Com a saída do Reino Unido da União Europeia à distância de não mais que dois anos, ou seja, em 2019, os construtores automóveis sedeados em Inglaterra começam a alertar o Governo britânico para a necessidade de apoios que lhes permitam fazer face às dificuldades decorrentes do fim do acesso ao mercado único. Sendo que, depois dos alertas feitos pela Nissan, que tem a sua operação europeia sediada em Terras de Sua Majestade, agora foi a britânica Jaguar Land Rover que veio a público subscrever os apelos da concorrente nipónica, exigindo não só apoios extra, mas também “jogo justo” relativamente a todos os fabricantes a operar no país.

Depois de a Nissan ter alertado o Parlamento britânico para a necessidade de investimentos na ordem dos 100 milhões de libras, como forma de atrair os fornecedores de componentes automóveis, também o CEO da Jaguar Land Rover, Ralph Speth, considerou, em declarações reproduzidas pela agência Bloomberg, tal montante, uma aposta “muito bem-vinda”, pois “quanto mais próxima estiver a cadeia de abastecimento, maiores benefícios isso trará”.

Recorde-se que a questão dos componentes tornou-se um aspecto particularmente preocupante para os fabricantes automóveis sediados no Reino Unido, após a confirmação da saída do país da União Europeia (UE), com o referendo feito a 23 de Junho. Isto porque grande parte dos componentes utilizados actualmente pelas marcas automóveis é, na verdade, exportada e importada várias vezes durante o processo produtivo, numa situação que, no pós-Brexit, poderá levar ao pagamento de mais taxas, tarifas e impostos, de cada vez que cada peça passar a fronteira entre o Reino Unido e a UE.

Speth exigiu ainda ao Governo britânico que nenhum construtor automóvel ou empresa tenha tratamento preferencial neste processo. Isto apesar de a Jaguar Land Rover ser um dos fabricantes com maior volume de produção fixada no país, tendo terminado 2016 com um total de 544 mil unidades produzidas, contra, por exemplo, 507 mil da Nissan, revelam os dados da Associação dos Construtores e Vendedores Automóveis do Reino Unido.

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“O Reino Unido é conhecido pelo seu fair play”, afirmou Speth. “Tenho a certeza de que o governo sabe exactamente o que fazer, tal como conhece o valor da Jaguar Land Rover – por exemplo, que somos os únicos a levar a cabo o design, produção e tudo o resto, no Reino Unido”, acrescentou.

O CEO do grupo automóvel britânico revelou ainda que a companhia “repatriou” já alguma da produção de componentes para o país, de forma a agilizar o processo de fornecimento. Embora reconhecendo que os volumes necessários para abastecer a indústria automóvel britânica dificilmente serão suficientes de forma a persuadir, por exemplo, as empresas de electrónica e de produção de caixas de velocidades a fixarem a sua produção na Grã-Bretanha.

De resto, o mesmo responsável mostrou-se igualmente preocupado com as implicações decorrentes do Brexit, no controlo do carbono e das homologações. Isto, além das preocupações com a mão-de-obra especializada, uma vez que a Jaguar Land Rover, enquanto empresa pertencente ao gigante indiano Tata Motors, emprega cerca de 1.000 funcionários não britânicos. E que são técnicos especializados do qual o fabricante não pode prescindir.