encerramento das seis centrais nucleares espanholas em funcionamento.