A Autoridade de Controlo e Imigração e Fronteiras dos Estados Unidos (com a sigla ICE, em inglês) prendeu mais de cem pessoas numa operação de identificação de imigrantes ilegais com registo criminal. A operação durou uma semana e está a deixar as comunidades imigrantes “em pânico”, segundo relatos dos advogados contactados por pessoas que não cometeram qualquer crime e que também foram alvo da ação do ICE.

Numa “rusga” coordenada em pelo menos seis estados norte-americanos, esta é a primeira operação do género desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos e desde que assinou uma ordem executiva na qual tentava impedir a entrada de cidadãos provenientes de países de maioria muçulmana. Estas notícias, justapostas às inúmeras promessas do Presidente para expulsar os imigrantes ilegais e proteger o país de potenciais terroristas tem deixado alguns ativistas pró-imigração em estado de alerta.

As autoridades confirmaram que os seus agentes conduziram de facto estas operações tanto em casas particulares como em locais de trabalho em Atlanta, Chicago, Nova Iorque, Los Angeles, Carolina do Norte e do Sul. O porta-voz do ICE, Gillian Christensen, disse porém que foi “uma ação de rotina”, planeada antes das ordens executivas de Donald Trump.

O Departamento de Segurança Interna norte-americano, do qual o ICE faz parte, já tinha recebido ordens de Donald Trump, no fim de janeiro, para que alargasse a lista de crimes pelas quais um imigrante poderia ser deportado — um deles é precisamente “entrar no país ilegalmente”. Abusar do sistema de ajudas sociais, por exemplo, também pode ser motivo. A lista completa está no diário norte-americano New York Times.

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Los Angeles (e a área circundante) é uma das cidades com maior concentração de imigrantes de todo o país e alguns advogados que foram chamados aos centros de detenção de imigrantes ilegais acusaram o ICE de fazerem desta população um alvo, sem que tivessem primeiro provado que estes estariam envolvidos na prática de crimes.

A cidade californiana foi onde mais pessoas se manifestaram contra estas “rusgas”.

“Esta é claramente a primeira onda de ataques da Administração Trump e não será a única”, disse ao Washington Post Cristina Jimenez, diretora executiva do grupo de jovens pró-imigração United We Dream. Também Angelica Salas, diretora executiva da Coligação para os Direitos Humanos dos Imigrantes de Los Angeles, citada no mesmo artigo, disse que conhecia bem “as rotinas dos policias que normalmente conduzem estas operações” e que “este tipo de ação não é normal”.

Salas disse ainda que a sua organização tinha recebido relatos de vários advogados que lidam com questões de imigração onde estes descreviam situações de pessoas detidas sem terem no cadastro qualquer crime violento. Segundo a dirigente, um dos homens não tinham qualquer entrada no registo criminal e outro tinha uma multa por excesso de velocidade.

O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ofereceu amnistia a milhares de imigrantes que conseguissem provar que cuidavam de menores mas foi também durante os seus dois mandatos que os Estados Unidos deportaram mais gente, cerca de 2,4 milhões de pessoas, o maior número na história dos Estados Unidos. Estima-se que quase um milhão e meio de pessoas tenham pedido essa amnistia, mas para que lhes fosse atribuída os imigrantes tinham que dar conhecimento às autoridades da sua morada, informação agora acessível ao ICE.

Donald Trump já disse várias vezes que iria implementar uma política de “tolerância zero” à imigração ilegal e prometeu deportar três milhões de pessoas sem documentos válidos. As últimas estatísticas dão conta de mais de 11 milhões de pessoas a viver ilegalmente nos Estados Unidos.