Minuto noventa e dois — de noventa e quatro que se cumpririam até final.

O livre era descaído sobre a direita, lateral à área do Feirense, esperar-se-ia do Benfica que fizesse subir às “torres” até à área, que Zivkovic ou Pizzi para lá cruzassem a bola, que o Benfica tentasse chegar ao segundo golo em cima do gongo e arrumasse de vez com a afoiteza dos da casa. Mas não. A bola não foi cruzada para a área — de onde, diga-se, nenhuma “torre” fora Mitroglou se aproximou –, recuou-a Pizzi até meio-campo, os de encarnado foram-na trocando, ganhando lançamentos atrás de lançamentos, faltas também, sempre de olho no cronómetro, aguardando o fim. E o fim lá chegou.

E o Benfica venceu à tangente, mas o suficiente para recuperar o primeiro lugar que havia perdido horas antes para o FC Porto. Este é o melhor elogio que se poderá fazer a um Feirense que (apesar dos trinta e um pontos que o distanciavam no Benfica no começo do jogo) se bateu sempre de igual para igual, valendo ao Benfica (a exibição foi “insossa” do começo ao fim) o golo — e a jogatana! — de Pizi, mas sobretudo a noite inspirada de Ederson na baliza. O “goleiro” defendeu tudo quanto de remates do Feirense houve. Até o (quase) impossível.

Impossível? O jogo terminou e o minuto sessenta e nove vai distante, mas a esta hora (de volta a Lisboa, no autocarro) Ederson ainda estará a pensar na defesa que então fez. Canto de Tiago Silva à direita, a bola cai na pequena área, Karamanos antecipa-se a Lindelof e desvia de primeira. A bola segue na direção da baliza, não entrando miraculosamente — e leia-se por “miraculosamente” o pé esquerdo de Ederson, que involuntariamente trava a bola em cima da linha. Depois, e quando o brasileiro percebeu (chegou até a olhar para trás, pensando talvez que a bola havia entrando na baliza) o que fez e evitou, reagiu logo de seguida e foi mais rápido (mergulhou sobre a relva) do que Karamanos a chegar à bola, segurando-a. O grego foi cumprientá-lo a seguir, com uma ligeira pancadinha na nuca. E terá exclamado até: σας γαμώτο! — que é como quem diz, em grego, “maldito sejas, oh Ederson”.

Mas recuemos até à primeira parte. O Benfica jogava a uma velocidade e Pizzi a outra.

O Benfica jogava assim: canto para o Feirense aos 19′, Ederson livra-se da bola a punhos e… contra-ataque para os visitantes. Cinco benfiquistas a atacar, dois do Feirense na defensiva. Tinha que resultar em golo, certo? Mas não resultaria. Salvio foi o último a ter a bola nos pés, entrou na área com ela, estava descaído sobre a esquerda, tinha Mitroglou e Carrillo isolados à direita — e a berrarem-lhe, esbracejando também, anciando um passe em que só tivessem de encostar para o golo –, mas o argentino assumiu mesmo a jogada sozinho e rematou. Saiu-lhe enrolado e frouxo, encaixando o guarda-redes Vaná com facilidade.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E Pizzi assim: o próprio faz (23′) um lançamento veloz à esquerda, tabela com Zivkovic, recebe a bola de volta e cruza-a para a área, Mitroglou escapa-se a Luís Rocha e “penteia” a bola com a nuca, desviando-a para o poste mais distante. Vaná teve que se esticar todo (e como ele é matulão e perninhas de canivete!) para lá chegar e desviar a bola. Segurou-a à segunda.

Mas o Feirense nunca se atemorizou. Nunca. À passagem da meia hora, quaaaaase chegou à vantagem. Peter Etebo e Barge tabelaram na direita, Eliseu e Carrillo ficaram ambos de candeias às avessas, o nigeriano desmarcaria Barge dentro da área, pela direita, o lateral cruzou para o primeiro poste, Luisão fez-se ao relvado e cortou a bola, mas cortou-a atabalhoadamente e para trás, esta sobrou “redondinha” para Luís Machado que, com a baliza à mercê, só com Ederson por diante, desviaria por cima da barra. Depois, foi vê-lo, Machado, de mãos na cabeça e olhos descaídos sobre o relvado, envergonhado. É que chances como aquela não se desperdiçam. Sobretudo contra o Benfica.

Desta primeira parte falta, pois, falar-lhe do golo. O Benfica foi o Benfica (sem acerto, leia-se) e Pizzi, Pizzi. Aos 42′, muita atrapalhação à entrada da área — nem o Benfica chuta nem o Feirense corta –, Zivkovic ganha a bola a Cris, ganha uma segunda vez a bola a Tiago Silva, entrega-a Carrillo, que desmarca em seguida Pizzi dentro da área. Não era fácil sair de dentro da “cabine telefónica” em que o perunano o meteu. Mas Pizzi driblou Vítor Bruno com um só toque, deixou-o por terra (pobres rins!) e ficou cara a cara com Vaná. Depois, foi vê-lo desviar, serenamente, a bola do guarda-redes do Feirense.

É a melhor época (ou, pelo menos, aquela em que mais golos fez) de Pizzi, chegando ao décimo segundo e superando os onze que apontou em 2010/11 no Paços.

Quanto à segunda parte, duas ocasiões há a contar, uma para o Benfica, outra para o Feirense. E a dos da casa até chegou primeiro, aos 50′. Tiago Silva e Pizzi disputam a bola, esta sobra para Karamanos, que desmarcou prontamente Etebo nas costas da defesa benfiquista. Rematar, Etebo até rematou. Não se lhe poderia pedir mais do que o que fez. O azar do nigeriano é que Ederson é o que é, saiu rapidamente da baliza, fez a “mancha” e defendeu para canto. Uma defesa que vale (quase) tanto quanto um golo.

Pouco depois, aos 55′, atacava o Feirense, o Benfica estava encostado à grande área, mas Pizzi (quem mais?) recuperou a bola em esforço, esta sobrou para Mitroglou que, ainda antes do meio-campo, desmarcou Salvio na direita. Vaná saiu da baliza e chegou primeiro à bola. “Cara: ‘tá tranquilo, ‘tá favorável”, pensou ele. Mas, disparate dos disparates, tentou fintar Salvio, perderia a bola, o argentino entrou na área e cruzou recuado para Mitroglou — que entretanto acelerou meio-campo fora e chegou a tempo à “carreira de tiro”. Baliza à mercê, guarda-redes fora dela, o grego encheu o pé direito e aqui vai disto! Mas acertou em cheio nas costas de Barge, que corajosamente se atirou (literalmente; ele saltou para lá) para a frente da bola.

Feirense despachado, venha de lá o Dortmund. Com este Ederson e outro Benfica. Caso contrário…