“Foi um ano excecional, conseguimos coisas históricas”, começou por dizer a presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, esta terça-feira, na apresentação da temporada de 2017. Em 2016 passaram pelo espaço portuense 682 mil visitantes, um aumento de 30% face ao ano anterior. Para continuar a bater recordes, Ana Pinho anunciou o prolongamento da exposição “Joan Miró: Materialidade e Metamorfose” em quatro meses, mas também novas exposições de Philippe Parreno, da Bienal de São Paulo e da própria Coleção de Serralves, que passará a estar visível em permanência.

Ana Pinho ainda não sabe quando começam as obras de adaptação à Casa de Serralves, que vai receber em permanência as obras do artista catalão Joan Miró. “Será sempre depois de terminar a exposição do Nick Mauss“, artista nova iorquino cujo trabalho vai estar na Casa de 22 de junho até 24 de setembro.

Serralves tem motivos para sorrir. Por causa da grande afluência aos Mirós, mas não só. “Foi um ano excecional, conseguimos coisas históricas”, sublinhou, referindo-se aos 682 mil visitantes que visitaram o Museu, a Casa e o Parque em 2016. Consolidar o número de visitantes portugueses e estrangeiros é um dos objetivos, assim como “aumentar as receitas próprias”. No ano passado, 162 mil estrangeiros visitaram o espaço localizado no Porto, o que representa um aumento de 40% face a 2015. Ao todo, 25% dos visitantes de Serralves são estrangeiros.

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Nick Mauss vai estar na Casa de Serralves entre 22 de junho e 24 de setembro. Só depois disso poderão começar as obras de adaptação para a exposição permanente de Joan Miró. © D.R.

Se em 2015 Serralves só levou as obras da sua Coleção de arte contemporânea a quatro locais do país, em 2016 fez 14 exposições fora de portas e este ano vão ser mais porque Ana Pinho acredita que “este é o caminho”. Entre exposições e atividades, no mapa do Museu estão 29 cidades de norte a sul do país, entre as quais Lisboa (Torreão Nascente da Cordoaria Nacional), que de maio a setembro vai receber pinturas, esculturas, desenhos, filmes e fotografias. Ao Museu Nadir Afonso, em Chaves, vai levar “uma ampla seleção de trabalhos da Coleção da Secretaria de Estado da Cultura, que estão em depósito em Serralves.

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A aposta na exibição da Coleção de Serralves vai fazer-se também no próprio museu. “A partir de maio, vai estar sempre exposta numa ala”, esclareceu Ana Pinho. Para esta primeira apresentação, que ficará patente até janeiro de 2018, o público vai poder ver obras das décadas de 1960 e 1970, bem como obras contemporâneas que se liguem a esse período.

Quem quer ver a Bienal de São Paulo na Europa tem de ir a Serralves

Das várias exposições de artistas nacionais e internacionais, quer consolidados, quer emergentes, Ana Pinho destacou o artista francês Philippe Parreno, cuja obra está atualmente em destaque no Tate Modern. “A Time Coloured Space” inaugura a 3 de fevereiro,foi concebida para funcionar em diálogo com a arquitetura de Álvaro Siza e é “a primeira mostra do artista em Portugal”, pelo que vai ocupar a totalidade do Museu.

Suzanne Cotter, diretora do Museu, anunciou uma retrospetiva de 20 anos de trabalho de Julie Mehretu, artista americana nascida na Etiópia. Dos nomes portugueses, destaque para Jorge Pinheiro, que em setembro terá expostas pinturas, desenhos e esculturas selecionadas pelo artista, e ex-aluno, Pedro Cabrita Reis. O espaço expositivo vai ficar a cargo do arquiteto Eduardo Souto de Moura. Outro arquiteto, Siza Vieira, vai ser alvo da exposição “Visões de Alhambra“.

A parceria com a Bienal de São Paulo, a segunda bienal mais antiga do mundo a seguir à de Veneza, mantém-se e, este ano, terá dois momentos. O primeiro, de 23 de junho a 24 de setembro, será no Parque, até porque o tema da 32.ª edição foi “Incerteza Viva”, ligado à ecologia. De 15 de setembro a 14 de janeiro de 2018, será o Museu a receber algumas obras de arte selecionadas, desde pinturas e esculturas até vídeos e instalações, que condensam as ideias da exposição brasileira e resultam de um diálogo entre o curador Jochen Voltz, e o diretor adjunto do Museu de Serralves, João Ribas. “É o único espaço na Europa onde a Bienal de São Paulo pode ser vista”, destacou Ana Pinho.

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“Incerteza Viva” foi o título da 32.ª Bienal de São Paulo. Algumas obras vão estar em exposição em Serralves. © D.R.

Nas artes performativas, a canadiana Janice Kerbel apresenta, no dia 11 de fevereiro, “Doug”, que lhe valeu em 2015 a nomeação para o Turner Prize. Na segunda metade do ano chega mais uma edição de “O Museu como Performance“e, em abril, uma colaboração com o Festival Dias da Dança. Em outubro, Serralves recebe a coreógrafa Alexandra Bachzetsis, que apresentará um programa duplo no Auditório de Serralves. E, em dezembro, será possível ver, em estreia nacional, os “Early Works” de Yvonne Rainer, que a Fundação considera “um dos momentos altos da programação performativa”.

Para os dias 3 e 4 de junho está reservada a 14ª edição do Serralves em Festa, o maior evento da cultura contemporânea em Portugal. Em Julho, como é habitual, Serralves apresenta a 26.ª edição do Jazz no Parque e ainda um ciclo de cinema ao ar livre, dedicado a José Álvaro Morais. Nos dias 23 e 24 de setembro tem lugar a Festa do Outono.

Domingos gratuitos não vão voltar

Questionada sobre se está nos planos da Fundação obrar uma entrada simbólica nos eventos Serralves em Festa e Festa do Outono, Ana Pinho esclareceu que o acesso se manterá gratuito, como sempre foi. “São eventos de grande público muito importantes para a nossa imagem próxima do público e também para as pessoas virem muitas vezes pela primeira vez cá e depois voltarem”, esclareceu.

Um dos objetivos da Fundação para 2017 é “procurar que o Estado reponha os compromissos estatutários”, disse a presidente. No ano passado, o primeiro-ministro foi a Serralves prometer pagar metade do corte que tinha sido aplicado pelo Governo PSD/CDS. “E fê-lo, o Estado pagou 600 mil euros adicionais em 2016”, confirmou Ana Pinho. Falta saber se a reposição da totalidade do subsídio vai acontecer este ano.

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Ana Pinho (à direita) recebeu António Costa em abril de 2016 e ouviu a promessa de que as verbas seriam repostas. © Fundação de Serralves

A 1 de fevereiro, o preço do bilhete para visitar o museu subiu de 8,50 para 10 euros. As entradas gratuitas para estudantes com mais de 13 anos acabaram, assim como as manhãs de domingo, sendo que agora é possível entrar gratuitamente no espaço apenas no primeiro domingo de manhã de cada mês. Na altura, a diretora-geral de Serralves, Odete Patrício, justificou a decisão com os cortes que o Estado tem vindo a fazer desde 2013, não transferindo as verbas que foram acordadas com a Fundação.

Recentemente, o Ministério da Cultura autorizou o Fundo de Fomento Cultural a transferir 500 mil euros por ano, com o objetivo de adquirir obras de arte para a coleção do Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Para além do Estado, Serralves aumentou também as receitas próprias e “significativamente” as contribuições dos mecenas. No entanto, a reposição dos domingos gratuitos não está em cima da mesa. “Temos o primeiro domingo gratuito de cada mês e assim continuará”, frisou.