Ximena Suaréz, hospedeira boliviana de 28 anos, foi uma das seis sobreviventes da queda do avião da Chapecoense, no passado mês de novembro, que causou a morte a 71 passageiros. Passados quase três meses, a comissária de bordo revelou, em declarações à BBC, que o pesadelo está muito longe de terminar. Aos problemas psicológicos e emocionais, juntam-se também as dificuldades em pagar as despesas de saúde, que a seguradora da companhia aérea Lamia, onde trabalhava, se recusou a pagar por inteiro.

Foi um acidente de trabalho, eu estava a cumprir o que tinha a fazer. É incrível como me conseguiram negar isso”, afirmou Ximena Suaréz.

Em contrapartida, o advogado da Lamia, Néstor Higa, considera que a hospedeira não tem direito a ser indemnizada porque “não morreu no acidente de avião”, acrescentando que a companhia já pagou 25 mil dólares – cerca de 18 mil euros – a todos os funcionários. “Ela não tem direito. Os 25 mil dólares de despesas já foram pagos na Colômbia”, referiu Higa.

Mas a boliviana diz que já gastou mais de metade do dinheiro só em tratamentos no hospital.

Estou a fazer fisioterapia no tornozelo e no pescoço. Tenho dores nas costas e vou ter de me submeter a uma cirurgia no nariz. Agora estão a acabar de me arranjar os dentes, porque perdi quase todos os da frente. Também é muito complicado estar de pé ou sentada durante longos períodos de tempo e preciso de medicamentos para dormir. Adormeço com imagens do acidente e acordo cheia de pesadelos. Surgem-me imagens dos passageiros, estavam tão felizes”, admitiu Suaréz.

Segundo o El Español, o seu advogado, Carlos Subirana, já abriu um processo em tribunal contra a Lamia para reivindicar o pagamento total do seguro de saúde a que tem direito. A esta situação junta-se também o facto da companhia aérea, que não voltou a realizar voos desde o acidente devido a problemas financeiros, estar em falta com três meses de pagamento, pelo que também não recebeu a baixa.

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Ximena Suaréz lançou uma petição online, no site Go Fund Me, com o objetivo de recolher donativos para poder terminar os tratamentos e voltar a trabalhar rapidamente. Mas têm surgido comentários que a criticam constantemente, havendo até algumas pessoas a desejar que ela tivesse morrido na tragédia. “Algumas pessoas chegaram a dizer que seria melhor se eu tivesse morrido e que me estou a aproveitar da bondade das pessoas”, conta a hospedeira.

A página onde Ximena Suaréz criou a petição de angariação de fundos

Com a ajuda de psicólogos, a comissária de bordo explica que a grande prioridade na sua vida agora é terminar os tratamentos e regressar ao trabalho que exerce já há oito anos.