As frases saem-lhe disparadas: “O ObamaCare é um desastre”, “vamos transferir o poder de Washington para o povo”, “vamos restaurar a lei”, “não há nada de justo nos media”, “vamos correr com os imigrantes criminosos”, “a hora da justiça para o trabalhador americano chegou”, “a falta de segurança é uma ameaça para a soberania dos EUA”, “a NAFTA tem sido um acordo terrível”, “vamos criar milhões de empregos”, ““acabar com as restrições” ambientais”, “vamos proteger americanos dos terrorismo radical islâmico”, “temos de proteger as urnas do voto ilegal”. Trump continua a ser Trump e os Republicanos aplaudem.

No Congresso do partido, em Filadélfia, esta quinta-feira, o presidente dos Estados Unidos falou ao partido que recusou tê-lo como candidato à Casa Branca em seu nome e que, agora, no reencontro, aplaude com entusiasmo, frase após frase, as ideias feitas, os planos, as provocações. O partido rendeu-se ao homem que chegou de fora, arrumou com a concorrência interna e tirou a eleição do colo de Hillary Clinton.

Na “madrugada de uma nova era”, Trump voltou o “power to the people” que já tinha ensaiado na última sexta-feira, quando tomou posse. Com a sua administração, “as pessoas estão no comando do seu destino”, garante o presidente norte-americano. Aos congressistas, avisa: “Vamos ter o congresso mais ocupado que tivemos em décadas, se calhar o mais ocupado de sempre”. Trump tomou posse há menos de uma semana e quer ver o ritmo de trabalho da sua Administração replicado no partido.

“Chega de conversa sem ação”, está na hora de concretizar uma “grande e duradoura mudança” — essa expressão tão cara a Obama, que lhe valeu a entrada a Casa Branca. O seu antecessor é, de resto, um dos alvos de Donald Trump. “O ObamaCare é um desastre”. A vontade, assume, era não fazer nada, não reverter o programa de assistência na saúde a milhões de americanos e deixar a água ferver. “Se esperássemos dois anos, [o programa] ia explodir como nunca se viu uma explosão, ninguém ia conseguir paga-lo”, garante o presidente norte-americano. Qual a base para sustentar essa ideia, Trump não diz.

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Perante os republicanos, o novo morador de Washington passa em revista os primeiros dias (ainda não passou uma semana) do seu Governo. Trump já lançou as bases para a construção de novos oleodutos — com “materiais americanos e mão-de-obra americana” –, bloqueou a atribuição de fundos a organizações não-governamentais para a realização de abortos e encostou o presidente mexicano às cordas ao ameaçar rasgar o Acordo de Comércio Livre Norte-Americano (NAFTA) se os vizinhos do sul mantiverem a posição de não pagar o muro que o próprio Trump lançou como umas das principais promessas de campanha da sua candidatura. Trump fala da “falta de segurança” nos EUA, da “ameaça” que isso representa para a “soberania” do país, e sintetiza: “O NAFTA tem sido um acordo terrível, um desastre para os EUA, custando-nos 60 mil milhões de dólares por ano. Não permitirei que os cidadãos e contribuintes americanos paguem este acordo”.

O horizonte também se mostra “grandioso” para o presidente norte-americano. Esta sexta-feira vai encontrar-se com a primeira-ministra britânica, Theresa May, para falar sobre relações comerciais (um tópico central para o Reino Unido, que procura reanimar o fluxo de negócios com os EUA face à eminente saída da União Europeia). “Não tenho a minha secretária para Comércio [nomeada], tenho de fazê-lo eu, mas está tudo bem”.

Depois, a administração Trump vai “criar milhões de novos e bem pagos empregos”, vai “baixar impostos para a classe média e para todas as empresas americanas”, vai tirar as pessoas “da assistência social e devolvê-las ao mercado de trabalho”, vai “construir estradas, aeroportos, caminhos de ferro”, mas vai primeiro reconstruir o que já existe, “porque temos infraestruturas em muito mau estado”. Também vai rasgar as “restrições ambientais” e enviar os mineiras de volta para as minas de carvão.

Trump diz que vai conseguir tudo isso graças ao “grupo de all stars” que reuniu à volta da sua Administração, um grupo “como nunca ninguém viu”, defende. E, nessa torrente de projetos, promessas, ideias feitas, uma mensagem para os media que “nunca dão cobertura” às pessoas que se juntam para apoiar o novo inquilino da Casa Branca. “Não é justo, mas não há nada de justo nos media”, desabafa. Gargalhadas. E mais um aplauso do partido.