“A Autópsia de Jane Doe”

Se andavam com saudades de ver um filme de terror como deve ser, então não precisam de ir mais longe, “A Autópsia de Jane Doe” é esse filme. Trata-se da primeira realização do norueguês André Ovredal, autor da comédia fantástica “O Caçador de Trolls”, e a sua estreia no cinema americano não podia ser mais auspiciosa e aterrorizadora. “A Autópsia de Jane Doe” é uma daquelas fitas sobre a qual não se pode falar muito, sob pena de revelarmos coisas a mais sobre a história e sermos desmancha-prazeres.

É um “huis clos” todo passado numa noite, no mesmo lugar (a morgue de uma cidadezinha da Virginia) , apenas com três personagens – uma da quais está morta , a Jane Doe do título -, e Ovredal subalterniza os efeitos de computador para estabelecer uma espessa atmosfera de terror sobrenatural com fumos de feitiçaria ancestral e sugestões demoníacas, essencialmente através da história e do jogo da câmara e do som (há uma sequência de altíssimo teor arrepiante envolvendo o sininho que o médico-legista ata aos pés dos mortos, no caso de um deles estar em coma e acordar no gavetão da câmara frigorífica). Um dos filmes de terror deste ano, e dos últimos anos, sem pestanejar.

“Kong: Ilha da Caveira”

Pobre King Kong. Como se não bastasse o medíocre “remake” a que foi sujeito por Peter Jackson em 2005, o gorila gigante da Ilha da Caveira foi agora recuperado para uma nova série de filmes do chamado MultiVerse, juntamente com Godzila e outros monstros do sector deste, que começou precisamente com o “Godzila” de Gareth Edwards, em 2014. “Kong: Ilha da Caveira”, é o segundo filme desta franquia sino-americana, que em 2020 conhecerá um confronto entre ambos.

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Realizada por um novato, Jordan Vogt-Roberts, e ambientado em 1973, a fita introduz uma série de modificações disparatadas na Ilha da Caveira, que em vez de animais pré-históricos agora está cheia de bicharada gigante, como aranhas, búfalos, formigas voadoras e uns monstruosos lagartos mutantes que vivem no centro da terra (sem falar numa tribo perdida e num aviador perdido da II Guerra Mundial). É lá que aterra uma expedição composta por cientistas e soldados desviados da guerra do Vietname.

“Kong: Ilha da Caveira” é uma bisarma informe, ensurdecedora e caótica, com indigestão de efeitos especiais, que cruza o filme de guerra tendência “Apocalypse Now” e o “monster movie” em modo vale-tudo, onde metade do elenco quer matar King Kong e a outra metade salvá-lo, enquanto vai sendo dizimado por este e pelos lagartos matulões. O Kong em “motion capture” é a única coisa que se salva desta descomunal macacada.

“São Jorge”

Nuno Lopes interpreta Jorge, um pugilista que vive num bairro social da outra banda, está cheio de dívidas e com medo que a mulher, uma imigrante brasileira, pegue no filho deles e volte ao país de origem. Por isso, aceita ir trabalhar para uma firma de cobranças difíceis. O novo filme de Marco Martins passa-se no Portugal sob intervenção da troika, e a austeridade é o motor de arranque da história dramática de um homem desesperado, que vai fazer um trabalho que lhe repugna – ser um matulão de punhos duros como pedra não significa que não se tenha consciência e escrúpulos -, para conseguir ganhar o único combate que lhe importa na vida e que tem que travar sozinho, contra a adversidade.

Há uma óbvia contiguidade de “São Jorge” com “Alice”, que o realizador assinou em 2005, onde um pai (também interpretado por Nuno Lopes), vara ruas e avenidas de uma Lisboa invernosa e indiferente, na busca obsessiva e solitária pela filha que desapareceu, e que contra todas as probabilidades acredita que irá encontrar. Tal como Jorge crê que não verá o filho desaparecer no outro lado do oceano. “São Jorge” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.

“São Jorge”: Nome de santo e punhos de ferro contra a crise