The wave is here
Waiting on the wind to tell my side

Não foi na madrugada portuguesa de segunda para terça-feira (manhã australiana) que Frederico Morais teve a sua onda, mas o desejo deste fã de Red Hot Chili Peppers (se só agora se lembrou que eles vêm cá em julho para o Super Bock Super Rock, fique a saber que os bilhetes de um dia já estão esgotados desde dezembro) em contar a sua história aguarda apenas por um pouco de vento e ondulação. Kikas, como também é conhecido, será o representante nacional da Liga Mundial de surf que está prestes a arrancar na Austrália (Quiksilver Pro Gold Coast), dois anos depois do adeus de Tiago “Saca” Pires da divisão de elite da modalidade.

Frederico Morais, de 25 anos, que terá pela frente no primeiro heat o brasileiro Filipe Toledo e o australiano Adrian Buchan, vai realizar um sonho que tinha desde os sete anos e para o qual se preparou nos últimos sete anos. Como os hiatos temporais indicam, tem sido tudo virtudes. Com trabalho e espírito de sacrifício.

Se a carta que escreveu à Surf Portugal já era conhecida – “Sou o Frederico e ainda vão ouvir falar de mim” – e foi uma visão acertada do futuro, o que conta agora é o presente. De pés assentes no chão. Um presente que foi preparado com sete anos de trabalho afincado entre duas idas diárias ao mar e a passagem pelo ginásio, como sublinhou em entrevista ao DN no domingo. “Vai ser um ano difícil, mas gosto de desafios. Sei bem o que tenho de fazer e onde tenho de melhorar e evoluir. Vou começar do zero, isto é outro mundo. Não escondo que o desejo é assegurar a presença no circuito em 2018”.

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Vai “jogar” com a camisola 25. “Representa a soma dos números da minha data de nascimento, 3/1/1992, a idade com que me estreio no WCT e o dia de aniversário do meu Pai”, explicou no Twitter. É número de artista da bola. Mas Kikas, que gosta de futebol, râguebi e ténis, nunca foi daqueles miúdos que passam a vida na jogatana com os amigos. Sabe aqueles miúdos a quem passam uma bola para os pés e ele agarra nela e começa a driblar? Foi isso que aconteceu com Frederico mas no mar, com uma prancha – a tábua era de bodyboard mas, com cinco/seis anos, queria era pôr-se de pé. Cedo começou também a viajar para as capitais do surf que a maioria só imagina nas luas-de-mel, por exemplo. Como a Austrália, entre outros.

“Íamos em férias de família para o Havai, que é um sítio lindíssimo. Desde os meus 11 anos que vamos para lá um mês, no Natal, e outro para a Austrália, na Páscoa. Ganhei um à vontade em viajar e a estar nesses sítios. Tem ondas incríveis, são locais paradisíacos, as pessoas são simpáticas. Tenho um carinho especial pela Austrália e tenho bons amigos lá, adoro a cultura. Isso faz a diferença porque me faz sair da minha zona de conforto”, contou ao Expresso.

A família é o principal suporte. E inspiração. E preocupação. Não há conversa em que não fale do pai, Nuno, “a razão de tudo isto”, ou do tio, Tomaz, ambos ex-jogadores e figuras do râguebi nacional. Ou da mãe, Marina, a pessoa que trata dos dinheiros mas que não costuma ir às provas para que depois não esteja preocupado em saber se está tudo bem com ela. Foi todo um trabalho em equipa que desaguou num objetivo conjunto – chegar à Liga Mundial.

Há um mês, Frederico Morais partiu para a Austrália. Por causa do fuso horário, da preparação para a estreia entre a elite das eleites, para experimentar pranchas. Aproveitou para entrar em duas provas de qualificação: ficou na quarta ronda do Maitland and Port Stephens Toyota Pro, onde estava também Jorgann Couzinet e o finalista Jesse Mendes (17.º lugar), e chegou à quinta ronda do Australian Open of Surfing, perdendo no duelo com Mitch Crews (9.ª posição). Após as entradas, segue-se o prato principal. E um prato que juntará logo na primeira ronda o surfista preferido do circuito (Mick Fanning) e aquele que considera o melhor de todos os tempos (Kelly Slater), o que diz bem da qualidade que marcará o Quiksilver Pro Gold Coast.

Mesmo sendo agora treinado pelo antigo surfista Richard “Dog” Marsh, Kikas seguiu sempre o conselho do pai, que lhe dizia para nunca sair de água sem apanhar uma boa onda. À vezes, só saiu mesmo à noite. Mas conseguiu. Tudo vale a pena quando a onda não é pequena. Que arranque o espetáculo!

Para onde vai o surf em Portugal?

De acordo com o estudo “A onda do Surf em Portugal terá impacto na Economia?” da Universidade Católica Portuguesa, datado de 2014, estimou-se que o surf poderá contribuir com cerca de 400 milhões de euros para a economia nacional, valor que inclui indústria, serviços e eventos associados ao desporto à “Califórnia da Europa”, como descreveu Francisco Simões Rodrigues, presidente da Associação Nacional de Surfistas, no lançamento do trabalho onde esteve também presente, na altura, Frederico Morais.

“Não temos hoje novos dados mas a tendência mantém-se, com um aumento provável a nível dos serviços”, explica Francisco Simões Rodrigues ao Observador, na antecâmara da estreia de Kikas na Liga Mundial, “que será mais um ponto importante a ter em conta”. E a passagem do surf a modalidade olímpica? “Não creio que tenha uma grande interferência, até porque as bases do surf não estão ligadas aos Jogos. Agora, o que vai existir provavelmente é um maior envolvimento estatal com o surf, o que poderá permitir conversas adicionais“, acrescenta.