A mãe da ex-mulher de José Sócrates, Clotilde Fava, vai finalmente expor no Parlamento no próximo dia 8 de março, após ter feito esse pedido pela primeira vez em julho de 2015. A ligação familiar da pintora ao ex-primeiro-ministro criou um burburinho na bancada social-democrata, mas a proposta foi da própria artista e a decisão foi aprovada sem reservas pelo Grupo de Trabalho de Assuntos Culturais — que tem um representante de cada grupo parlamentar.

Clotilde Fava é mãe de Sofia Fava, ex-mulher de José Sócrates. Tem 75 anos e é filha do escultor Armando Mesquita É formada em Escultura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e expõe regularmente desde 1984. A ligação ao ex-primeiro-ministro fez com que visse o seu nome envolvido na Operação Marquês. De acordo com o Ministério Público, como avançou a revista Visão, Clotilde Fava comprou 186 exemplares do livro “A Confiança no Mundo”, de José Sócrates, nas lojas da Bertrand.

Sobre os critérios da escolha da sogra do ex-primeiro-ministro, o gabinete do secretário-geral da Assembleia da República explicou ao Observador que “para a área cultural, o presidente da Assembleia da República [Ferro Rodrigues] dispõe de um órgão consultivo, o Grupo de Trabalho para os Assuntos Culturais (GTAC), composto por deputados de todos os grupos Parlamentares, que analisa as propostas de eventos culturais, tais como exposições, quer elas sejam solicitadas por iniciativa própria dos artistas, por entidades externas, ou ainda pelos Grupos Parlamentares ou Deputados individualmente considerados.”

A mesma fonte oficial explica que, “no caso da pintora Clotilde Fava, foi a própria que propôs à Assembleia da República a organização de uma exposição, tendo como tema “Ser Mulher”. Os serviços do Parlamento explicam que “a proposta foi feita em julho de 2015 e, na altura, decidiu-se aguardar pela nova legislatura”. Assim, “em janeiro de 2016, após a constituição formal do GTAC, foi esta proposta submetida a parecer, que foi analisada em 2 reuniões sucessivas, tendo sido aprovada na reunião de 12 de maio de 2016 e autorizada no início de junho.” A exposição acabou por ser marcada para 8 de março, devido ao tema escolhido: a exposição chama-se “Ser Mulher” e vai ser inaugurada no Dia Internacional da Mulher.

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O convite para a inauguração da exposição já foi enviado pelos serviços do Parlamento a diversas entidades.

A exposição estará no Parlamento até 5 de maio de 2017. O critério utilizado com Clotilde Fava foi o mesmo utilizado com vários outros artistas. Os serviços do Parlamento emitiram um parecer favorável à escolha de Clotilde Fava, que foi depois confirmado por um parecer do Grupo de Trabalho para os Assuntos Culturais (GTAC), que é composto pelos deputados José Carlos Barros (PSD), Gabriela Canavilhas (PS), Jorge Campos (BE), Teresa Caeiro (CDS-PP), Ana Mesquita​ (PCP) e Heloísa Apolónia (PEV).

O deputado do PSD no GTAC, José Carlos Barros, explica que “há um conjunto alargado de propostas que entram na Assembleia da República que vão desde exposições a lançamentos de livros”, tendo os deputados a função de “avaliar as propostas.” Neste caso, conta o social-democrata, “a proposta foi apresentada diretamente pela artista”. De seguida, “os serviços apresentaram um parecer favorável e nós aprovámos, considerando os critérios que se encontram definidos pelo Grupo de Trabalho.”

Contactada pelo Observador, Clotilde Fava limitou-se a dizer, sobre a exposição, que a mesma se realiza “quarta-feira, às 18h30”. Sobre a forma como surgiu a ideia de expor no Parlamento, foi evasiva: “Julga que lhe vou dizer? Bom dia. Tchau!” E desligou o telefone.

Entre as exposições mais relevantes está a do banco BCP, em Paris (2011), do MAC – Movimento de Arte Contemporânea em Lisboa (2005), da Casa do Brasil em Santarém (2009), do CAE – Centro de Artes e Espetáculos na Figueira da Foz (2010) e na Exposição na Fundación Caja Vital Kutxa no País Basco (2011).

Quando ainda era primeiro-ministro — a 8 de abril de 2010 — José Sócrates fez questão de visitar a exposição Regeneração, de Clotilde Fava, tecendo vários elogios à obra da sogra: “Sou um fã e um admirador de há muitos anos (…) Esta fase da Clotilde é muito alegre, e isso é motivo de satisfação para todos os seus familiares, entre os quais me incluo.”