O eurodeputado socialista Francisco Assis não vê porque o primeiro-ministro não há de aproveitar a suposta vaga que chama por Mário Centeno no Eurogrupo e põe água na fervura. Num artigo de opinião publicado esta quinta-feira no jornal Público, o socialista crítico da liderança de António Costa afirma que é um “erro grave” não aproveitar a maré e prejudica a Europa, Portugal e a família política em que o PS se insere no contexto europeu. E que, se o convite for feito, Centeno (e Costa) tem o “dever moral de aceitar”.

“O primeiro-ministro afirmou que o convite dirigido a Mário Centeno para presidir ao Eurogrupo honra Portugal. Concordo inteiramente. Se, por um lado, tal convite significa o reconhecimento por parte das principais famílias políticas europeias do comportamento exemplar prosseguido pelo Governo português em relação aos nossos compromissos europeus, por outro traduz o reconhecimento das qualidades intelectuais e técnicas do ministro das Finanças“, começa por dizer o socialista, referindo-se às notícias que surgiram no fim de semana a dar conta de que o ministro português tinha sido sondado para substituir Jeroen Dijsselbloem no cargo de topo dos ministros das finanças dos países da zona euro.

António Costa, numa entrevista à Rádio Renascença esta terça-feira, confirmou que “foi feita a sondagem” e disse que esses contactos eram “prestigiantes para o nosso país”, mas não deu grande saída à ideia, considerando que Centeno deve concentrar-se nos dossiês que tem em mãos.

“Numa fase em que temos vários dossiês a negociar com o Eurogrupo, não é uma prioridade a candidatura de Mário Centeno. Julgamos que nesta fase é útil o ministro das Finanças ter uma margem de liberdade maior de movimentação no Eurogrupo”, disse.

Mas o eurodeputado socialista não vê a questão da mesma maneira. Lembrando que “a presidência do Eurogrupo em nada colide com o normal exercício de funções governativas em Portugal”, Assis diz que “há o dever moral de aceitar” o convite, ou pelo menos de alimentar a ideia, já que ela surgiu. “A ascensão de uma personalidade como Mário Centeno — um homem que representa bem os valores e as preferências do centro-esquerda europeu — à presidência do Eurogrupo não poderia deixar de ter efeitos muito benéficos. Esta recusa quase imediata de tal convite parece-me assim um erro grave, com nítidos prejuízos para a Europa, para Portugal e para a família política em que o PS se insere”, escreve.

Francisco Assis termina o texto, contudo, a dizer que admite “existirem razões” que desconhece. Mas a pressão está feita.

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