À medida que se aproxima o momento em que Donald Trump se torna oficialmente presidente dos Estados Unidos, as atenções voltam-se para a cerimónia do juramento constitucional. O dia vai ser cheio — veja a agenda aqui — mas há pormenores que vão saltar à vista, e questões que ainda estão por responder. Como vai reagir, por exemplo, Hillary Clinton, que estará na tribuna a poucos metros de Trump, devido à sua condição de antiga primeira-dama? E outros, mais mundanos: Trump vai ou não dizer so help me God no fim do juramento. É para estes momentos que as câmaras vão apontar esta sexta-feira.

Com ou sem “so help me God”?

I do solemnly swear that I will faithfully execute the Office of President of the United States, and will to the best of my ability, preserve, protect and defend the Constitution of the United States.”

“Eu prometo solenemente que irei desempenhar fielmente as funções de Presidente dos Estados Unidos, e irei dar o meu melhor para preservar, proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos”. Esta é a fórmula que a Constituição prevê para o juramento da posse do presidente. Sem o famoso so help me God, ou “que Deus me ajude”, que todos os presidentes desde Franklin D. Roosevelt, que tomou posse em 1933, têm acrescentado no final do juramento.

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A verdade é que há um artigo na Constituição norte-americana, conhecido como No Religious Test Clause, que determina que nenhum juramento religioso deverá ser exigido a quem ocupe um cargo público. A tradição diz que foi George Washington, o primeiro presidente dos EUA, a dizer a expressão ao jurar fidelidade à constituição, mas, segundo os historiadores, trata-se apenas de um mito. Resta saber se Donald Trump irá ou não dizê-la.

Duas bíblias

A utilização da Bíblia no juramento também não é uma imposição constitucional, mas é uma tradição desde a fundação do país, quando George Washington fez o seu juramento sobre uma Bíblia. Contam-se, aliás, pelos dedos das mãos os presidentes que não utilizaram a Bíblia no juramento: Theodore Roosevelt, em 1901, foi o primeiro a romper com a tradição, seguido de John Quincy Adams e Franklin Pierce, que utilizaram o texto da Constituição. Outra exceção foi Lyndon Johnson, que fez o juramento com a mão sobre um missal, a bordo do Air Force One, numa cerimónia improvisada após o assassinato de John F. Kennedy.

Esta sexta-feira, e à semelhança do que alguns presidentes já têm feito, Donald Trump vai jurar com a mão em cima de duas cópias da Bíblia. Uma delas é a chamada Lincoln Bible, que foi utilizada por Abraham Lincoln no seu juramento, em 1861. Atualmente, este exemplar está guardado na biblioteca do Congresso dos EUA. A outra Bíblia que estará sob a mão de Donald Trump quando o juiz John G. Roberts presidir ao juramento é a que o presidente eleito guarda desde criança.

US President Barack Obama takes the oath of office in front of First Lady Michelle Obama during the 57th Presidential Inauguration ceremonial swearing-in at the US Capitol on January 21, 2013 in Washington, DC. US Chief Justice John Roberts administered the oath. AFP PHOTO/Jewel Samad (Photo credit should read JEWEL SAMAD/AFP/Getty Images)

Barack Obama também fez o seu juramento com a mão em cima de duas cópias da Bíblia (Imagem: JEWEL SAMAD/AFP/Getty Images)

Juramento com Hillary a poucos metros

Um dos detalhes mais aguardados na cerimónia está relacionado com Hillary Clinton. É que a candidata derrotada por Trump é também a antiga primeira-dama dos EUA, mulher de Bill Clinton, motivo que a levará a estar na tribuna a poucos metros de Donald Trump durante o juramento. O momento inédito deverá ser seguido ao detalhe pelas máquinas fotográficas, já que, como escreve a Associated Press, Hillary deverá “tentar manter uma cara de póquer”. O que se pode revelar uma tarefa difícil, caso Trump se refira a ela durante o discurso.

WASHINGTON, DC - JANUARY 19: Workers prepare the platform stage on the West Front of the U.S. Capitol one day before the presidential inauguration, January 19, 2017 in Washington. DC. Trump will be inaugurated as the 45th U.S. President on Friday. (Photo by Drew Angerer/Getty Images)

A plataforma onde Donald Trump vai fazer o juramento já está a ser preparada. Hillary Clinton vai ficar pouco atrás, junto ao seu marido, Bill Clinton, e aos outros antigos presidentes norte-americanos. (Imagem: Drew Angerer/Getty Images)

Estilista para Melania? Tarefa difícil

Arranjar um estilista para vestir a nova primeira-dama não foi tarefa fácil. Depois de vários terem recusado, a imprensa especializada avança que havia dois estilistas a trabalhar nas roupas de Melania para o fim de semana: Ralph Lauren e Karl Lagerfeld. Mas o facto de tantos designers terem recusado vestir Melania, como recorda a AP, é político. São estilistas que discordam das ideias políticas de Trump e que não querem ver o seu nome associado à administração. O presidente eleito chegou a desvalorizar o assunto, ao afirmar que Melania não queria ser vestida por quem discorda do marido. É um dos grandes mistérios do dia.

TOPSHOT - US President-elect Donald Trump arrives with his son Baron and wife Melania at the New York Hilton Midtown in New York on November 8, 2016. Trump stunned America and the world Wednesday, riding a wave of populist resentment to defeat Hillary Clinton in the race to become the 45th president of the United States. / AFP / SAUL LOEB (Photo credit should read SAUL LOEB/AFP/Getty Images)

Melania Trump usou um vestido Ralph Lauren na noite eleitoral (Imagem: SAUL LOEB/AFP/Getty Images)

A música que Fiona Apple compôs para protestar contra Trump

No sábado, dia em que ainda se vivem os últimos momentos das cerimónias de tomada de posse de Trump, vai realizar-se uma marcha de protesto em defesa dos direitos das mulheres, em Washington. Segundo a revista Time, deverão participar cerca de 200 mil pessoas na manifestação, e uma das palavras de ordem será “We Don’t Want Your Tiny Hands, Anywhere Near Our Underpants”, que se traduz em qualquer coisa como “não queremos as tuas mãos pequenas perto das nossas cuecas”. Trata-se de uma música composta especialmente para a ocasião pela cantora Fiona Apple, gravada com um telemóvel:

https://www.youtube.com/watch?v=BB4_N3ceIas

“Números recorde”? Nem por isso

Donald Trump escreveu, num tweet, que se dirigem para Washington pessoas “em números recorde”. A verdade é que, escreve a AP, ainda há muitos quartos de hotel por alugar. A primeira tomada de posse de Barack Obama, em 2009, teve cerca de 1,8 milhões de pessoas nos jardins a assistir, e tudo indica que a cerimónia de posse de Trump não se aproxime deste valor. Ainda assim, Trump insiste no apoio que terá, sobretudo dos Bikers for Trump, motards apoiantes do novo presidente que querem proteger os restantes apoiantes “com um muro de carne”.