Hoje foi daqueles dias onde, ao final da tarde/início de noite, quanto mais depressa, mais devagar. Quem andava a pé, além da confusão anormal que encontrava nas ruas, tinha sempre de marchar com um cuidado extra não fosse apanhar uma daquelas serpentinas de Carnaval soltas no chão e ver mais de perto a calçada portuguesa; quem se enfiava no carro, com pressa de chegar a um fim-de-semana prolongado ou começar a primeira de várias noites a brincar ao Carnaval, encontrava trânsito, acidentes e uma qualquer lei de Murphy que atrasasse a marcha pretendida; andar de metro, nem se fala. Mas adiante.

Foi também este cenário que o Benfica começou por encontrar na receção ao Desp. Chaves: duas linhas muito juntas de quatro unidades à frente da defesa mais dois elementos a condicionarem a primeira fase de construção dificultavam essa evidente pressa que o tricampeão nacional tinha em somar mais uma vitória e ir gerindo a pensar na primeira mão da meia-final da Taça de Portugal com o Estoril, na terça-feira. Pior ainda – além de não deixarem andar para a frente, os visitantes ainda ameaçavam os encarnados lá atrás, quase sempre com Fábio Martins a assumir o protagonismo dos flavienses.

Ficha de jogo

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Benfica-Desp. Chaves, 3-1

23.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Nuno Almeida (Algarve)

Benfica: Ederson; Nélson Semedo, Luisão, Lindelof, Eliseu; Samaris, Pizzi (Filipe Augusto, 77’); Salvio (Jonas, 55’), Zivkovic; Rafa (Cervi, 88’) e Mitroglou

Treinador: Rui Vitória

Suplentes não utilizados: Júlio César, André Almeida, Carrillo e Raúl Jiménez

Desp. Chaves: António Filipe; Pedro Queirós, Massaia, Nuno André Coelho, Nélson Lenho; Pedro Tiba, Bressan, Braga (Patrão, 78’); Perdigão, Fábio Martins (Davidson, 66’) e William (Rafael Lopes, 76’)

Treinador: Ricardo Soares

Suplentes não utilizados: Emanuel Novo, Rodrigo, Vukcevic e Batatinha

Golos: Mitroglou (18’ e 89’), Bressan (44’) e Rafa (50’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Nélson Semedo (68’), Davidson (70’) e Pedro Tiba (75’)

No entanto, Mitroglou está imparável e, na sequência de um cruzamento bem medido na direita de Nélson Semedo, cabeceou picado sem hipóteses para António Filipe, inaugurando o marcador aos 18 minutos num lance onde os flavienses reclamaram – e muito – uma falta do avançado sobre Massaia antes da impulsão do grego. Um dado curioso: nos últimos dois encontros, o Benfica tinha registado os valores mínimos da época a nível de remates à baliza com quatro frente ao Borussia Dortmund e cinco em Braga. Ponto comum a esses jogos – com mais ou menos felicidade, ganhou. E como não há duas sem três, os encarnados voltaram sobretudo a ser eficazes.

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Mas se existe característica comum aos transmontanos é a raça, o querer, a vontade. É gente de trabalho, que nunca desiste. E essa é também uma imagem de marca deste Desp. Chaves, agora com Ricardo Soares no comando. Tanto que, após tentativas de Fábio Martins e Pedro Tiba de fora da área, Bressan arriscou também um pontapé da zona da meia lua e conseguiu mesmo empatar em cima do intervalo (44’). O registo de quatro encontros seguidos sem sofrer caía; o das quatro vitórias, logo se veria. Mas para isso, era necessário um Benfica mais forte.

A primeira grande oportunidade da etapa complementar até pertenceu ao Desp. Chaves, com Ederson a sair rápido aos pés de Fábio Martins e a travar bem o remate do extremo. No entanto, este primeiro intento acabaria por ser enganador em relação ao que se passaria e o filme não demorou muito tempo a mudar: grande passe de Samaris para a velocidade de ponta de Nélson Semedo, cruzamento perfeito rasteiro e Rafa, ao segundo poste, a encostar para o 2-1 logo aos 50 minutos. Mais uma vez, e com o corredor central congestionado ao nível da Segunda Circular em hora de ponta, foi o todo-o-terreno mais rápido da Primeira Liga a desequilibrar os flavienses.

Poderia o Desp. Chaves repetir a boa reação do primeiro tempo, a seguir ao golo sofrido? Tentou. Tentou muito. Mas não conseguiu: fosse pela entrada de Jonas, que deu outros argumentos nas transições dos encarnados, ou pelos novos posicionamentos de Rafa e Zivkovic, a verdade é que, mesmo sem perder qualidade, o jogo foi diferente, com um Benfica menos exposto à surpresa e mais perto de fechar o encontro. Nélson Semedo, quem mais, ainda seguiu os exemplos de Mitroglou e Zivkovic rematando em arco ao lado, mas esse adiar do 3-1 foi dando um certo fôlego aos transmontanos que, aos 81 minutos, obrigaram Ederson à melhor defesa da noite a remate de Pedro Tiba. Esfumava-se aí a última esperança visitante (Massaia ainda marcou mas estava em posição irregular), vinha a confirmação dos visitados e pelo suspeito do costume: Mitroglou ganhou uma bola na raça e fuzilou para o 3-1 final aos 89′.

13

Mitroglou manteve a sua série fulgurante e somou o quinto jogo consecutivo a marcar, sendo já o segundo melhor marcador da Primeira Liga com 13 golos apenas atrás de Bas Dost (17). No total da temporada, o avançado grego já leva um total de 22 golos.

Com este resultado, o Benfica garante a liderança da Primeira Liga pelo menos por mais uma jornada, tendo agora quatro pontos de vantagem sobre o FC Porto que joga apenas no domingo no Bessa, frente ao Boavista. Não se confirmou a série de jogos sem sofrer, mas manteve-se o rol de triunfos consecutivos – cinco, quatro no campeonato e um na Liga dos Campeões. E assim se pode gozar um período de festa mas sem tolerância de ponto porque, já na próxima terça-feira, os comandados de Rui Vitória jogam no Estoril para a Taça de Portugal.