Marques Mendes sublinhou este domingo o que já tinha afirmado no espaço de comentário que tem semanalmente na SIC – que o Governo de António Costa está “paralisado” desde que o Orçamento do Estado foi aprovado, em novembro. “Tirando a questão da concertação social e da TSU [Taxa Social Única] não houve mais nenhuma medida relevante. Quem for ao Diário da República, aquilo é uma miséria”, disse.

Para o comentador político, o primeiro-ministro “não esteve bem” nos últimos dois debates parlamentares, porque “estava sem iniciativa, muito à defesa e sem instinto matador” e que isso estava a acontecer por duas razões: “o governo está sem agenda” e tem “um defeito de fabrico” – a ausência de um vice-primeiro-ministro.

“Acho que isto acontece por duas razões. Primeiro, porque o Governo está sem agenda, porque os acordos que existiam com o BE e o PCP estão esgotados, esgotaram com o Orçamento do Estado. Não acho que sejam precisos novos acordos, mas acho que é preciso uma nova agenda. Porque o Governo está a fazer gestão corrente, navegação à vista”, afirmou.

A segunda razão diz respeito a um “defeito de fabrico”, explicou Marques Mendes. “Falta um número 2, um vice-primeiro-ministro para as questões internas, que substitua António Costa”, disse, explicando que quando o primeiro-ministro se ausenta, “não há governo”. “É um Governo unipessoal”, reiterou.

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O comentador político foi buscar o caso da passagem da gestão da Carris para a Câmara Municipal de Lisboa para exemplificar que não vai haver “crise política nenhuma” na “geringonça”, comprovando-o com o recuo do PCP na matéria.

“PS, PCP e Bloco de Esquerda não querem crise política nenhuma, estão unidos para o bem e para o mal”, disse, justificando que “quem provocar uma crise é fortemente penalizado” e porque, apesar de tudo, estes partidos “gostam mais de estar no poder ou próximo dele do que na oposição”. “O poder fascina”, rematou.

Administração da CGD “sem trapalhada nenhuma”

Sublinhando que acha a nacionalização do Novo Banco uma “tontaria para o dinheiro público”, Marques Mendes referiu que segundo o que entendeu da entrevista da ministra da Presidência, Maria Manuel Leitão Marques, ao Diário de Notícias e à TSF, o fundo privado que comprar o Novo Banco – o Lone Star foi selecionado pelo Banco de Portugal como a melhor oferta – vai “recapitalizar o Novo Banco”, mas não vai pagar “praticamente nada” agora ao Estado, distribuindo, antes, dividendos.

“E vai assumir o risco todo porque vai deixar cair a garantia do Estado”, disse Marques Mendes.

Sobre a nova administração da Caixa Geral de Depósitos – que tomou posse na semana passada -, Marques Mendes elogiou o processo de entrada dos novos administradores, liderados pelo ex-ministro da Saúde, Paulo Macedo. Mendes sublinhou que tinha sido tudo feito com “muita serenidade, tranquilidade, sem trapalhada nenhuma” e que isso era “uma boa diferença”.

Referindo que Paulo Macedo é de “uma personalidade fortíssima” e que “não vai deixar ninguém imiscuir-se ou intrometer naquilo que é da sua competência”, o comentador e ex-líder do PSD ressalvou que ao fim de um ano, “a Caixa tem finalmente uma administração estável e que isso é uma boa notícia”.

“José Sócrates sente-se muito encurralado”

Marques Mendes não tem dúvidas quanto a José Sócrates. Para o ex-líder do PSD, a notícia de que o ex-primeiro-ministro vai processar o Estado português por “prejuízos” causados por demora na investigação do processo “Operação Marquês” acontece agora, porque Sócrates “se sente muito encurralado”.

“Sente-se encurralado sobretudo depois do depoimento de Hélder Bataglia”, disse Marques Mendes. “Está mais encurralado do que nunca”, acrescentou.

Para o comentador, o único objetivo de Sócrates com este processo é político. “Quer ter mais uma oportunidade para se fazer de vítima, utilizar mais uns minutos do telejornal. Isto é o modo de operar de José Sócrates”, disse. Quando questionado sobre o porquê de ter sido agora, Mendes explicou que o ex-primeiro-ministro “já percebeu que vai ser acusado” e quer uma “espécie de tempo de antena por antecipação”. E termina dizendo que o processo “cheira um pouco a desespero”.