Um dos principais conselheiros do grupo de credores de Moçambique considerou esta quinta-feira que o país deve pagar a prestação de 59,8 milhões de dólares em dívida pública e argumentou que tem capacidade financeira para isso.

“É no interesse de Moçambique, e dos detentores dos títulos de dívida, que o Governo pague o cupão”, disse Charles Blitzer em declarações citadas na agência de informação financeira Bloomberg, nas quais acrescentou: “Não vejo nenhuma consequência positiva” caso não paguem.

“A situação em Moçambique melhorou desde outubro”, argumentou o antigo responsável do Fundo Monetário Internacional, lembrando que “nos últimos meses a capacidade de pagamento melhorou, já que as taxas de câmbio e as reservas estabilizaram e começaram a melhorar”.

Nas declarações à Bloomberg, Blitzer diz que o mercado “exagerou completamente” na reação à nota de análise da JP Morgan, que considerava “extremamente improvável” o pagamento da prestação de 18 de janeiro sobre a a emissão de dívida pública soberana de Moçambique, feita em abril do ano passado.

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“Não há nada oficial que indique que tomaram a decisão de não pagar este cupão”, disse Blitzer. “Nada foi dito durante a apresentação do pedido de reestruturação [em outubro]”, vincou o conselheiro do grupo de credores que detém mais de 60% da dívida pública moçambicana.

“O comité de credores continua aberto para discutir a sua visão e a sua análise sobre vários assuntos, mas as negociações só podem começar depois das várias pré-condições estarem cumpridas”, disse, sem especificar quais, mas referindo-se provavelmente à divulgação da auditoria às finanças públicas que está atualmente a ser feita pela consultora Kroll.

Os juros exigidos pelos investidores para transacionarem estes títulos de dívida conheceram uma subida significativa no seguimento da notícia sobre a análise da JP Morgan, que considerava que a retórica do Governo mostrava que o pagamento de janeiro seria “altamente improvável”.

Esta quinta-feira, pelas 12h00 de Lisboa, os juros estavam nos 27,8%, ligeiramente abaixo dos 28% a que chegaram na quarta-feira, e que representam o valor mais alto desde a emissão de dívida, em abril de 2016.

O Governo de Moçambique anunciou em outubro a abertura de um processo negocial com os credores para tentar renegociar a dívida pública, e está ao mesmo tempo em negociações com o Fundo Monetário Internacional para o restabelecimento da ajuda técnica e financeira, mas só depois da apresentação pública do relatório de auditoria às dívidas escondidas, que deverá ser conhecido em fevereiro.