O ministro dos Negócios Estrangeiros garantiu, esta quarta-feira, que a proposta portuguesa para promover a mobilidade no espaço da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) “em nada colide” com a pertença de Portugal ao espaço Schengen.

Augusto Santos Silva respondia assim ao presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, que esta terça-feira defendeu que a liberdade de circulação no interior da CPLP seria incompatível com a pertença de Portugal ao acordo de Schengen, que permite a livre circulação de pessoas no espaço europeu.

“Registo que, dois meses depois, o PSD tenha expressado uma posição sobre uma decisão tomada na cimeira de Brasília. Já vi reações mais rápidas, mas entendo os ritmos que cada um dos partidos políticos prefere seguir”, disse Santos Silva, referindo-se à proposta apresentada pelo Governo português na última reunião de chefes de Estado e de Governo da CPLP, realizada na capital brasileira entre 31 de outubro e 1 de novembro do ano passado.

Portugal propôs o reforço da mobilidade no espaço da CPLP através da criação de um modelo de autorizações de residência, associado ao reconhecimento de títulos académicos e qualificações profissionais e à manutenção de direitos sociais como os descontos para os sistemas de pensões.

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“O que está em causa é um regime de mobilidade interior à CPLP que em nada colide com as obrigações portuguesas como Estado-membro da União Europeia e, em particular, do espaço Schengen”, afirmou o chefe da diplomacia europeia.

Segundo Santos Silva, “não há nenhuma contradição entre Portugal ser membro do espaço Schengen e dispor de um regime de autorização de residência próprio que regula por legislação nacional”.

O ministro recordou que o Governo dirigido por Pedro Passos Coelho (PSD/CDS-PP) criou autorizações de residência para fins de investimento (os chamados ‘vistos gold’) e, agora, a proposta visa um regime específico para cidadãos de países membros da CPLP.

A medida, que considerou “alavancar, como nenhuma outra, a cidadania lusófona”, implica “dois requisitos: que todas as questões relativas à segurança sejam salvaguardadas e que haja reciprocidade entre os países membros da CPLP”, acrescentou.

Santos Silva considerou que “a preocupação” expressa por Passos Coelho “não tem fundamento” e referiu que nenhum deputado do PSD “exprimiu sequer uma dúvida” sobre esta matéria, em sede da comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros.

“Mas estou inteiramente disponível para, em qualquer sede, falar com quem seja preciso falar, do PSD ou de qualquer outro partido, para que isto fique claro para todos”, afirmou.

O primeiro-ministro português, António Costa, afirmou que Portugal se vai empenhar para que essa “seja uma das marcas deste secretariado executivo” da CPLP, entre 2017 e 2018, e para que se chegue à próxima cimeira da organização, em 2018, “com este acordo já estabelecido e em plena execução”.

Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que a ideia da proposta portuguesa “é permitir, não apenas a empresários, não apenas a estudantes, a todos os cidadãos circular no espaço da CPLP”.