A Grécia tem feito progressos com vista a reduzir os enormes problemas orçamentais e a restaurar o crescimento económico, mas a dívida do país helénico permanece insustentável, afirmou o Fundo Monetário Internacional (FMI), defendendo um alívio adicional.

Num comunicado divulgado na noite de segunda-feira, o FMI assinala que, apesar dos avanços registados, as dívidas da Grécia continuam “insustentáveis” a longo prazo, mas há divergências no seio do organismo relativamente às medidas a tomar e aos objetivos financeiros que devem ser atingidos.

A dívida helénica ronda 180% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o FMI, pelo que a maioria dos diretores do organismo internacional diz que a Grécia irá provavelmente necessitar de um alívio da dívida para poder pagar as suas contas a longo prazo.

O FMI indicou que a maioria dos membros do conselho de administração concordou que, “apesar dos enormes sacrifícios da Grécia e do generoso apoio dos parceiros europeus, alívio adicional pode ser necessário para restaurar a sustentabilidade da dívida”. Esse alívio da dívida deve ser acompanhado, contudo, por “uma forte implementação de políticas para restaurar o crescimento e a sustentabilidade”.

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O conselho de administração do FMI, que representa os 189 estados-membros da instituição, reuniu-se para discutir o relatório anual sobre a economia grega que considera a situação da dívida “insustentável” e “explosiva” a longo prazo.

O FMI prevê que a economia da Grécia irá alcançar um crescimento anual inferior a 1% a longo prazo, um valor que embora não seja impressionante traduz uma melhoria face aos anos em que está mergulhada em recessão. Em paralelo, antecipa que Atenas irá cumprir a meta do FMI ao registar um excedente orçamental anual primário — sem os encargos com a dívida, como o pagamento de juros — equivalente a 1,5% do PIB real.

Desde que a crise financeira mergulhou a Grécia em dívidas, deixando o país sem capacidade para emitir títulos nos mercados financeiros, o país tem-se mantido à tona graças a resgates financeiros internacionais. Os seus credores na zona euro obrigaram Atenas a aplicar cortes orçamentais penosos que levaram a uma profunda recessão na Grécia, onde a taxa de desemprego corresponde a 23%.

A Grécia está atualmente sob pressão para concluir as negociações do resgate financeiro mais recente a tempo da reunião de ministros das Finanças da zona euro, marcada para o próximo dia 20.

Tal permitiria ao país juntar-se ao programa de aquisição de títulos do Banco Central Europeu, o que impulsionaria a confiança do mercado e tornaria mais fácil o regresso da Grécia aos mercados de dívida este ano. Este diagnóstico compromete seriamente a participação financeira do FMI no terceiro programa de assistência financeira à Grécia concedido pela zona euro em 2015.

De acordo com as suas regras internas, o FMI, que participou nos dois programas de resgate concedidos anteriormente à Grécia, em 2010 e 2012, não pode conceder empréstimos a um país se considerar a dívida deste insustentável. Num relatório a que a agência AFP teve acesso apela à zona euro para fazer mais no sentido de aliviar a dívida grega e permitir a participação do FMI no programa. Mantendo uma linha dura em relação a Atenas, a Alemanha opôs-se publicamente a um novo alívio da dívida grega e recusa qualquer diagnóstico catastrófico das finanças públicas do país.

O FMI não identifica os membros do conselho em causa no comunicado, no qual nota que os diretores “sublinharam a necessidade” de haver “assunções realísticas relativamente à capacidade da Grécia para gerar excedentes sustentáveis e crescimento a longo prazo”, ponto cerne na divergência entre o FMI e a zona euro.

As divergências também se notaram de um ponto de vista mais técnico: “A maioria dos diretores [representantes de países ou de grupos de países] concordou que a Grécia não precisa de mais consolidação orçamental desta vez”, dado que é esperado que o país atinja a meta de 1,5%. No entanto, “alguns diretores são a favor de um excedente orçamental primário de 3,5% do PIB em 2018”, um objetivo que o FMI considera pouco realista, refere o comunicado.