O primeiro-ministro sublinhou esta quinta-feira que Portugal goza de vantagem inédita para ultrapassar os bloqueios estruturais da sua economia rumo à internacionalização, na atual “Revolução Digital”, citando exemplos das indústrias do calçado, têxtil e agroalimentar.

Na abertura da conferência “Moldar o Futuro”, organizada pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP), em Lisboa, António Costa garantiu estarem quase ultrapassados os problemas do sistema financeiro e, com dados conjunturais positivos, ter chegado a altura de abraçar uma estratégia articulada de crescimento.

“Esta é a primeira revolução industrial para a qual Portugal não parte em posição de desvantagem – ou por carência de recursos naturais ou pela sua posição geográfica. Pelo contrário, partimos com duas vantagens competitivas da maior importância: uma infraestrutura tecnológica que suporte esta e recursos humanos altamente qualificados capazes de fazer a transferência do conhecimento e a inovação no tecido empresarial”, disse, referindo-se à “digitalização” em curso no Mundo.

O primeiro-ministro defendeu que o “problema de crescimento não é de conjuntura” e Portugal tem de, “de uma vez por todas”, concentrar-se, “de forma continuada e articulada, na resolução dos bloqueios estruturais”.

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António Costa elencou a conjuntura favorável: no mês passado, um máximo histórico de confiança desde 2000, nos dois últimos trimestres, inverteu-se rumo de desaceleração, com um crescimento acima da média europeia, houve a criação de mais de 100 mil postos de trabalho líquidos em 2016, além de um crescimento contínuo do investimento empresarial.

O líder do Governo recordou ainda que, “até ao início do século, o país cresceu e convergiu com a União Europeia (UE)”, pois, “entre 1995 e 2000, não houve nenhum ano em que o país não tivesse crescido entre 3,5% e 4,8%”.

“Desde 2001 para cá, tem alternado anos de recessão com anos de crescimento medíocre. A média é de 0,2% de crescimento anual. No ano passado, tendo tido um crescimento de 1,4% – que não nos pode satisfazer -, tivemos crescimento que é sete vezes a média dos últimos 15 anos”, afirmou, justificando o facto com um “triplo choque competitivo: euro, liberalização dos mercados e alargamento [da EU] a Leste”.

Segundo António Costa, “é fundamental uma visão para o país e uma estratégia de médio prazo”, presente no Plano Nacional de Reformas, já aprovado em Bruxelas e assente nos “pilares da qualificação, inovação, modernização do Estado, valorização do território, capitalização das empresas, redução de desigualdades e erradicação da pobreza”.

“Não voltaremos a ser competitivos numa estratégia que não assente no conhecimento e na inovação. Só assim poderemos ser competitivos e acompanhar a internacionalização e novos mercados globais”, advogou.

Costa destacou também a importância do setor financeiro para o desenvolvimento da economia, referindo os exemplos da resolução do Banif, as operações de captação de investimento de BPI e Millennium, a prevista recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e o processo de venda do Novo Banco, que terá uma “solução estável, duradoura e que mantenha a integridade e perfil de banco essencial para o financiamento das pequenas e médias empresas.

Referindo-se às indústrias do calçado, têxtil e agroalimentar, que “conseguiram sobreviver e encontrar nova vida”, graças a um “crescimento assente na inovação” para “competir num mercado global mais exigente”, António Costa aconselhou outras áreas de atividade a seguirem o exemplo.

“Se todos fizermos o que o calçado, o têxtil e o agroalimentar fizeram, daqui a 10 anos podemos estar aqui em novo seminário sem a angustia e incerteza de sermos capazes de aproveitar uma boa conjuntura e vencer os bloqueios estruturais”, afirmou, defendendo “muita persistência e continuidade” e “não voltar a procurar atalhos” que só “meteram” o país “em trabalhos”.