Um estudo da Universidade de Queensland revela a descoberta de uma nova jazida com vestígios de dinossauros no noroeste da Austrália. O “parque jurássico” contém vinte e um tipos de 150 pegadas de dinossauro do Cretácio Inferior (há 137 milhões de anos) espalhadas ao longo de 25 quilómetros. Os vestígios foram vistos por um povo aborígene da Península de Dampier, uma região onde até agora tinham sido encontrados poucos registos destes animais na Austrália. De acordo com Steve Salisbury, autor do estudo, este é “um registo primário de dinossauros não-aviários na metade ocidental do continente” e “fornece o único vislumbre da fauna de dinossauros da Austrália durante a primeira metade do Período Cretáceo Inferior”.

Este estudo fez eco em Portugal: o relatório faz referência aos vestígios de dinossauros encontrados na Lourinhã, considerados alguns dos mais diversos do mundo. De acordo com Octávio Mateus, paleontólogo e professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, as descobertas feitas no noroeste australianos podem ajudar os portugueses a compreender melhor as pegadas encontradas na região oeste do nosso país. Um dos casos mais interessantes será o da pegada com impressão de pele de um estegossauro encontrada em Portugal: foram descobertas pegadas semelhantes a essa na Austrália e, portanto, o seu estudo pode fornecer mais dados sobre os dinossauros que já viveram em território português.

A descoberta desta jazida na Austrália também ganha importância porque corresponde, explica ao Observador o paleontólogo, a um período geológico do qual se sabe pouco: o Cretáceo Inferior. As pegadas encontradas em Portugal são do Jurássico Médio, um período diferente, mas apenas 13 milhões de anos mais antigo. Comparando as pegadas, podemos encontrar mais informações sobre a evolução da morfologia dos animais, mas também perceber como é que os dinossauros se espalharam pelo mundo.

É que, quando estes animais dominaram a terra, havia apenas duas massas continentais. Uma era a Laurásia, que incluía a atual Europa, América do Norte e norte da Ásia. A outra era o Gondwana, corresponde à atual Antártida, América do Sul, África, Madagáscar, Oceânia e sul da Ásia. As pegadas encontradas na Lourinhã vieram da Laurásia, enquanto estas encontradas na Austrália vieram do Gondwana. A diferença pode fornecer-nos mais pistas sobre os percursos e o intervalo temporal em que os dinossauros viajaram de um super-continente para outro, numa época onde a geologia e o clima da Terra eram muito diferentes daquele que observamos hoje.

Mas atenção: o facto de as pegadas serem semelhantes não significa que os dinossauros que andaram na Austrália no Cretácio Inferior fossem descendentes dos dinossauros que caminharam por Portugal no Jurássico. Podem, isso sim, ter um ancestral comum. Se assim for, conta-nos Octávio Mateus, podemos estar um pouco mais próximos de perceber a evolução da espécie que dominou a Terra antes de ser extinta há 65,5 milhões de anos.

O estudo da Universidade de Queensland chega em vésperas da inauguração do Parque de Dinossauros da Lourinhã, construído com investimento privado e com o apoio da Câmara Municipal e do Museu da cidade. Os visitantes poderão explorar os fósseis de dinossauros encontrados na Lourinhã e fazer uma caminhada ao lado de dezenas modelos de dinossauros em tamanho real espalhados pela cidade. Alguns deles já podem ser vistos na Lourinhã: durante esta semana foi colocado um modelo de Tiranossauro Rex ao pé do edifício da Câmara Municipal da Lourinhã.

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