“Ouro”

É sobre os ombros de um Matthew McConaughey que fez crescer uma pança e eliminou cabelo para o interpretar, que repousa este filme de Stephen Gaghan (“Syriana”), passado nos anos 80 e 90 e “inspirado em factos reais”, o que quer dizer que os argumentistas tomaram várias liberdades com os ditos factos. É a história da ascensão meteórica e da queda vertiginosa de Kenny Wells (McConaughey), um prospector de minerais com um empresa de família em dificuldades financeiras, e do seu sócio, o geólogo Michel Acosta (Édgar Ramirez), que descobrem uma vasta jazida de ouro nas selvas da Indonésia, com as consequentes repercussões nos mercados, e alterações nos estilos de vida dos principais envolvidos e seus próximos. Pensem em todos os lugares-comuns fatigados dos filmes sobre enriquecimento súbito, negócios multimilionários, grandes fraudes e governos do Terceiro Mundo corruptos, e eles estão aqui. Moral: nem uma estrela da grandeza de Matthew McConaughey tem o toque de Midas. “Ouro” é cinema de latão com uma camada dourada.

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“Um Instante de Amor”

A nova realização da actriz e realizadora Nicole Garcia baseia-se muito livremente num livro da italiana Milena Argus, cuja história foi transferida para a França rural dos anos 50. Marion Cotillard é Gabrielle, uma rapariga rebelde por natureza, ao ponto dos pais a julgarem mentalmente perturbada, e ávida da companhia de homens que a possam preencher intelectualmente, e não apenas sentimental ou sexualmente. A mãe força-a a um casamento sem amor com um trabalhador espanhol da sua propriedade, que pelo seu lado também se resigna à situação, na esperança que a mulher um dia o venha a amar. Internada numa clínica na Suíça para tratar dos cálculos renais que a atormentam, Gabrielle apaixona-se por um jovem oficial do exército que também lá se encontra. Escrito a meias com o antigo crítico de cinema Jacques Fieschi, seu colaborador da primeira hora, “Um Instante de Amor” filia-se num cinema francês romanesco de boa factura clássica, de que Nicole Garcia é uma das mais consistentes e melhores representantes. E tem aqui uma preciosa aliada em Cotilard, muito boa na impulsiva e insatisfeita Gabrielle.

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“Personal Shopper”

No novo filme de Olivier Assayas, Kristen Stewart interpreta Maureen Cartwright, uma americana que vive em Paris e é a “personal shopper” de Vicky, uma “top model” mimada e intratável, sempre em viagem. Maureen escolhe-lhe as roupas, os sapatos e as jóias, das marcas mais luxuosas e nas lojas mais exclusivas, e praticamente nunca a vê. E trabalha quase só pelo dinheiro, porque a sua fixação não tem nada a ver com as coisas do mundo materialista e superficial por onde circula. Maureen tinha um irmão gémeo, Lewis, que morreu, e com o qual compartilhava uma malformação cardíaca. Por isso, combinaram que quem morresse primeiro, daria um sinal do Além ao outro. Maureen, que é “médium”, está obcecada por esse sinal, e com a forma que ele poderá tomar, o que lhe põs as defesas emocionais todas em baixo. Uma noite passada na casa no campo onde Lewis e a mulher moravam ainda a deixou mais vulnerável e assustada, devido à manifestação do espectro de uma mulher. O seu quotidiano é assim passado entre dois mundos antípodas: o concreto, da moda, das compras e dos gestos quotidianos, e o imaterial, dos espíritos, das manifestações sobrenaturais, dos acontecimentos insólitos. “Personal Shopper” foi escolhido pelo Observador como filme da semana, e pode ler a crítica aqui.