O Palácio do Bolhão, no Porto, recebe a 20 de março a estreia de uma nova encenação de “Os Lusíadas”, poema épico de Luís de Camões, com o poeta em cena a contracenar com as personagens que criou.

“Colocámos o próprio Camões em cena para acompanhar o processo de escrita e a partir desse processo as cenas ganharem vida”, explicou Beatriz Frutuoso, que com Mafalda Pinto Correia encena o espetáculo que aponta ao público escolar, no final de um ensaio aberto à comunicação social.

O poeta é aqui interpretado por Mafalda Pinto Correia, uma escolha que se deveu ao objetivo de destacar “o Camões poeta, não se é um homem ou uma mulher”, embora no processo tenha ganhado “uma vibração muito masculina”, considerou Mafalda, para quem colocar o poeta em contracena faz sentido porque “já o faz em ‘Os Lusíadas’, é até fácil perceber as suas intenções”. A obra, comentou Beatriz Frutuoso, é “muito extensa e demasiado maravilhosa”, o que significa que a adaptação arrancou com “muito material”, a partir de um poema “que quase pede para ser colocado em cena”. “As imagens que nos dá são demasiado maravilhosas”, afirmou Beatriz, que explicou que a representação, em palco, de um texto histórico acaba por assumir uma postura lúdica, mas pensada “para todos”.

“Ninguém lê a obra, por isso é preciso mostrar-lhes ‘Os Lusíadas’. ‘Os Lusíadas’ são Portugal, somos nós, por isso a partir daí estende-se a qualquer pessoa que queira vir ver. É pensado para todos”, reforçou Mafalda.

Além das duas encenadoras, o elenco conta com Catarina Gomes, Manuel Nabais e Pedro Couto, com os atores a ‘desdobrarem-se’ por várias personagens à medida que o espetáculo percorre a estrutura da obra pela mesma ordem do poema, até porque sabiam “que o público seria maioritariamente escolar” e não queriam “ocultar nenhum dos capítulos que são lecionados nas escolas”, afiançou Mafalda Pinto Correia, ainda que “toda a gente queira ver ‘Os Lusíadas'”. “Há coisas que estão suprimidas, mas os principais episódios fazem parte do espetáculo e pela ordem”, acrescentou Beatriz, que olha para o texto de Camões como atual, porque “ainda hoje criar artisticamente é difícil”, mas também pelo retrato do “confronto com culturas novas e diferentes”.

“Ele não é tão distante de nós como julgamos”, considerou a encenadora. A revisitação do poema épico permite abordar episódios como o Adamastor, o Velho do Restelo ou o amor entre D. Pedro I e Inês de Castro, entre outros.

O espetáculo, que conta com dramaturgia de Frutuoso e Pinto Correia a partir do poema épico, estará em cena até 3 de abril e pode ser visto por grupos escolares de segunda a sexta-feira às 10h30 e 15h00 e pelo público em geral aos sábados pelas 16h00 e 21h30.

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