A história deste Arouca-FC Porto começou a ser escrita antes do início e com dois nomes: Manuel Machado, técnico dos arouquenses, e Soares, avançado dos dragões. O treinador atirou-se na conferência de antevisão do encontro ao avançado, acusando-o de ingratidão por não ter feito qualquer referência a quem o lançou desde que chegou ao estrelato. Afinal, foi uma precipitação – na primeira entrevista de azul e branco, Tiquinho falara dessa experiência conjunta no Nacional. Por isso, o técnico deu a mão à palmatória e pediu desculpas a Soares. Mas o “mal” estava feito: aquele que já é apelidado de “novo Hulk” bisou na goleada por 4-0. E já antes o V. Guimarães tinha ganho ao Nacional de Machado por 2-1… com dois golos do brasileiro.

E para matar já o assunto, ficam já as três notas de maior destaque que esperar encontrar: este foi o nono golo do avançado em seis encontros na Primeira Liga pelo FC Porto (marcou em todos); apenas três jogadores tinham marcado nos primeiros seis jogos pelos portistas – Correia Dias (41/42), Flávio (71/72) e Pena (2000/01); e desde Diogénes, em 1946/47, que nenhum jogador tinha este registo nas seis partidas iniciais pelos dragões. De Soares, estamos conversados. Vamos ao jogo.

Ficha de jogo

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Arouca-FC Porto, 0-4

25.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Arouca

Árbitro: Hugo Miguel (Lisboa)

Arouca: Bracali; Anderson Luís, Hugo Basto, Jubal, Nelsinho; André Santos, Nuno Valente, Crivellaro (Walter González, 53′); Mateus (Sancidino, 73′), Kuca (Artur, 59′) e Tomané

Treinador: Manuel Machado

Suplentes não utilizados: Rui Sacramento, Velazquéz, Vítor Costa e Gilson

FC Porto: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo, André André (João Carlos Teixeira, 85′), Óliver Torres, Brahimi (Otávio, 76′); André Silva (Diogo Jota, 71′) e Soares

Treinador: Nuno Espírito Santos

Suplentes não utilizados: José Sá, Boly, Layún e Rúben Neves

Golos: Danilo (15′), Soares (25′ e 86′) e Diogo Jota (71′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Maxi Pereira (83′), André André (83′), Nuno Valente (84′) e Jubal (89′)

Os primeiros minutos mostraram o porquê de estar em campo a melhor defesa da Europa e nem foi preciso grandes intervenções de Felipe, Marcano ou Casillas – o Arouca começava a ser pressionado logo na sua primeira fase de construção e o FC Porto ganhava com facilidade a bola numa zona adiantada, não conseguindo ainda assim superar as densas linhas amarelas à frente de Bracali. Atingíamos os dez minutos iniciais e nem um remate à baliza…

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Não foi de bola corrida, foi de bola parada. E com mérito do laboratório azul e branco: após um livre lateral descaído sobre o lado direito do ataque, Brahimi substituiu o habitual Alex Telles na marcação da falta e Danilo, no coração da área, cabeceou sem hipóteses para Bracali. Aos 15 minutos, o FC Porto adiantava-se no marcador e jogava com o histórico favorável de ter ganho todos os encontros em que o campeão europeu marcou. Este não seria exceção.

Estava na hora de entrar em cena o suspeito do costume. Sim, aquele que Mário Jardel disse esta semana que iria marcar tantos golos como marcara na passagem pelos dragões. Sim, esse mesmo que contribuiu para que o FC Porto seja o terceiro melhor ataque no ano civil de 2017 apenas atrás de Barcelona e Mónaco. Sim, Soares: primeiro acertou no poste, isolado por um toque de classe de Brahimi (19′); depois fez mesmo golo, de cabeça, na sequência de um cruzamento de Óliver Torres da esquerda (25′). E por pouco não bisou antes do intervalo (39′).

O recomeço do encontro não trouxe grandes novidades no desenrolar dos acontecimentos nem nas dinâmicas das equipas. Mas percebeu-se, mais uma vez, que este FC Porto é um enigma tático de difícil solução: André André tão depressa surge na direita como constrói jogo ao meio; André Silva pede bola na frente mas na jogada a seguir arrasta para um dos flancos; Brahimi saltitava da esquerda para o meio; Óliver era um caça entre linhas à solta. O Arouca tinha dificuldades claras para ter bola – porque para isso é preciso recuperá-la. Mas Manuel Machado não deixou de arriscar, lançando o avançado Walter González para junto de Tomané e trocando de forma direta Kuca por Artur. As diferenças, essas, não se sentiram.

No lado contrário, Nuno Espírito Santo mexeu e precisou de apenas 40 segundos para comemorar um golo: Diogo Jota, na primeira vez que tocou na bola, correspondeu da melhor forma a mais um cruzamento de Brahimi mas, com a ajuda de Nelsinho, fazer o 3-0. Já não havia muita história para contar, mas aqui acabou por completo. Ou quase, porque Soares ainda bisou (86′) depois de Maxi Pereira e André André terem visto o cartão amarelo para seguirem “limpos” para o clássico com o Benfica, daqui a duas jornadas.

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Soares está mesmo a ser a revelação do campeonato e mereceu o prémio de melhor jogador da Primeira Liga em fevereiro: em seis encontros pelos dragões no campeonato, a equipa ganhou sempre, o avançado marcou sempre e, em metade, como aconteceu em Arouca, foi em dose dupla. Se juntarmos os nove golos no FC Porto aos sete no V. Guimarães, é o segundo melhor marcador da Primeira Liga apenas a dois tentos de Bas Dost

Com mais uma goleada, o FC Porto somou a nona vitória consecutiva, reforçou o estatuto de melhor ataque e defesa e lidera, à condição, a Primeira Liga porque o Benfica apenas entra em campo na segunda-feira, frente ao Belenenses. A ponta final do campeonato promete mesmo ser louco. Tão louco como este arranque de Soares como jogador dos dragões.