Se tem o hábito de comprar curgetes, essa variedade de abóbora de casca verde e polpa branca ou amarelada, é provável que já tenha reparado que estão mais caras. Bastante. Não, não é impressão sua: as vagas de frio que se fizeram sentir na Europa afetaram alguns dos principais países fornecedores de curgetes para a Europa — Espanha e França incluídos –, o que se traduziu numa menor disponibilidade do produto. Regra básica do mercado: menos oferta, mais procura igual a subida de preços.

Já no final de janeiro se falava de uma crise de curgetes no Reino Unido, com o legume a rarear nas prateleiras de supermercados e respetivos preços a subir em flecha. De lá para cá, o problema piorou e esta sexta-feira é notícia de que há mesmo um racionamento de legumes nos supermercados britânicos.

Na primeira quinzena do ano a situação ainda não se refletia em Portugal, mas o cenário acabou por mudar. Exemplo disso é o preço praticado no Biomercado, em Lisboa, onde nas últimas duas semanas a curgete sofreu um aumento significativo, na ordem de 1,50€. Se antes um quilo de produção nacional custava cerca de 4,50€/quilo, agora o preço está nos 6€/quilo. Uma subida 33%. Um aumento que, diz o gerente deste espaço, aconteceu de um momento para o outro.

Foram as noites frias com formação de geada, a falta de chuva e o vento frio e seco do leste, muito persistente, que acabaram por afetar a produção nacional de legumes frescos. Importa, porém, referir que por cá esta produção de legumes é feita essencialmente em estufas, sendo mais fácil contornar as amplitudes térmicas e restantes condicionantes meteorológicas. João Dinis, diretor da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), esclarece que essas culturas não enfrentaram grandes problemas, embora tenha existido um aumento nos custos de produção (abaixo dos 15%). Já quanto aos legumes produzidos ao ar livre houve, de facto, uma redução da oferta nacional, contribuindo assim para o aumentos dos preços.

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Mas a curgete não está sozinha, com Maria Antónia Figueiredo a assegurar que o mesmo se passa com a beringela. Já nas couves, cuja produção é sobretudo feita ao ar livre, “há menos produto por causa das baixas temperaturas — o desenvolvimento vegetativo é mais lento — e tem havido uma procura internacional pelo nosso produto”.

Carlos Marques da Horta Pronta — organização que congrega 100 produtores da região do Oeste e do Ribatejo e que vende as produções dos seus associados — garante que neste momento há falta de produtos (referindo-se aos legumes importados de Espanha) e que a curgete é de facto o legume que mais escasseia. É que apesar de Portugal produzir muitas curgetes, neste momento a produção nacional não é suficiente para o consumo interno.

Considerando o sector dos legumes frescos (frutas, legumes e flores), atualmente Portugal exporta mais de metade do que produz, garante Gonçalo de Santos Andrade, vice-presidente da Portugal Freshem 2015 o sector exportou 1.224 milhões de euros e importou 1.261 milhões de euros. “Estamos quase com a balança equilibrada”, diz, lembrando que em 2011 o valor das exportações foi bem menor (837 milhões de euros para 1.152 milhões de euros de importações). Gonçalo de Santos Andrade fala de um crescimento de 10% ao ano.

O principal país para onde Portugal exporta é a Espanha em 2015 exportou-se 352 milhões de euros em legumes –, mas é também de Espanha que importamos mais. “Todas estas vagas de frio têm uma influência grande, pelo que a procura é neste momento superior à oferta”, explica o vice-presidente da Portugal Fresh, confirmando que o aumento de preços das curgetes deve-se ao frio que assolou as principais zonas de abastecimento de Portugal e da Europa — falamos essencialmente de Múrcia, em Espanha.

Na Frutas Patrícia Pilar, sociedade criada em 2005 que se dedica ao comércio por grosso de produtos hortofrutícolas, a média do preço semanal de saída de curgete em leilão passou de 1,18€ por quilo na primeira semana de dezembro de 2016 para 3,06€ entre 26 de janeiro e 1 de fevereiro. Ou seja, subiu 159%. Neste caso, os preços aumentaram significativamente desde o início de dezembro até agora.

Apesar de a situação em Portugal ser francamente melhor do que em Espanha ou Itália ou França, Maria Antónia Figueiredo, secretária-geral da CONFAGRI — Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas, esclarece que esta variedade de abóbora está efetivamente mais cara:

As cotações da curgete realmente aumentaram em Portugal porque cá não há produção suficiente. O que se está a verificar é que os produtores nacionais, sobretudo os do Oeste, estão a produzir menos curgete com receio das condições climatéricas e por ser uma cultura sensível. Como há menos produto cá, e mesmo em Espanha também há pouco, os preços subiram.

O aumento do preço das curgetes junto do consumidor final significa que houve possibilidade de especular, nomeadamente nas grandes superfícies, afirma João Dinis da Confederação Nacional da Agricultura, garantido que estas continuam contudo a impor preços baixos aos seus produtores: “À produção o preço aumentou muito pouco, mas no consumo os preços são bastante mais caros”.

A curgete passou a ser bastante utilizada em Portugal como legume de acompanhamento e em sopas em substituição da batata, por ter muito menos calorias.