Donald Trump já classificou o aquecimento global como uma fraude e deu pistas de que irá rasgar o acordo de Paris assinado pela Administração Obama, mas os líderes da economia mundial não querem saber. Na semana em que o magnata toma posse como presidente dos Estados Unidos, o Fórum Económico Mundial de Davos faz a sua reunião anual (entre 17 e 20 de janeiro) centrada, precisamente, nas alterações climáticas. O acordo de Paris, assinado em 2015, mudou a forma como as grandes empresas veem o assunto, já que em causa estão, segundo a Bloomberg, “biliões ou talvez até triliões de dólares” (entre perdas e ganhos). Os portugueses António Guterres e António Horta Osório estão entre os três mil participantes do encontro.

O Fórum de Davos vai dedicar 15 sessões para discutir o aquecimento global, às quais se juntam mais nove sobre energia limpa. Os interesses dos grandes grupos económicos são vastos e vão desde seguradoras que antecipam secas e inundações cada vez mais frequentes, gigantes energéticas que se preparam para o mundo pós-petróleo e pós-carvão, passando por bancos que querem financiar essas operações. Como disse o presidente da Royal Dutch Shell, a maior petrolífera da Europa citado pela Bloomberg, “depois de Paris, todos sentem a obrigação de agir”. É que e acordo com a Agência Internacional de Energia as imposições de Paris podem significar até 2030, 13,5 triliões de dólares. São muitos zeros: 13.500.000.000.000 de dólares.

O acordo de Paris — estabelecido na cimeira de 2015 e assinado a 22 de abril de 2016, dia da Terra — foi considerado histórico não só pelas metas ambiciosas, mas por ter sido assinado pelos dois gigantes mundiais na economia (e na poluição), os Estados Unidos e a China. Agora Trump quer travá-lo. Já a China, que historicamente tentava boicotar acordos mundiais sobre a matéria, tenta agora ser timoneira nesta matéria.

Davos, um ensaio para guerra Trump-China?

A China parece empenhada no combate às alterações climáticas e dedicou a presidência do G-20 (e a cimeira, que se realizou em Hangzhou) à economia verde. Aliás, foi na véspera desse encontro, realizado em setembro de 2016, que os EUA e a China ratificaram o acordo de Paris.

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Donald Trump disse em 2012, num tweet, que o aquecimento global era uma invenção chinesa para prejudicar a economia norte-americana.

Na campanha eleitoral, o discurso continuou igual e no sentido de rasgar o acordo de Paris. No entanto, houve alguma moderação após ter sido eleito, tendo o Presidente-eleito admitido em novembro, em entrevista ao New York Times, que “há alguma relação” entre a atividade humana e as alterações climáticas. Disse ainda manter a “mente aberta” sobre o acordo de Paris, na mesma entrevista em que afirmou que “o ar limpo é de uma importância vital”, mas também é motivo de preocupação “o quanto irá custar às empresas” as medidas de combate às alterações climáticas.

Já a China, cada vez mais crispada com a futura administração norte-americana, vai marcar presença, em força, em Davos. Pela primeira vez, um presidente chinês, Xi Jinping, vai participar no Fórum Económico e Mundial. Os EUA estarão presentes, mas não se espera qualquer representante da futura equipa de Trump.

A era Trump deve mesmo marcar o encontro. Este domingo o presidente e fundador do Fórum de Davos, Klaus Schwab, afirmou quee “é importante ouvir os populistas” e que, por isso, espera ter um dia Donald Trump a “expressar as suas ideias” no Fórum suíço. Klaus Schwab acrescenta ainda que este ano haverá representantes de partidos populistas já que o Fórum de Davos quer ser “um verdadeiro centro de uma discussão global”.

As presenças de Davos: De Theresa May a Shakira

O 47º econtro anual do Fórum de Davos não vão faltar, entre os três mil participantes, grandes banqueiros, magnatas, génios informáticos ou chefes de Estado. Além do presidente chinês, está confirmada a presença da primeira-ministra britânica, Theresa May, mesmo numa semana difícil em que terá que irá definir a estratégia do seu Governo para o “Brexit”. Líderes europeus como Angela Merkel ou François Hollande não estarão presentes, mas no total são esperados em Davos 46 chefes de Estado.

Entre os responsáveis políticos estarão a presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, e o presidente cessante do Parlamento Europeu, Martin Schulz. O secretário-geral da ONU, António Guterres, também marcará presença.

Os Estados Unidos, em semana de tomada de posse do novo Presidente, não enviarão qualquer elemento da equipa de Trump, mas, em contrapartida, marcarão presença com dois pesos pesados da administração Obama: o vice-presidente Joe Biden e o secretário de Estado John Kerry.

Do lado da banca estarão figuras como Ana Botín (Santander), Stuart Gulliver (HSBC), o português António Horta Osório (Lloyds Bank), Jes Staley (Barclays) ou Tidjane Thiam (Credit Suisse). Do lado das grandes empresas tecnológicas, estarão presentes o fundador da Microsoft, Bill Gates e o fundador da Google, Sergey Brin,

À semelhança de outros anos, o Fórum conta com várias personalidades. O músico dos Black Eyed Peas Will.I.Am participa pela terceira vez, num evento onde também os atores Forest Whitaker e Matt Damon, o campeão de Fórmula 1, Nico Rosberg, a cantora Shakira e o chef britânico Jamie Olivier, também vão marcar presença.