As capas e as ilustrações eram coloridas e todas desenhadas por nomes sonantes como José Garcês, Fernando Bento ou Yves Duval. O “Foguetão – Semanário juvenil para o ano 2000” saiu da cabeça de Adolfo Simões Müller em 1961 diretamente para as mãos dos miúdos dos anos sessenta, depois mesmo do autor ter criado o jornal “João Ratão” ou o suplemento “Nau Catrineta” (Diário de Notícias) para o mesmo público. A missão era aproximar a imprensa dos mais jovens, disse o próprio jornalista: O “Foguetão” tinha de ser “um jornal crescido para os mais novos, um jornal novo para a gente crescida, um jornal do ano 2000 que se lê em 1961, sempre na órbita da juventude”. As páginas enchiam-se de profecias que imaginavam um novo milénio onde o jornal caberia na palma de uma mão.

De acordo com o documento disponibilizado pela Câmara Municipal de Lisboa na Internet, Afonso Müller queria dar aos jovens daquele tempo algo que pudessem recordar um dia como próprio do seu tempo: “Lembram-se com saudade muitos pais, e mesmo alguns avós, do ‘Papagaio’ e do ‘Sr. Doutor’. Outros, muito jovens, recordam-se, igualmente saudosos, dos semanários que sucederam àqueles, já mais trepidantes, desde o ‘Diabrete’ até ao ‘Cavaleiro Andante’. Mas a juventude de hoje, a ‘nova vaga’, deseja ver também o seu jornal, o que corresponda à sua época, às suas preferências, aos seus sonhos”. A Empresa Nacional de Publicidade ouviu-o e lançou, durante um trimestre, o jornal Foguetão.

Em 2000, imaginava-se em 1961, iríamos entrar em viagens “ao mundo do passado” e ao “mundo de amanhã”, a Ciência tinha em muito ultrapassado qualquer encanto da ficção científica e… a sociedade tinha descoberto finalmente como deslindar os segredos do amor. Tanto que o primeiro número tinha na manchete: “A caminho do coração e da inteligência de todos os rapazes e de todas as raparigas”. Essa era uma viagem que o Piloto Chefe comandava. Também ele havia de protagonizar a última aventura daquele jornal, onde se despedia dizendo: “Valha-nos, como triste consolação, a ideia de que também o lançamento de foguetões a sério não tem sido lá coisa muito fácil…”.

Entre maio e julho de 1961, o “Foguetão” foi lido por 30 mil leitores, insuficientes para que o jornal tivesse viabilidade económica. Fechou cheio de ideias sobre o que aconteceria dali a 56 anos.

Será que acertaram em tudo? Veja na fotogaleria as quinze páginas do Nº11, todas disponibilizadas aqui.

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