É raro, mas Arménio Carlos está de acordo com o líder da oposição, Passos Coelho, ao dizer que os acordos que suportam o Governo estão “praticamente esgotados“. Em entrevista publicada esta segunda-feira no Jornal de Negócios, o secretário-geral da CGTP defende que o processo de negociação à esquerda tem de ser “evolutivo” e deve “procurar ir mais longe.” O sindicalista, que é também membro do Comité Central do PCP, é assim mais uma voz a exigir um novo fôlego na geringonça, numa altura em que os comunistas se têm demarcado do PS. O Bloco de Esquerda já fez o mesmo apelo. A esquerda quer mais.

Arménio Carlos defende que “neste momento em que os compromissos estão praticamente esgotados, relativamente aos documentos que foram subscritos”, é altura de entrar “numa outra fase”. Para o secretário-geral da CGTP “a pior coisa que nos podia acontecer, até para afirmar uma diferença em relação ao que se passou com o governo PSD/CDS e com a troika, era iniciarmos um processo e chegarmos agora a meio e constatarmos que ele tinha estagnado. Um processo tem de ser evolutivo e de procurar ir mais longe.”

O “acordo” não tem que ter “necessariamente” essa designação, já que “o que é preciso é haver entendimento sobre matérias muito concretas para que essas matérias possam ser consideradas e possam evoluir”. Quanto a um novo acordo, Arménio Carlos lembra que é “uma matéria reservada aos partidos. Eles é que terão de decidir se seguem esse caminho ou não. Por esse caminho ou por outro tem de haver uma evolução.” O sindicalista adverte ainda que “não há da parte do Governo o tal sinal de um passo em frente em matérias fundamentais.”

O PCP — partido do qual Arménio Carlos é dirigente e ao qual a CGTP tem uma ligção umbilical — tem feito várias críticas ao Governo, o que vários analistas políticos associam à proximidade autárquicas. Só nos últimos tempos foram vários os golpes: primeiro com a chamada da redução da Taxa Social Única (TSU) a apreciação parlamentar, depois nas críticas à municipalização da Carris (que saiu das mãos da administração central para a câmara de Lisboa). Se dúvidas existissem, no último editorial do Avante!, o PCP ainda fazia referência à questão da TSU, dizendo que a votação tinha “um importante significado político”.

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Para o PCP, o que se passou na TSU “contribuiu para o esclarecimento da nova fase da vida política nacional, sublinhando particularmente o facto de não existir um governo de esquerda nem tão pouco uma coligação, maioria de esquerda ou acordo de incidência parlamentar de apoio ao governo, mas sim um governo minoritário do PS.” Os comunistas sugerem, no entanto, que querem continuar com esta solução: “O PCP continua empenhado em levar o mais longe possível e aproveitar todas as possibilidades que a nova fase da vida política apresenta para defender, repor e conquistar direitos.”

O Bloco de Esquerda também já admitiu que há outros temas que quer explorar no acordo de Governo. “Nós avançámos muito rapidamente nalgumas matérias do acordo – noutras estamos a avançar mais lentamente. E estamos a abrir negociações em matérias novas. Matérias que no princípio nem chegámos a abordar“, explicou a líder do Bloco de Esqueda em entrevista ao Público em janeiro. Catarina Martins explica que essas adendas ao acordo de Governo “são temas complicados, mas se houver vontade do PS e do Governo pode haver margem para alterações que vão ao encontro da expectativa de esquerda sobre a mudança política e que são compagináveis com os parâmetros do próprio PS.”

Quem parece pouco disponível a renegociar os acordos. No último sábado, o Expresso um ministro (que não identificava) a dizer que “os acordos estão muito longe de estar esgotados. O acordo foi celebrado assumindo a perspetiva da legislatura. Só estará concluído a 100% nesse momento.” O líder da oposição, Pedro Passos Coelho, disse no encontro da última quinta-feira com os líderes distritais que o acordo entre os partidos da esquerda “foi-se esgotando.”