A esquerda considera “inaceitável“, uma “negligência factual” e “oportunismo partidário” que a resolução do BES não tenha sido discutida em Conselho de Ministros no Governo PSD/CDS. A líder do CDS, Assunção Cristas, tinha revelado esta segunda-feira, em entrevista ao Público, que tinha dado o “ok” à resolução por e-mail, enquanto estava de férias. E sem discussão. O PS não deixou passar as declarações incólumes e acusou esta quarta-feira, no Parlamento, o CDS de “negligência factual”, acusando Cristas de “assinar de cruz a solução para o BES”, com “insustentável leveza“, apenas porque “estava de férias” e para “não deixar cair o parceiro de coligação”.

O deputado Carlos Pereira, na declaração política da bancada socialista (sobre a banca), lembrou que ao aprovar “sem ler o que assinava” e “minutos antes de ir para a praia”, a líder do CDS deu origem a “um exército de lesados, a prejuízos a milhões de contribuintes portugueses e a deixar sem chão centenas de funcionários.”

Em entrevista ao jornal Público, Assunção Cristas tinha explicado como validou, como ministra, a resolução do BES, confessando que não dominava os dossiês e que não houve discussão no Conselho de Ministros:

Estava no início de férias e recebi um telefonema da ministra das Finanças a dizer: ‘Assunção, por favor vai ao teu email e dá o OK, porque isto é muito urgente, o Banco de Portugal tomou esta decisão e temos de aprovar um decreto-lei’. (…) Como pode imaginar, de férias e à distância e sem conhecer os dossiês, a única coisa que podemos fazer é confiar e dizer: ‘Sim senhora, somos solidários, isso é para fazer, damos o OK’. Mas não houve discussão nem pensámos em alternativas possíveis — isto é o melhor ou não —, houve confiança no Banco de Portugal, que tomou uma determinada decisão.”

Ora, o vice-presidente da bancada do PS regista, por isso, que “no Conselho de Ministros não se falava dos problemas na banca”. Para Carlos Pereira o BES é “mais um banco que poderia ter tido outro destino”, mas “por razões que misturam oportunismo partidário e negligência factual, acabou sem qualquer solução.”

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Também o deputado comunista Miguel Tiago considera que esta é mais uma prova de que o PSD e CDS “empurraram problemas para a frente” e “esconderam os problemas da banca debaixo do tapete.” E atirou: “Das duas uma, ou as duas: ou o CDS está a tentar alijar responsabilidades que teve no anterior Governo, o que até agora assumia com orgulho e agora já não quer assumir; ou está a demonstrar a forma [negligente] como o Conselho de Ministros tratava dos problemas na banca — 4,9 mil milhões de euros tratados com uma assinatura sem sequer ler”.

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A deputada bloquista Mariana Mortágua também considerou “inaceitável” que o anterior Governo “não tenha discutido o problema da banca no Conselho de Ministros”, e que tenha “depositado todo o poder de intervenção na banca em Carlos Costa”. E voltaram as críticas ao governador do Banco de Portugal: “Carlos Costa desempenhou um mau trabalho e um mau mandato e foi reconduzido porque tinha feito um favor ao Governo”.

No entanto, Mariana Mortágua destacou que “o PS também tem responsabilidade e que, por isso, deveria responder a duas questões:

O PS deve dizer se considera que Carlos Costa tem condições para continuar como governador. E deve explicar em que medida é que a venda do Novo Banco a um fundo abutre contribuiu para resolver a situação da banca.”

Já o CDS, através da deputada Cecília Meireles, defendeu-se ao ataque. Disse que na origem do problema da banca está “o crédito mal parado” ou os “grandes calotes”, sugerindo responsabilidade socialista nos créditos concedidos durante a governação socialista.

Cecília Meireles, sem negar a interpretação que foi feita das palavras de Assunção Cristas, lembrou “o que foi a supervisão de Vítor Constâncio” e as “malfeitorias que o PS” fez à banca enquanto estava no Governo.

Carlos Pereira acabou por deixar Mariana Mortágua sem resposta. O PS não quis criticar (desta vez) o governador do Banco de Portugal e também não falou sobre a venda do Novo Banco ao fundo norte-americano LoneStar. Voltou a considerar “bizarro” que PSD e CDS não tenham discutido o assunto.

O PSD manteve-se à margem e não fez qualquer pedido de esclarecimento. A única intervenção foi da deputada Paula Teixeira da Cruz a pedir para ter acesso à intervenção de Carlos Pereira, já que este tinha utilizado termos como “sado-masoquismo”. Na verdade, o que o deputado socialista disse foi que o anterior Governo aplicou uma “austeridade obsessiva e quase sádica.”