A tapioca chegou e há quem lhe chame o novo pão saudável por não ter glúten, gordura, açúcar ou lactose. Os crepes à base de farinha de mandioca são a nova tendência do momento, graças a nomes como Vanessa Martins e Rita Pereira que esgotaram a Tapioca da Terrinha das prateleiras dos supermercados. A iguaria tradicional das regiões norte e nordeste do Brasil começa, lentamente, a fazer parte da alimentação dos portugueses do pequeno-almoço ao lanche, passando pelo almoço e jantar. Mas o que é que a tapioca tem de tão especial? É simplesmente a fécula ou o amido da mandioca hidratado, que ao ser espalhado e aquecido numa frigideira se aglutina e se transforma numa espécie de crepe prático e rápido de fazer.

Tudo indica que até Pedro Álvares Cabral chegar ao Brasil em 1500, a tapioca — também conhecida por beiju — era a base da alimentação do Brasil. A receita foi criada pelos índios tupi através da raiz mandioca que cresce em vários tipos de terreno, incluindo solos pobres e locais em seca severa. Ainda que muito conhecida no Brasil, com direito a uma feira que lhe é inteiramente dedicada, a tapioca ganhou fama nos últimos tempos em Portugal pelos seus benefícios quando consumida antes e após a prática de exercício físico. “A goma de tapioca pura é rica em hidratos de carbono de fácil digestão, sem gordura, baixo teor de sódio e livre de glúten. Creio ainda que o índice glicémico elevado é benéfico para a prática de exercício físico”, diz Anna Arany atrás do balcão da nova Tapiocaria que abriu com a sócia Inês Cabral em Lisboa.

Abrimos a Tapiocaria há cerca de um mês porque percebemos que os portugueses estão mais conscientes do que comem e procuram uma alternativa saudável para as suas refeições”, diz Anna Arany ao Observador.

A Tapiocaria está aberta todos os dias no Mercado de Campo de Ourique das 10h às 23h. (foto: Henrique Casinhas/Observador)

A loja de venda de tapiocas ocupa uma localização de fácil acesso no Mercado de Campo de Ourique e prepara vários recheios salgados (ou doces) para comer à mão ou no prato com puré de batata-doce ou salada. Em plena azáfama de almoço, lá está Anna Arany a peneirar a farinha de tapioca gentilmente para uma frigideira fria, com um passador pequeno, e a calcá-la ligeiramente com uma espátula até passar de uma cor branca opaca para um branco mais translúcido. Isto é, crocante e fina. “Pelas suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, a tapioca apresenta vários benefícios para a saúde: aumenta a imunidade, retarda o envelhecimento e alivia a hipertensão“, diz Arany que veio para Portugal há 10 anos para abrir o Noori mas nasceu no Brasil onde comeu tapioca desde pequena. O problema são os recheios que nem sempre são muito saudáveis como a nutella, ovos moles e doce de leite com coco.

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A tapioca é uma refeição prática que pode pedir e ir comendo pelo caminho, sem perder tempo. (foto: Henrique Casinhas/Observador)

Benefícios da tapioca

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Pré-treino – por ser uma fonte de hidrato de carbono simples e de rápida absorção fornece bastante energia antes do treino. Aliás, comer uma tapioca de banana com canela e linhaça pode ser uma ótima alternativa antes do exercício.
Pós-treino – como o produto tem alto índice glicémico auxilia na absorção de outras proteínas. Uma alternativa muito rica é uma tapioca de peito de peru, fiambre ou queijo branco.

A boa notícia é que as tapiocas de frango fumado e de guacamole com salmão ou camarão estão na lista das mais vendidas e o aspeto não granulado, sem fendas, fala por si. Os preços variam entre os 4,30€ (simples) e os 8,90€ (no prato) e a lista de benefícios é longa: a sua composição está cheia de cálcio, selénio e ácidos gordos do tipo ómega 3 e 6. A tapioca é ainda rica em ferro, vitaminas do complexo B e ácido fólico.

Anna Arany nasceu no Brasil, onde teve contacto com a tapioca desde pequena. Veio para Portugal abrir o Noori Sushi. (foto: Henrique Casinhas/Observador)

A tendência em Portugal

Ambas as sócias não negam que o aumento da procura por tapioca, em Portugal, foi impulsionado pela cobertura mediática da tapiocaria Beiju — o primeiro projeto de restauração da atriz Rita Pereira — que abriu no primeiro piso do Amoreiras Shopping em dezembro. O restaurante com fabrico próprio tornou famosas as tapiocas cor-de-rosa, cuja goma é hidratada com sumo de beterraba, e ainda vende sacos de um quilo e de 500 gramas por 11€ e 6€, respetivamente.

Há já muitos anos que sou super fã de tapioca, desde a primeira vez que fui ao Brasil. Felizmente o meu grande amigo brasileiro e agora sócio Rodrigo Saldanha ia-me trazendo o preparado, cada vez que vinha a Portugal. Um dia fartou-se de vir carregado de sacos de tapioca e pão de queijo (algo que também quero vir a ter na Beiju) e propôs-me abrirmos a nossa própria tapiocaria”, conta Rita Pereira no seu site pessoal.

A famosa tapioca cor-de-rosa da Beiju é hidratada com sumo de beterraba e pode ser recheada com opções doces ou salgadas. (foto: Divulgação)

Para o projeto, Rita Pereira convidou uma chefe brasileira de gema e criou receitas inspiradas na gastronomia portuguesa: bacalhau desfiado, azeitonas e pimento vermelho (4,9€), gorgonzola, pêras e vinagre balsâmico (5,1€), chouriço, queijo amanteigado e cebola caramelizada (5,5€) e até presunto, mozzarella de búfala, tomate e pesto (5,1€). As longas filas de espera levaram à abertura de quatro lojas nos centros comerciais Oeirasparque, Alvalade, Campo Pequeno e na Cidade Universitária. Para festas ou eventos, a atriz também tem bicicletas que pode contratar. “Sabia que pouco ou nada havia de tapioca em Portugal e seria com certeza uma aposta ganha”, escreve Rita Pereira.

Da tapioca à crepioca

Mas o título de primeira tapiocaria artesanal de Lisboa pertence à Tapioca Oca, na Avenida Dom Carlos I, que inaugurou a 8 de agosto de 2016. “Quando soube que Portugal tem uma das maiores taxas de doenças celíacas na Europa, mudei-me de Londres para abrir este projeto com a minha amiga e sócia Lyla Lima”, diz Viviane Soares ao Observador. É lá que pode provar a crepioca, um crepe de goma de tapioca e ovo, com recheios doces e salgados como queijo e goiabada (4€), brigadeiro (3,50€) e húmus e agrião (5€). “No início, algumas pessoas não estavam familiarizadas com o conceito mas posso afirmar que 95% das pessoas voltam”, diz Viviane.

A crepioca é uma das variedades mais adoradas da tapioca. Na Tapioca Oca, pode comê-la em forma de pizza com molho de tomate, queijo e rúcula. (foto: André Marques/Observador)

Se está a pensar experimentar tapioca pela primeira vez, esqueça os garfos e coma o preparado à mão, pelas bordas como se fosse um guardanapo, enquanto está quente. Se deixar arrefecer, a massa tem tendência a ficar mais seca e dura. Para contrariar o processo, os especialistas em tapioca recomendam que compre a goma hidratada como, por exemplo, a Tapioca da Terrinha (à venda no Jumbo por 7,98€/kg) e que a volte a hidratar com algumas gotas de água. “Os portugueses estão a alimentar-se de forma cada vez mais saudável”, adianta a sócia. Uma tapioca feita com duas colheres de sopa de massa tem, em média, 70 calorias, mas deve ter em conta o recheio e a quantidade que ingere.

A Tapioca Oca, em Santos, está aberta de terça a sábado das 10h às 20h. Aos domingos, fazem almoços especiais de feijoada brasileira. (foto: André Marques/Observador)

A par da Tapioca Oca, o Deli é um dos mais recentes espaços no Príncipe Real que oferece crepiocas para começar o dia. Há com frutas e granolae mascarpone e crumble de chocolate (3,5€). Já o Nicolau, também em Lisboa, tem variedades de tapioca com queijo e fiambre (3,5€) e tapioca de mozzarella e tomate (4€). Em Matosinhos, o Chef Tapioca e o Açaí Concept já têm preparados desta goma saudável com outros recheiros doces e salgados: banana e doce de leite (2,5€) ou atum com tomate (3,9€).