Membro de um restrito lote de modelos Ferrari habitualmente descritos como os mais especiais de sempre, do qual fazem parte modelos icónicos como o 288 GTO, o F40, o Enzo ou o LaFerrari, a verdade é que o Ferrari F50 continua a ser, de entre estes, aquele que menor reconhecimento, admiração ou até paixão consegue fazer despertar, junto dos inúmeros fãs da marca. Facto que não impediu que, nos Estados Unidos da América, um dos dois F50 preto com homologação americana atingisse, num leilão, valores estratosféricos: 3,135 milhões de dólares, ou seja, qualquer coisa como 2,928 milhões de euros.

Muitas vezes incompreendido pelos aficionados, que não lhe reconhecem sequer a beleza de um Enzo ou de um LaFerrari, o F50 é descrito, pelo próprio fabricante, como “a máquina extrema”. Desde logo, pelo facto de ter sido o primeiro “supercarro” da marca a envergar o V12 4,7 litros atmosférico -na altura com 520 cv às 8.000 rpm, lubrificação por cárter seco e bielas de titânio, e que, no fundo, nada mais era que uma derivação do mesmo motor que a marca utilizava no F1-89 com que competia no Campeonato do Mundo de Fórmula 1, em 1989.

O motor, que surgia instalado na parte traseira do habitáculo, lado a lado com a transmissão e a suspensão, não era o único componente “importado” da F1: também o chassi monocasco, fabricado em materiais compósitos tal como os painéis da carroçaria, inspirava-se na disciplina rainha.

Já o habitáculo seguia basicamente o mesmo princípio exibido no F40, ou seja, apresentava-se despido de equipamentos supérfluos ou pró-conforto, a não ser o ar condicionado. “Luxo” proposto de série e que se destacava num ambiente em que até os revestimentos ou os isolamentos acústicos eram apenas os estritamente necessários, como forma de não penalizar o peso. Daí, também, o recurso à fibra de carbono.

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Com a suspensão dianteira montada exactamente sob o habitáculo, o carro contava depois com uma subestrutura tubular à frente, para que aí ficasse fixado não só o radiador, como todos os componentes auxiliares.

Produzido entre 1995 e 1997, num total de apenas 349 unidades, o Ferrari F50 estava então disponível em cinco cores exteriores: dois tipos de vermelho, amarelo, prata e preto. Sendo que, desta última cor, foram fabricadas apenas quatro unidades, uma das quais acaba agora de mudar de proprietário.

O carro em questão, que é também a 62.ª unidade das 349 produzidas, foi licitado pela conhecida casa de leilões RM Sotheby´s no Arizona, EUA, com a particularidade de se encontrar praticamente novo, com apenas 3.300 km, além de incluir uma série de acessórios originais, entre os quais, o tecto rígido ainda arrumado na caixa, um conjunto de pequenos acessórios ainda por abrir, a lona de cobertura do carro também por estrear, dois conjuntos de chaves e a ferramenta específica que permitia desapertar as rodas. E mais: a unidade agora leiloada foi assistida, pela última vez, em Dezembro de 2016, para mudança de todos os fluídos e troca do tanque de combustível.

Mas para o valor recorde que o carro atingiu contribuiu também outro “pormenor” importante: o segundo F50 preto norte-americano já não existe, depois de ter “entregue a alma ao criador” há cerca de três anos, na sequência de um acidente. O que faz do F50 agora leiloado exemplar único nos Estados Unidos e um dos (apenas) três que restam em todo o mundo…