Kimberly tinha três anos e Kelly apenas dez meses. Desapareceram a 26 de Agosto de 1985, de Warwick, estado de Rhode Island, na Costa Leste dos Estados Unidos, e reapareceram esta terça-feira, em Houston, Texas. Terá sido a mãe, Elaine Yates, a raptá-las há mais de 30 anos e é sob essa acusação que enfrentará a justiça.

A história começa num barco. Era sexta-feira e Russell, pai das meninas, tinha passado a noite toda fora. De manhã, Elaine encontrou-o no barco da família, na marina de Warwick. Estava com outra mulher e não era a primeira vez, conta o Providence Journal, que republicou a história do casal. Elaine gritou e saiu esbaforida em direção à casa da mãe, perto da praia, onde o casal tinha combinado passar o dia, na praia, com as meninas. Cerca de uma hora depois, Russell junta-se à família. O ambiente não era de festa mas Elaine estava calma. Russell pensou que estava perdoado.

Quando as filhas desapareceram, Russell Yates, o pai, assumiu ter agredido a mulher depois de ela o ter pressionado sobre o sucedido mas manteve sempre que a primeira agressão partiu de Elaine. A custódia das duas meninas foi dada ao pai com Elaine in absentia, já que não compareceu ao julgamento marcado para discutir precisamente a questão da custódia. Já estaria longe. As motivações de Elaine, a violência do episódio que terá causado a fuga e o itinerário percorrido pelas três mulheres ao longo de três décadas, os empregos de Elaine, as escolas que Kelly e Kimberly frequentaram sempre utilizando nomes falsos e tantos outros pormenores só deverão começar agora a ser conhecidos.

É um história errante, longa e triste.

Elaine e Russell casaram-se aos dezoito anos, frescos do liceu de Warwick, onde se tinham conhecido. Russell ainda cumpriu, depois disso, um tempo na Guerra Vietname mas, como escreve o jornal, “o seu destacamento acabou quando trouxe o cunhado para casa num caixão”. Ao longo do artigo, Russell passa dos exercícios de mea culpa — “Eu era um marido parvo, esperava que ela aturasse tudo” — para tiradas de marido rebelde — “Eu não ia deixá-la ameaçar a minha liberdade com as miúdas”. Na terça-feira, recebendo a notícia do reaparecimento das suas filhas à porta da casa onde sempre viveu, e através do mesmo jornal que o entrevistou em 1988, Russell disse “isto é sobre as minhas filhas. Espero que queiram estar comigo mas já são adultas, elas é que decidem. Eu procurei-as a vida toda”.

A polícia disse que já deu o número de Russell às suas filhas mas não quis acrescentar detalhes sobre a reação que terão tido. A identidade das raparigas, pela qual todos os seus amigos as conhecem, não deverá ser modificada nem revelada.

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