Foi o pior ataque químico dos últimos anos na Síria que, até ao momento, vitimou 72 pessoas, entre elas 20 crianças e 17 mulheres. Várias organizações humanitárias apontam um número ainda maior – acima de 100 mortos -, resultantes do ataque aéreo fatal nesta terça-feira de manhã em Khan Cheikhoun. A cidade no noroeste da Síria terá sido alvo de um ataque com recurso a gás tóxico, lançado por aviões que não estavam identificados. Para já, a comunidade internacional tem reagido com repúdio à investida e o Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu-se de emergência esta quarta-feira.

Relatos de vários meios internacionais dão conta de vítimas caídas no chão, no meio da rua, a contorcerem-se, sendo que vários feridos do ataque perpetrado por aviões não identificados apresentavam sinais de asfixia, vómitos e dificuldade em respirar. A isso soma-se palidez, transpiração e pupilas contraídas, sintomas por norma associados a ataques com gás tóxico. Há indicações de terá sido usado gás sarin, que a BBC diz ser altamente tóxico e 20 vezes mais mortal do que cianeto (foi usado em muitos suicídios de nazis durante a Segunda Guerra Mundial).

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A CNN conta que não sabe qual o tipo de gás que, de facto, terá sido utilizado. Só sabe que a maioria das vítimas sufocou até à morte. Caso o ataque tenha envolvido, de facto, gás sarin — tal como aconteceu na ofensiva de 2013, na capital síria –, as vítimas não terão morrido rapidamente, uma vez que as substâncias químicas, que atuam ao nível do sistema nervoso, demoram vários minutos até provocar a morte. O canal norte-americano explica que, à medida que o gás atua, as pessoas sufocam e os músculos que controlam a respiração desligam-se pouco a pouco. Esta terça-feira, e segundo relatos de um médico local, famílias inteiras morreram juntas, muitos com espuma na boca.

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Há imagens chocantes, de crianças sem vida e também de várias pessoas a serem assistidas com jatos de água, para tirar os químicos dos corpos. Imagens que não ficaram indiferentes aos olhos dos líderes mundiais. Na terça, dia do ataque, Donald Trump veio a público repudiar o sucedido, considerando “intolerável” o ataque alegadamente efetuado pela aviação do presidente Bashar al-Assad, o qual “não poderá ser ignorado pelo mundo civilizado”.

Em comunicado, Trump – assumindo que o responsável pelos ataques será Bashar al-Assad, presidente da Síria – disse que os “atos atrozes” de Assad são “consequência da debilidade e indecisão” demonstradas pelo seu antecessor, Barack Obama. A Turquia, por sua vez, também responsabilizou o regime sírio de Assad pela autoria do alegado ataque com recurso a armas químicas. Apesar das acusações, o governo sírio nega qualquer uso de armas químicas. A guerra civil dura há seis anos.

Outros ataques químicos que marcaram a história

O regime de Assad insiste que não realiza ataques químicos. No entanto, especialistas independentes dão conta do uso recorrente de armas químicas contra áreas civis. Em 2013, inspetores das Nações Unidas confirmaram que o gás sarin esteve por detrás do ataque que atingiu uma área agrícola perto de Damasco, no dia 21 de agosto. O ataque, que fez mais de um milhar de mortos, foi considerado por Ban-Ki-moon, na altura secretário-geral da ONU, o uso mais significante de armas químicas contra civis desde que Saddam Hussein as usou na cidade de Halaja, no Curdistão, em 1988.

O jornal Globo escreve que o uso de armas químicas começou por ter especial expressão durante a Primeira Guerra Mundial. Utilizado por tropas alemãs, inglesas e francesas, fizeram cerca de 90 mil vítimas mortais entre 1914 e 1917. Pesticidas e napalm foram também usados pelos EUA durante a Guerra do Vietname, os quais causariam deformações nos fetos de mulheres vietnamitas e cancro em soldados norte-americanos.

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Tantos anos depois, em 1995, o gás sarin foi usado no metro de Tóquio por um culto. Ao todo, 13 pessoas perderam a vida. Milhares ficaram feridas.