No mesmo dia em que Donald Trump explicava com maior detalhe de que forma pretende afastar-se dos seus negócios — passando a gestão da Trump Organization para a mão dos filhos –, o diretor do gabinete de Ética do executivo norte-americano, numa pouco habitual tomada de posição pública, deixou um alerta à navegação do presidente eleito: “O seu plano [para se livrar de conflitos de interesse] não atingiu o objetivo”.

A carta de Walter M. Shaub foi tornada pública à mesma hora em que Donald Trump dava uma conferência de imprensa sobre o futuro da organização empresarial que batizou e de que agora deve afastar-se. No documento de quatro páginas, Shaub refere que “afastar-se da liderança dos seus negócios”, como Trump reiterouesta quarta-feira que pretende fazer, “não tem qualquer significado do ponto de vista do conflito de interesses”, até porque a presidência norte-americana é “um trabalho a tempo inteiro” e Trump teria de abdicar da sua atividade empresarial de qualquer das formas. “A ideia de criar um fundo fiduciário para controlar as suas operações empresariais não acrescenta nada a esta equação”, lê-se na carta.

Uma espécie de farol para a Ética em Washington, Walter M. Shaub prossegue: “A nossa experiência comum de relações humanas diz-nos que o potencial para a corrupção cresce com o aumento do poder”. Mesmo sem nomes, não seria difícil perceber o destinatário da mensagem. Para reforçar a ideia, o diretor do gabinete de Ética do Governo norte-americano cita um acórdão do Supremo Tribunal onde se refere que o conflito de interesses — o tópico no centro de toda esta discussão — é “um mal que periga a própria construção de uma sociedade democrática”. Porque “a democracia só se concretiza se as pessoas acreditarem naqueles que governam”. Essa confiança, pelo contrário, será “estilhaçada” quando os responsáveis políticos “estiverem envolvidos em atividades que levantem suspeitas de corrupção”.

Shaub não sugere que Donald Trump poderá usar a Casa Branca como um motor de aceleração para os seus negócios pessoais — mesmo que o presidente eleito continue a recusar ser claro quanto aos rendimentos que as suas várias áreas de negócio lhe proporcionam, deixando no ar suspeitas de que o balão “Trump” possa ter sido insuflado nos últimos anos. Diz apenas que “todos sabemos que todos sabemos uma das coisas que faz a América realmente “great” (“truly great”, aproveitando o slogan da candidatura de Trump) é o seu sistema de prevenção da corrupção pública”.

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