Sporting e Arouca têm uma história comum. E por muito que não se deem e tenham relações tensas, estão ligados. Estão ligados e muito, desde 18 de agosto de 2013, dia em que os arouquenses se estrearam na Primeira Liga em Alvalade perdendo por 5-1 com hat-trick de Fredy Montero, até 6 de novembro de 2016, quando Bruno de Carvalho, presidente dos leões, e Carlos Pinho, líder dos visitantes, se pegaram entre baforadas no túnel de Alvalade. Até pelo passado truculento da pessoa em causa, estava criada uma cortina de fumo para uma tentativa de vingança que não aconteceu: o número 1 dos verde e brancos, que até está castigado até ao final da época, rumou a Angola e não foi ao jogo. Não houve surpresas aqui, também não houve no resultado: à semelhança do que tinha acontecido nos sete jogos anteriores, o Sporting ganhou. Desta vez, por 2-1. E com os canhotos a escreverem a história de pé esquerdo.

Ficha de jogo

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Arouca-Sporting, 1-2

27.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Arouca

Árbitro: Luís Godinho (Évora)

Arouca: Bolat; Anderson Luís, Nuno Coelho, Jubal, Vítor Costa; André Santos, Adilson (Nuno Valente, 71’), Artur; Mateus (Tomané, 89’), Sami (Kuca, 67’) e Walter González

Treinador: Jorge Leitão

Suplentes não utilizados: Rui Sacramento, Hugo Basto, Velázquez e Crivellaro

Sporting: Rui Patrício; Schelotto, Sebastián Coates, Rúben Semedo, Marvin Zeegelaar; William Carvalho, Bryan Ruíz (Podence, 77’), Gelson Martins (Paulo Oliveira, 90+1’), Bruno César; Alan Ruíz (Palhinha, 70’) e Bas Dost

Treinador: Jorge Jesus

Suplentes não utilizados: Beto, Ricardo Esgaio, Matheus Pereira e Castaignos

Golos: Mateus (9’), Alan Ruíz (34’) e Bruno César (36’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Alan Ruíz (24’), Vítor Costa (26’), Adilson (45+1’), Podence (80’), Anderson Luís (80’), William (88’) e Rui Patrício (90+4’)

O encontro começou ao ritmo de um final de tarde típico de domingo (para quem não trabalho, claro): lento, molengão, preguiçoso. Sobretudo o Sporting, que tinha a obrigação de agarrar nos cordelinhos para começar a costurar uma história diferente, apanhou-se com o sol de frente na primeira parte e andou a jogar à velocidade de uma época balnear antecipada. Só mesmo Gelson Martins conseguiu manter aquele ímpeto à Usain Bolt com a bola nos pés, algo que Jubal pareceu não gostar aos seis minutos quando, num corte em plena área, deu ideia de ter feito penálti sobre o extremo.

Já o Arouca vestia a pele de bom aluno para cair no goto do novo professor, Jorge Leitão, que rendeu Manuel Machado no comando técnico da equipa após uma série de seis derrotas seguidas que começou ainda com Lito Vidigal, técnico que rumou a Israel após o desaire na Luz. Estava arrumadinho, tentava a todo o custo tapar todos os espaços do meio-campo, condicionava a primeira fase de construção de William e Bryan Ruíz, arriscava de vez em quando as fragilidades defensivas dos visitantes nos corredores laterais. Uma maneira bonita de dizer que jogava no erro e para o 0-0. Até que do nada conseguiu mesmo adiantar-se no marcador, aos nove minutos.

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Vítor Costa, que no encontro da primeira volta até tinha sido expulso em Alvalade, lá foi avançando até perceber que, na esquerda, não havia ninguém a sair-lhe na frente. Cruzou à vontade para o segundo poste e acreditou, bem, que Mateus ganharia a parte dianteira do lance a Marvin Zeegelaar para marcar de cabeça. Estava feito o 1-0, com o lateral holandês a não demorar a mostrar o porquê da intermitência na utilização.

O Arouca fez um remate à baliza durante toda a primeira parte. Enquadrado. E com sucesso: 100% de eficácia. Mas quem também tem 100% de eficácia é o Sporting nos duelos com os arouquenses. E a partir de meia-hora de jogo, ou um pouco antes, lá acabou a gazeta do futebol molengão para 15 minutos diabólicos que mudaram por completo o encontro. Não foi à primeira, quando Gelson Martins tentou enganar Bolat transformando um cruzamento num remate (28’). Não foi à segunda, quando Bas Dost viu desviado pelo guarda-redes o toque final de uma grande jogada coletiva pela esquerda (31’). Foi mesmo à terceira. E pelo pé esquerdo de Alan Ruíz.

Aos 34’, o avançado argentino, que já tinha arriscado algo mais do que um amarelo num toque despropositado por trás em André Santos (que até foi campeão de juniores pelos leões, tendo deixado por lá muitos amigos), recebeu de cabeça de Gelson (que era dos mais pequenos mas nem por isso se deixou de agigantar), fletiu da direita para o centro em fintas e rematou sem hipóteses para Bolat. 87 segundos depois, estava feita a reviravolta: passe longo de Bryan Ruíz (de pé esquerdo), Marvin Zeegelaar aproveita o deslize de Anderson Luís e faz o cruzamento para a área (de pé esquerdo) e Bruno César, vindo de trás, dominou e atirou forte para o 2-1 (de pé esquerdo).

O resultado ao intervalo era justo. O Sporting tinha sido melhor em tudo, das coisas mais visíveis como remates (9-1), posse de bola (69%-31%) ou cantos (3-1) a outras menos refletidas como duelos ganhos (33-22), eficácia de passe (80%-56%) ou ocasiões criadas (7-1). E só não pecava por escasso porque só jogou como sabe pouco mais de 15 minutos. A verdade é que essa qualidade num lusco-fusco foi suficiente.

8

O Sporting apadrinhou a estreia do Arouca na Primeira Liga com uma vitória por 5-1 em Alvalade (três golos de Fredy Montero) e daí para cá ganhou todos os jogos que realizou com este adversário: 1-0, 5-1 e 3-1 em casa; 2-1, 3-1, 1-0 e 2-1 na condição de visitante.

Começou a segunda parte. E é necessário ser criativo para falar sobre ela. Vamos tentar então fazê-lo em duas linhas apenas, que chegam e sobram. Ou numa ideia.

(não é engano: o programa não nos deixa carregar no Enter e deixar um espaço em branco mas fica a ideia)

E foi isto. O Arouca fez quatro remates sem o mínimo perigo e desenquadrados. O Sporting nem um, nem sequer aquele disparo para amostra. Aos 75 minutos já se tinham falhado 187 passes. Nem é preciso dizer muito mais – deserto era ser elogioso.

Bem ou mal, a verdade é que, globalmente, os leões mereceram ganhar. Ganharam. E recuperaram mais dois pontos aos rivais diretos, Benfica e FC Porto. Faltam sete jornadas para o final da Primeira Liga, existem oito e sete pontos de atraso, respetivamente. Mas há duas jornadas, eram 12 e 11. É muito, muito difícil haver uma luta ainda a três. Quase impossível. Mas existe sempre uma primeira vez.