Rapidamente o associamos à moda mas o fecho éclair tem hoje inúmeras utilizações e traz consigo uma história de difícil afirmação enquanto invenção.

Faz esta segunda-feira, 20 de março, um século que a sua patente foi registada mas a ideia do fecho éclair surgiu 66 anos antes. Eis alguns dos momentos mais marcantes da sua história:

1851. O inventor da máquina de costura que não quis saber do fecho éclair

Elias Howe ficou famoso por deter uma patente mas não a do fecho éclair. O norte-americano patenteou e ficou conhecido por ser o inventor da máquina de costura. Focado no sucesso da sua criação, pouca atenção deu à patente de um intitulado “sistema de fecho automático e contínuo para roupa” que recebeu em 1851. Elias Howe acabou por não comercializar o fecho éclair. Perdeu assim a oportunidade de associar o seu nome à história de um acessório de confeção de roupa que viria, anos mais tarde, a ser massificado e a constituir uma verdadeira indústria.

1890. Falta de tecnologia para a inovação russa

Passou quase meio século para que alguém voltasse a pensar no fecho éclair. Do outro lado do mundo, o russo Max Wolff desenhou um tipo diferente de fecho éclair que também não chegou a ser comercializado. O problema não foi a falta de iniciativa mas o facto de ser demasiado avançado para o seu tempo . É que os dentes desse fecho éclair eram feitos de uma forma espiral e não havia tecnologia adequada para aquele tempo.

1893. Um fecho-éclair tão caro quanto os produtos sem ele

Whitcomb L. Judson era engenheiro mecânico e é o nome ao qual mais se atribui a invenção do fecho éclair. Originalmente pensado para o calçado, Judson levou um sistema de fecho automatizado, o “Clasp Locker”, que foi muito bem recebido na Exposição Universal de Chicago de 1893. Foi assim que Whitcomb L. Judson criou, em conjunto com o seu sócio Lewis Walker, a Universal Fastener Company (agora, Talon Zipper), em Ohio, nos Estados Unidos. Quando se começaram a perceber as múltiplas funcionalidades do fecho éclair, o sucesso ficou garantido. As vendas nem tanto. Os fechos éclair eram quase tão caros quanto os produtos ao qual estavam cosidos.

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Início do século XX. O casamento com a filha do gerente e a patente do fecho éclair

A patente de Gideon Sundbäck de 20 de março de 1917.

Em 1901, a fábrica sofreu uma reestruturação e mudou as suas instalações para Hoboken, em Nova Jérsia. Quatro anos depois, o sueco-americano Gideon Sundbäck é contratado como engenheiro elétrico. As suas capacidades técnicas levam-no a designer, já o casamento com a filha do gerente da fábrica levam-no a um cargo de chefia. Depois da morte da sua já mulher, em 1913, Sundbäck dedica-se a melhorar do fecho éclair, fazendo algumas alterações, e a 20 de março de 1917 regista a patente com sucesso. Segue-se a abertura de outra fábrica no Canadá e a invenção de uma máquina de produção capaz de fabricar cerca de 100 metros de fechos éclair por dia, no primeiro ano.

Década de 30. Mudam-se os tempos, mudam-se os materiais

Desde os seus primórdios, o fecho éclair foi idealizado e produzido com metal, principalmente devido às sua aplicações. Tinha aplicação no calçado usado pelos soldados, sacos de transporte e armazenamento de tabaco. Quando começou a ser aplicado em peças de roupa, nomeadamente em calças de ganga, continuava a ter material metálico como principal componente.

Na década de 30 o material metálico foi substituído por plástico, transformando o fecho éclair num produto mais maleável, macio, prático e esteticamente mais atrativo.

Da roupa de criança à alta-costura

A entrada do fecho éclair na indústria da moda aconteceu de forma progressiva. Inicialmente, apenas se tolerava o seu uso nas roupas de criança com a justificação de que o fecho éclair era mais prático do que os botões.

Mas depressa passou a ser incorporado em peças de vestuário para todas as gerações. E ocasiões. Ainda na década de 30, a designer italiana Elsa Schiaparelli, conhecida por adotar novos materiais e tecnologias, avançou com a coleção de inverno de 1935/36 com peças em que o fecho éclair de plástico foi usado muito para além do seu propósito funcional. Era mesmo o produto em destaque naquela coleção, aparecendo em primeiro plano e em zonas das peças inesperadas como bolsos, decotes e ombros.