A demissão de Michael Flynn de conselheiro da Segurança Nacional promete continuar a fazer correr muita tinta, até entre a maioria republicana, que pede a abertura de inquéritos sobre o caso, tanto à fuga de informação, como às conversas que Flynn terá tido com o embaixador russo nos Estados Unidos. Para já, Flynn consegue a proeza de ser quem menos tempo esteve no cargo e o terceiro elemento ligado a Trump que sai devido às ligações à Rússia.

Não é de hoje que a Rússia provoca sobressaltos à volta de Donald Trump. Durante a campanha houve várias acusações de ligações da equipa de Donald Trump ao Governo russo.

O primeiro foi Carter Page, que Trump disse há cerca de um ano que seria um do seus conselheiros de política externa. Page terá sido afastado da campanha depois de acusações de que estaria em contacto com responsáveis russos sobre as sanções económicas aquele país e que teria até recebido do presidente de uma petrolífera russa uma oferta — 19% do capital social da empresa –, para deixar cair as essas sanções. A participação de Carter Page junto de Trump foi desmentida meses mais tarde por Kellyanne Conway, à data responsável pela campanha presidencial.

Meses mais tarde foi Paul Manafort, chefe da campanha de Trump, que também saiu devido às suas ligações à Rússia. Em agosto, numa semana em que Donald Trump tentava remodelar as suas acções para recuperar nas sondagens que o davam muito atrás de Hillary Clinton, Manafort não resistiu à pressão ao ser conhecido que o lobista tinha trabalho para oligarcas russos. A fraca organização da convenção republicana, pela qual estava responsável, deixaram-no numa posição ainda mais precária.

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Michael Flynn é assim a terceira baixa na campanha de Trump devido a ligações à Rússia. O general na reserva nunca foi uma figura consensual, apesar de ser próximo de Donald Trump, e as explicações da Casa Branca sobre a sua conversa com o embaixador russo nos EUA ainda antes de Donald Trump tomar posse não conseguiram matar a polémica.

Para além das polémicas individuais, está a decorrer há meses um inquérito das agências de segurança norte-americanas à alegada influência de responsáveis russos nas eleições norte-americanas, uma influência que as 17 agências de segurança avançam “com elevado grau de certeza” que terá acontecido. A investigação já terá conseguido confirmar parte da informação do relatório de um ex-espião britânico que indicava que havia contactos entre os responsáveis da campanha de Trump e responsáveis russos, que o Kremlin tinha informação comprometedora sobre Hillary Clinton e Donald Trump, mas que só foi usada informação de Hillary para influenciar as eleições.

Era aqui que estava a informação da oferta do presidente da petrolífera russa a Carter Page.

Os republicanos no Congresso não parecem estar dispostos a deixar cair a polémica, embora com perceções diferentes. Um grupo de senadores republicanos, entre eles o segundo mais graduado no Senado, pediu uma investigação às ligações entre o Presidente Donald Trump e a Rússia e querem inclusivamente que Michael Flynn seja ouvido no Senado. John Cornyn já tinha pedido a demissão de Michael Flynn antes de esta se efetivar, mas agora pediu que a comissão do Senado que supervisiona as secretas investigue o ex-conselheiro para a Segurança Nacional.

Na Câmara dos Representantes, os republicanos estão mais alinhados com Donald Trump e, em vez de pedirem uma investigação à conduta de Michael Flynn, que pode ter cometido um crime, pedem uma investigação às fugas de informação que permitiram que fosse do conhecimento público as divergências entre o que Michael Flynn disse ao vice-presidente Mike Pence sobre o que tinha conversado com o embaixador russo — e se tinha ou não falado sobre sanções.

Donald Trump também falou sobre o tema, como é habitual através do Twitter, questionando se as fugas de informação também acontecerão quando estiver a negociar com a Coreia do Norte, aquela que será a ameaça mais premente com que terá de lidar, em termos de política externa.

No final, de acordo com o porta-voz de Donald Trump, o Presidente dos EUA sabia “há semanas” que Michael Flynn não tinha dito toda a verdade a Mike Pence, apesar de não ter tido essa conversa com o seu número dois, e até foi ele quem pediu a Michael Flynn para que apresentasse a demissão, porque perdera a confiança no seu conselheiro.

Hillary Clinton não deixou passar a oportunidade para colocar o dedo na ferida, ela que foi visada pelo ex-conselheiro de Trump e até pelo seu filho numa história caricata que poderia ter acabado muito mal. O filho de Michael Flynn, que também fez parte da equipa de Trump, republicou na rede social Twitter uma notícia falsa que acusava Hillary Clinton de liderar uma rede de prostituição infantil a partir de uma pizzaria em Washington. O caso agravou-se quando um homem armado com uma espingarda entrou num restaurante de Washington e disparou vários tiros, tendo dito à polícia que tinha decidido investigar a teoria da conspiração lançada por um site de notícias falsas.

Hillary reagiu agora usando as palavras de um dos membros da sua campanha, e deixa a Flynn pai e Flynn filho uma ligação para a página de uma famosa cadeia de pizzarias norte-americana a que se podem candidatar… caso precisem de um emprego.