Um comité de deputados britânicos advertiu neste domingo que, sem um acordo nas negociações para o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) “será muito destrutiva” tanto para Londres como para Bruxelas. Theresa May disse preferir não ter acordo do que ter um mau acordo. Mas o documento oficial, avançado na noite de sábado pelo The Independent, mostra que no Governo se admite “consequências graves” para as empresas e para os cidadãos.
A advertência ocorre em vésperas do regresso à Câmara dos Comuns do projeto de lei do Brexit, para que os deputados decidam acerca de duas emendas aprovadas pelos lordes — Câmara Alta do parlamento -, uma para proteger os direitos comunitários e outra para que o parlamento tenha a possibilidade de vetar um acordo final com Bruxelas.
Segundo o Comité Parlamentar Multipartidário de Assuntos Exteriores, existe uma possibilidade real de que as conversações entre Londres e Bruxelas não permitam um acordo, um cenário que poderia ter consequências potencialmente graves, sobretudo porque o governo londrino não contou com um plano de contingência para o caso de um não-acordo, o que constitui uma “grave negligência do dever”.
A primeira-ministra britânica, a conservadora Theresa May, pretende ativar o ‘Brexit’ antes do final de março e reiterou recentemente que prefere não chegar a acordo do que “um mau acordo”.
“Nenhum acordo é melhor do que um mau acordo”. O plano do Reino Unido para sair da UE
Meios de comunicação social britânicos avançam este fim de semana a possibilidade de que May possa ativar o artigo 50 do Tratado de Lisboa — para iniciar formalmente este processo negocial — na próxima terça ou na quarta-feira.
“Uma rutura completa nas negociações representa um resultado muito destrutivo que derivaria num dano mútuo assegurado, tanto para a UE como para o Reino Unido”, advertiu o Comité.
Segundo estes deputados, “ambas as partes sofreriam perdas económicas e danos na sua reputação internacional, tanto as pessoas como os negócios no Reino Unido e na UE poderiam ter uma incerteza pessoal considerável e confusão legal”.
“A possibilidade de que haja um ‘não-acordo’ é bastante real para justificar que seja feita um plano. Isto é o mais urgente, se o governo fala a sério quando afirma que abandonará [as negociações] caso exista um mau acordo”, apontaram os deputados.
O Comité assinalou que tem pronto um plano “reforçaria” a posição negociadora do Reino Unido ao conferir credibilidade à sua ameaça de rejeitar um mau acordo. Um dos aspetos que mais preocupam o comité é a relação entre o Reino Unido e a Organização Mundial do Comércio, que num cenário desfavorável poderia levar a um “choque económico” com aumentos dos preços para cidadãos e empresas.
Por sua parte, um porta-voz do departamento para a saída da UE apontou que o Reino Unido entrará nas negociações “com o objetivo de forçar uma nova e positiva aliança com a UE que inclua um acordo extenso sobre o livre comércio”.
Não obstante, a mesma fonte acrescentou que “um governo responsável deveria estar preparado para todos os desenlaces potenciais”.
No que respeita a este ponto, indicou que o ministro para o ‘Brexit’, David Davis, alertou no passado mês para a necessidade de se preparar “não só para um acordo negociado, mas também para o improvável cenário de que não se chegue a um acordo satisfatório”.