Se a direita dissesse algumas coisas que a esquerda diz, caía-lhes o Carmo e a Trindade“, diz Luís Mira Amaral, economista e ex-banqueiro, em entrevista ao Negócios e à Antena 1. O comentário é uma alusão, por exemplo, às críticas que os partidos de esquerda fizeram ao governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. Mira Amaral, que foi ministro em governos de Aníbal Cavaco Silva, diz que “a esquerda lava mais branco do que a direita“.

Mira Amaral estranha que alguns elementos da maioria governativa possam criticar o líder de um organismo independente como o Banco de Portugal. “No meu tempo de governo, que era monocolor do PSD, era preciso ter muito cuidado quando queria fazer ou dizer algumas coisas como a esquerda diz caía-lhe tudo em cima. Comunicação social e os próprios partidos de esquerda. E até no Governo de José Sócrates, que não estabeleceu pontes com o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda, que era a continuação dos métodos de direita nesse sentido, tinha sempre o PC e o Bloco de Esquerda a atacá-los”.

É permitido à esquerda fazer ou dizer certas coisas que a direita se o dissesse ou fizesse caía-lhes o Carmo e a Trindade.”

O ex-banqueiro lembra que, nos governos a que pertenceu, “quando o governo queria extravasar em algumas coisas que não são normais num sistema democrático, caía-lhes a esquerda em cima, e eles tinham de se conter”.

O problema que temos neste momento – e que é muito preocupante para o funcionamento da democracia portuguesa – é que o PCP e o Bloco de Esquerda fazem parte da maioria parlamentar de apoio ao Governo, fazem parte da solução política que nos governa. Portanto, esta accountability que faziam sobre governos CDS, PSD ou sobre o Governo de José Sócrates desapareceu”.

Na entrevista ao Negócios e à Antena 1, Luís Mira Amaral defende, também, que a banca portuguesa não precisa de um “banco mau”, porque está mais estabilizada e porque qualquer solução iria sempre, argumenta, envolver o contribuinte.

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