Quando era miúdo, Magic Johnson, na altura ainda Earvin Johnson Jr., costumava ajudar o pai na recolha de lixo à noite, o que lhe valeu a alcunha de “homem do lixo” entre os amigos vizinhos de Michigan. Mas ele sabia o que fazia, quando fazia e porque fazia – afinal, ainda andava na escola e já tinha um pequeno negócio de jardinagem para ganhar uns trocos. Agora, cinco décadas depois, o negócio passará a ser aquele que lhe marcou a vida desportiva: os Los Angeles Lakers. E tem muito “lixo” para limpar.

Nomeado esta semana presidente de operações, Magic, hoje com 57 anos, demorou pouco a mexer. Um pouco como Kevin Costner no filme “Draft Day” – se não viu e acha piada a esse fenómeno da escolha de novos talentos para as equipas profissionais, fica a sugestão –, o antigo jogador e treinador dos Lakers fez uma troca polémica nos derradeiros instantes do mercado, enviando Lou Williams (um dos sextos homens mais cobiçados da NBA) para Houston em troca do experiente Corey Brewer e uma escolha no draft de 2017. No filme, Costner teve pleno sucesso; na realidade… vamos ver (uma expressão simpática de quem dá o benefício da dúvida, mas se passar pelos sites da especialidade percebe que quase todos torcem o nariz à opção).

https://www.youtube.com/watch?v=WGJlt-8zKSw

Em paralelo, a escolha para aquele que será uma espécie de braço-direito na organização (diretor geral) causou também grande impacto: Rob Pelinka, agente da Landmark Sports Agency que esteve sempre ligado a Kobe Bryant (outra antiga estrela da equipa, que acabou a carreira no ano passado) e que geria a carreira de estrelas como James Harden, Eric Gordon ou Andre Iguodala. Magic chegou, viu e começou a distribuir jogo. Mas conseguirá voltar a trazer a magia dos anos 80?

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O que andou a fazer Magic nos últimos anos?

Conhecido e reconhecido por todos como um dos maiores jogadores de sempre da NBA (numa carreira que obrigaria o leitor a passar horas agarrado a este texto, tantos foram os jogos e as conquistas), o pentacampeão da NBA deixou o basquetebol em 1991, após anunciar, numa conferência transmitida em direto para todo o país, que era seropositivo.

Magic ainda foi aos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, fazendo parte do maior “Dream Team” apresentado pelos Estados Unidos na prova. Mais tarde, em 1996, regressou ao ativo mas sem grande chama. E isto depois de ter sido treinador dos Lakers em parte da época de 1994. Mas o desporto esteve sempre presente no seu vasto trajeto como empresário.

A Magic Johnson Enterprises, criada nos anos 90, tinha (e tem) interesses na hotelaria, na restauração, no imobiliário e nas artes, mas o ex-jogador nunca conseguiu largar o “bichinho” das equipas de Los Angeles: teve 5% dos Lakers, que entretanto vendeu ao milionário Patrick Soon-Shiong, em 2010; faz parte dos investidores que detêm a equipa de basebol dos Dodgers (fala-se que irá agora vender a sua participação); e está também na Sparks LA Sports, LLC, sociedade que detém a equipa feminina de basquetebol das Sparks.

https://www.youtube.com/watch?v=yrC5x3UEx5s

Agora, o desafio é outro e bem mais complicado – conduzir os Lakers aos anos de glória. A formação de Los Angeles foi campeã pela última vez em 2010, com Kobe Bryant no topo da carreira, mas não vai sequer aos playoffs desde 2013, quando foi atropelados pelos San Antonio Spurs na primeira ronda. E este ano não está melhor: 14.º lugar da conferência Oeste, a seis vitórias (e mais oito derrotas) do que o último apurado, os Denver Nuggets. O “homem do lixo” vai ter uma coisa para varrer caso queira colocar os Lakers de novo no topo da NBA.