É um comprimido que serve para combater os problemas de concentração das crianças com perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA) mas esse uso terapêutico tem sido desvirtuado em nome de uma melhoria dos resultados escolares, avança o Jornal de Notícias.

Daí o nome de comprimido da inteligência.

As vendas de metilfenidato, a substância ativa mais prescrita para combater os problemas das crianças com PHDA e que tem o nome comercial de ritalina, mais do que duplicaram desde 2010. De 133.562 embalagens prescritas em 2010 pelos médicos do Serviço Nacional de Saúde passou-se para 270 492 em 2016. Embora este último resultado represente uma ligeira queda face a 2015 (ano em que se venderam 283 075 embalagens), os especialistas alertam que estamos perante um problema grave, noticia o JN.

Em 2015, por exemplo, 63% da ritalina foi utilizada por rapazes entre os 10 e os 19 anos e 26% por crianças até aos 9 anos. Apenas 7% dos comprimidos tiveram adultos como consumidores, segundo dados do SNS citados pelo JN.

O bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Rodrigues, diz mesmo que é um problema de saúde pública.

“Estamos diante de um enorme problema de enorme gravidade. Os pais contam-me que houve quem lhes dissesse: «Tem aqui um medicamento. Agora a escolha é sua. Depende da sua vontade de que o seu filho tenha melhores notas ou não”, afirma o psicólogo Eduardo Sá ao JN.

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O terapeuta critica duramente aquilo que considera ser uma excessiva preocupação com os resultados escolares. “Os pais, as escolas, os professores e os médicos parece que entram numa vertigem em que vale tudo para os meninos obtenham bons resultados” escolares.

O mesmo terapeuta avisa que há turmas no ensino privado em que mais de 80 % dos alunos toma ritalina para manter ou aumentar a sua performance competitiva em termos de notas escolares.

O presidente de Associação de Diretores de Agrupamentos das Escolas Públicas classifica estes alunos como os “alunos ritalina”. “São muitas as crianças medicadas porque foram consideradas desatentas e problemáticas. O que era exceção, tornou-se habitual. É um exagero”, diz Filinto Lima.

O bastonário Francisco Rodrigues alerta, contudo, que “o efeito da medicação não proporciona uma mudança de comportamento, ao contrário da terapia com recurso a um psicólogo, declarou ao JN.